A gigante de cosméticos Natura acaba de conquistar o selo “The Leaping Bunny”, que certifica empresas que não empregam qualquer tipo de teste em animais ao longo de seu processo produtivo. A chancela é dada pela ong internacional Cruelty Free (livre de crueldade, em inglês), defensora da proteção animal que já atestou cerca de 1 000 empresas cosméticos, produtos de higiene e limpeza em todo o mundo. Agora, a Natura é primeira empresa brasileira a ter essa certificação.

Os esforços não são recentes. Ainda nos anos 1990, a empresa deu iniciou uma busca por métodos alternativos para testar a eficácia e a segurança de seus produtos. Foi em 2006 que, além de garantir a eliminação desse tipo de teste dentro dos próprios muros, conseguiu garantir também que seus fornecedores estavam livres da prática. A compra da britânica The Body Shop em 2017, empresa de cosméticos que historicamente defende o fim dos testes de cosméticos em animais, ajudou a fortalecer a causa. Juntas, as duas marcas conseguiram colher 8 milhões de assinatura em prol do banimento desse tipo de teste para levar à ONU.

Hoje, a empresa utiliza softwares que conseguem predizer, por meio de simulações computacionais, os riscos associados aos seus ingredientes e à combinação entre eles. A base é um banco de dados sobre a estrutura das moléculas e a reação resultante do contato com a pele humana. Mais recentemente, a empresa começou a utilizar também modelos de pele e de córnea produzidos por impressoras 3D – as chamadas bioimpressoras, que permitem investigar as chances de alergia ou irritação associadas aos produtos. Ao todo, são 67 metodologias alternativas para garantir a segurança das fórmulas.

A despeito de seu pioneirismo no país, a empresa surfa na onda que se criou em torno da temática do bem estar animal, que ganhou força nos últimos anos com o ativismo crescente de vegetarianos e veganos. Em 2013, quando a União Europeia proibiu a venda de cosméticos testados em animais, a pressão sobre as empresas aumentou. “Isso fez com que, ao mesmo tempo, as empresas buscassem novas formas de testar seus produtos e respondessem a um interesse crescente dos consumidores sobre maus tratos a animais”, afirma Monica Engebretson, representante da Cruelty Free Internacional nos Estados Unidos.

Embora a disponibilidade de metodologias alternativas aos testes em animais esteja em franco crescimento, não é tarefa fácil garantir a segurança das fórmulas sem as cobaias. Isso porque grande parte do portfólio da Natura está baseado em ativos vegetais – muitos deles de uso inédito pela indústria cosmética, a exemplo do óleo de patauá, uma palmeira amazônica.

“Toda vez que um novo elemento entra no nossa lista de ingredientes, temos que lançar mão de metodologias que não são comumente usadas pela maioria das empresas, e isso é mais desafiador”, afirma Roseli Melo, diretora de inovação e segurança do consumidor da Natura.

O compromisso contra os testes, porém, fecha portas aos negócios. Diferentemente do que ocorre na Europa, na China e em outros países asiáticos, eles são obrigatórios – e Natura & Co (grupo que reúne a brasileira Natura, a britânica The Body Shop e a australiana Aesop) não atua por lá enquanto o governo chinês não se convencer da eficácia das metodologias alternativas.

No Brasil, a legislação nacional não restringe a prática, mas sete estados criaram leis para coibi-la. São Paulo foi o primeiro, depois que um grupo de ativistas invadiu um laboratório Instituto Royal, em São Roque, e resgatou 178 cachorros beagles, alegando maus tratos em prol de testes cosméticos e farmacêuticos.

(Por Exame) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Natura