O cartão de crédito é um meio de pagamento prático e já bastante popular, mas que se não bem utilizado, pode trazer problemas para as finanças dos consumidores que não se organizam. Um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que um terço (33%) dos usuários de cartão de crédito no país não sabe ao certo o quanto gastaram na fatura do último mês de maio. A pesquisa foi realizada em 12 capitais das cinco regiões brasileira. Foram consultadas 800 pessoas, com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais.
“O cartão de crédito proporciona praticidade, pois concentra em um único meio diversos gastos realizados. Para quem é disciplinado, isso pode ser um facilitador na hora da organização. Já para os que usam o limite do cartão como extensão da própria renda e faz compras impulsivas, ele pode virar uma dor de cabeça difícil de ser solucionada no curto prazo”, disse o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
De modo geral, 39% dos brasileiros que utilizaram o cartão de crédito ao menos uma vez em maio notaram aumento no valor da fatura, ao passo que para 35% ela se manteve igual em relação aos meses anteriores. Apenas 20% relataram diminuição. Considerando o percentual dos que têm ciência do valor desembolsado no período, a média foi de R$ 1.136,47.
Um dado que inspira preocupação é que dentre os usuários de cartão de crédito em maio, 21% caíram no chamado ‘rotativo’, que é quando o consumidor opta por pagar um valor inferior ao total da fatura ou nem mesmo pagar esse valor. Os que quitaram a fatura integralmente em maio somam 76% dos entrevistados.
A pesquisa ainda mostra que o uso do cartão já não se limita a compra de itens de alto valor, que geralmente precisam ser parcelados. As despesas correntes de todo mês também têm sido feitas a crédito. As compras em supermercados foram o tipo de aquisição mais realizada no cartão, citadas por 63% dos entrevistados. Já em segundo lugar ficam os remédios, lembrados por 47%. As roupas, calçados e acessórios ficam somente em terceiro lugar com 35% de citações. Completam o ranking de principais gastos os combustíveis (33%), idas a bares e restaurantes (33%) e compra de produtos de beleza, como perfumes, cremes e maquiagem (15%).
De acordo com o levantamento, no último mês de maio, 42% dos brasileiros recorreram a alguma modalidade de crédito, sendo que o cartão de crédito foi justamente o mais utilizado, citado por 36%. Em seguida, aparecem o crediário ou carnê (9%), cheque especial (7%), empréstimos (6%) e financiamentos (3%). Os que não se utilizaram de nenhuma modalidade somam 58% dos consumidores.
A baixa utilização na tomada de crédito pode estar relacionada à dificuldade na sua obtenção. De acordo com o levantamento, mais da metade (51%) dos entrevistados considera ‘difícil’ ou ‘muito difícil’ ter acesso a empréstimos e linhas de financiamentos. Um dado que reflete o cenário mais restritivo no mercado, é que dois em cada dez (18%) consumidores brasileiros tiveram crédito negado ao tentarem fazer parcelar uma compra em algum estabelecimento comercial, principalmente por estarem com o CPF restrito (8%) ou com problemas na comprovação de renda (5%).
O quadro de dificuldades fica ainda mais evidente quando os entrevistados são questionados sobre as finanças pessoais. A sondagem mostra que cresceu de 80% para 84% o percentual de brasileiros que disseram se encontrar em uma situação de ‘aperto financeiro’. De modo geral, 35% declararam estar ‘no vermelho’, ou seja, sem condições de pagar todas as suas contas, enquanto 49% se encontram no ‘zero a zero’, isto é, até conseguem honrar com seus compromissos financeiros, mas terminam o mês sem sobras no orçamento. Apenas 11% estão em situação confortável e com dinheiro sobrando no bolso.
Diante de um cenário mais complicado, a sondagem apurou que, em 30 dias, passou de 49% para 57% o percentual de consumidores que tinham a intenção de cortar gastos ao longo de junho, contra apenas 5% que planejavam gastar mais do que em meses anteriores. Os fatores que pesaram para a decisão mais cautelosa são o aumento de preços (46%), o alto grau de endividamento (17%) e o desemprego (16%).
“A recuperação econômica está mais lenta do que o esperado e isso acaba influenciando o consumo das pessoas, que até cresceu no último ano, mas ainda não compensa as perdas acumuladas no auge da crise. A superação desse quadro, requer uma retomada mais vigorosa da economia, com queda do desemprego e elevação da renda, fatores que ainda devem demorar para se concretizar”, analisou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
(Por Mercado&Consumo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM