A criação de um novo perfume é um processo demorado, que envolve combinações de centenas de ingredientes e repetidas tentativas e erros até chegar a uma fórmula que agrade ao nariz exigente do perfumista — e, mais importante, encante o consumidor final.

Buscando inovar nesse processo criativo, o grupo paranaense Boticário, maior varejista de cosméticos do país, resolveu invocar a deusa grega do perfume, Phylira — que no mundo real empresta seu nome a um sistema inédito de tecnologia de Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês) criado pela IBM em parceria com a alemã Symrise, uma das principais fornecedoras de fragrância da empresa.

O resultado são os primeiros perfumes do mundo desenvolvidos com a ajuda de AI. Em duas versões, eles chegam ao mercado em meados de 2019, e ainda não têm nome nem preço definido. Todo o mistério faz parte da estratégia de marketing dos produtos, que miram o grupo de consumidores da geração Y ou millennials (os nascidos de 1980 a 1995).

Para chegar às novas formulações, o sistema Phylira foi previamente alimentado com milhões de dados referentes a fórmulas, ingredientes, história da perfumaria e taxas de aceitação do consumidor. Com a precisão e capacidade de processamento que só um “cérebro artificial” é capaz de entregar, Phylira buscou e cruzou os dados que mais se aproximavam ao que O Boticário queria.

O resultado foram duas combinações de fragrâncias que levavam um pouco de frutas, flores, doces, especiarias, madeiras e até notas inusitadas, como pepino e leite condensado. Como o Phylira não tem limitação de combinações, pode usar ingredientes que às vezes passam despercebidos por um perfumista por serem muito incomuns.

Outra surpresa foi a redução do tempo de desenvolvimento dos novos produtos, que ocorreu em apenas seis meses, enquanto um processo convencional pode demorar até três anos, em grande medida devido às centenas de repetições de combinações para testes olfativos.

“Essa economia de tempo permite que os perfumistas, o time de marketing e de pesquisa e desenvolvimento se dediquem muito mais às combinações finais, concluindo a fragrância que chegará para o consumidor. Ao otimizarmos o processo, teremos profissionais mais disponíveis para fazer o que máquina não faz, que é a lapidação do produto final, que demanda sentimento e emoção”, afirma o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Boticário, Tiago Martinello.

Se os perfumes feitos com ajuda de inteligência artificial vão agradar os clientes da marca, ainda é um mistério, já que o lançamento só ocorre ano que vem. Mas a recepção do mercado pode ser determinante na decisão da empresa de incorporar ou não a solução hightech em seu processo produtivo.

“É uma tecnologia que está disponível por um tempo limitado para a gente de forma exclusiva e conforme os resultados e a estratégia de negócios avaliaremos se será incorporada. Afinal, inovação tem que trazer resultado”, avalia o executivo.

(Por Exame – Vanessa Barbosa) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Boticário, Tecnologia, IBM,