O ano de 2002 mudou completamente a minha vida quando iniciei minha carreira profissional como comprador internacional e tive o primeiro contato com o mercado chinês. Visitei a China pela primeira vez em 2004 e fiquei fascinado.

Então decidi que, para obter sucesso no meu trabalho, precisaria viver mais de perto essa realidade. Me mudei para Shenzhen em definitivo em 2009. Antes disso, morava no Brasil e viajava para a China de quatro a seis vezes por ano.

No princípio, minha visão sobre o país era muito ruim pois tinha uma vida muito difícil, mas com o passar dos anos e com as vitórias pessoais e profissionais, tudo mudou.

Morar aqui é, sem dúvida, melhor do que morar em muitos lugares, até mesmo que na Europa. O único problema que nós empresários estrangeiros enfrentamos é a censura na internet.

Tudo aqui é bloqueado, do Google às redes sociais, pois o governo chinês não admite e não autoriza vazar informações ou entrar informações que não estão de acordo com o comunismo e suas diretrizes.

Fora isso, é impossível existir outro país melhor em segurança, tecnologia e praticidade. Nos dois últimos anos, a China vem se atualizando e hoje utilizamos nosso smartphone para quase 100% das atividades.

Aqui, quase ninguém carrega dinheiro em espécie e podemos fazer tudo pelo celular utilizando aplicativos. Ou seja, nenhum outro país no mundo tem essa facilidade. Por isso digo que a China é o futuro e está a anos-luz de muitos países.

Também é, com certeza, a nação com as maiores oportunidades de negócios no mundo. Se você é empreendedor, não existe outro país com mais chances de sucesso que a China.

Fui me preparando para começar a negociar com chineses, mas tive que me adequar rapidamente porque não tinha margem para erros no início da empresa, em 2009. Descobri que era melhor me apresentar como Luis e não Rodrigo.

Como aqui não se pronuncia a letra ‘r’, me chamavam com dificuldade de ‘Lodligo’. Já Luis eles conseguem pronunciar bem e associam à marca Louis Vuitton. Os chineses gostam muito de grifes e isso me ajudou na comunicação, que era muito precária.

Tudo era muito difícil e a base principal foi sempre ser muito direto e decidido nas negociações. Claro que aprender o idioma é fundamental. Não adianta falar inglês e achar que tudo será resolvido. Em mandarim, você consegue ir mais fundo e ter mais vantagens para os negócios.

Sempre digo que a Feira de Cantão (Canton Fair em inglês), a maior da Ásia, é a melhor oportunidade para os empresários brasileiros fazerem negócios. Para se ter uma ideia, a 123ª edição encerrada no início deste mês alcançou US$ 30,08 bilhões (mais de R$ 106,5 bilhões) em faturamento e negócios para exportações, o maior dos últimos 4 anos.

De acordo com o porta-voz da Canton Fair, Xu Bing, a feira atraiu 90,6 mil compradores de países e regiões diversas, alta de 3,86% em relação ao ano passado. Já o volume de negócios das exportações com países da Europa, Estados Unidos e América Latina aumentou 8,8%, totalizando US$ 9,67 bilhões (R$ 34,2 bilhões) e representando 32,2% do total.

Fundada na primavera de 1957, o evento acontece em um dos maiores centros de exposições do mundo, em Guangzhou, em abril (edição de primavera) e em outubro (edição de outono). É uma feira multissetorial que engloba todo o tipo de produto e é dividida em 4 fases.

O complexo abrange uma área de 1,1 milhão de metros quadrados, o equivalente a mais de 100 campos de futebol, e por isso não dá para visitar todos os 60 mil estandes. Por este motivo, é imprescindível ter um direcionamento feito por uma empresa especializada.

Participei da Feira de Cantão em diversas ocasiões desde 2005 e posso dizer que essa é uma oportunidade única de encontrar, em um só lugar, inúmeras novidades em produtos de diferentes setores da indústria e fazer importantes conexões de negócios.

Após quase 60 anos de desenvolvimento, a Canton Fair é hoje uma das mais importantes ferramentas para a promoção e expansão do comércio internacional chinês em todo o mundo e a participação dos brasileiros na feira já é tradicional.

A cada ano que passa milhares de empresários vêm do Brasil e diversos países do mundo para a China na busca de novos fornecedores e parceiros para seus negócios e com os avanços econômicos entre os dois países é possível esperar que essa busca se torne ainda mais frequente.

A Winpoint Technology, empresa na qual sou presidente, levou 17 empresas brasileiras para a edição de outono da Feira de Cantão no ano passado.

Em 2018 trouxemos 26 empresas do Brasil que atuam em diversos segmentos como automobilístico, eletrodomésticos, iluminação, áudio e imagem, segurança residencial e escolas técnicas de automação, com as quais iremos em conjunto com empresas chinesas oferecer materiais didáticos para evolução e desenvolvimento da robótica no Brasil.

Além da Canton Fair, ocorre em Hong Kong, na mesma época, a Hong Kong Eletronics Fair e a Global Sources Consumer Eletronics. São feiras voltadas para eletrônicos e produtos finais e ajudam muito quem procura novidades no mundo eletrônico e automação. A Global Sources Consumer Eletronics, por exemplo, teve uma área especial destinada à robótica.

Para nós, empresários brasileiros na China, as feiras trazem bons negócios e a oportunidade de conhecer e desenvolver novos segmentos e clientes.

Mas, acima de tudo, nos trazem a proximidade com cada um desses visitantes já que buscamos os executivos brasileiros nos aeroportos, fazemos as reservas nos hotéis, andamos pelas feiras direcionando-os para os negócios de seus interesses e negociando preços para futuramente viabilizar um acordo, visitamos as fábricas e acompanhamos os embarques dos produtos garantindo 100% de qualidade desde a saída da mercadoria aqui da China.

Tudo isso com nossa equipe de tradutores e representantes. Este contato diário nos proporciona criar um vínculo de amizade e confiança, base principal para se construir um bom negócio.

A dica que dou para brasileiros que querem fazer negócios com a China é que sejam mais diretos, pois chineses não gostam de pessoas que falam demais. Eles não gostam de números no papel e prospecções milionárias.

Aqui o mais importante é o resultado e o tempo parece ser diferente pois tudo acontece muito rápido. Um dia você tem uma super ideia e na semana seguinte vê sua ideia no mercado. Então, é preciso ter cuidado ao falar demais e ter parceiros que possam realmente se comunicar com facilidade. Informação é poder e quem detém informação e conhecimento tem poder de conquistar tudo que deseja.

Rodrigo Luis é sócio-diretor da Winpoint Technology e mora em Shenzhen, na China, desde 2009

(Por Pequenas Empresas e Grandes Negócios) varejo, núcleo de varejo, retial lab, ESPM, China