Na hora de comprar ovos de Páscoa, mais do que prestar atenção aos preços, os consumidores devem olhar com cuidado para o peso dos produtos. Em grandes redes de São Paulo as prateleiras são ocupadas, em sua maioria, por itens com peso menor do que 200 gramas. O valor, no entanto, continua semelhante aos vistos em anos anteriores, relatam clientes.
O aposentado José Aurélio Domingos, 73 anos, procurava ovos de Páscoa para presentear familiares. “Não vejo diferença de preço desde o ano passado, só de peso. Parece que estão cada vez menores”, relata. Entre um Alpino, da Nestlé, de 350 gramas e um Kit Kat, da mesma marca, e com 313 gramas, ele optou pelo primeiro. Ambos custavam R$ 39,99.
A prática de diminuição na gramatura não é irregular, alerta o supervisor de fiscalização do Procon-SP, Bruno Stroebel. Errado é quando a marca omite esta informação ou não deixa ela suficientemente clara ao consumidor. “Sempre que isso acontece deve ser especificado na embalagem, incluindo em porcentagem qual foi a redução”, diz.
Os chocolates brancos e com 70% de cacau da Arcor, por exemplo, passaram de 220 gramas para 150 gramas. Já a Mondelez, fabricante dos produtos da Lacta, alterou as linhas Diamante Negro e Laka (de 500g para 474g, 215g para 202g, 320g para 300g e de 196g para 183g), Lacta ao leite (196g para 183g) e Shot (de 236g para 223g).
A pesquisadora em alimentos do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Paula Bortoletto, afirma que os casos envolvendo muita diferença entre peso e preços dos ovos de Páscoa acontecem todos os anos.
“Incentivamos os consumidores a denunciar quando não houver a sinalização adequada na embalagem”, afirma.
O pesquisador associado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Cláudio Considera, constatou situação semelhante: produtos com gramatura baixa e preços semelhantes aos anos anteriores. “A redução não é estranha porque as pessoas estão com poder de compra reduzido. Mas a sinalização nem sempre está suficientemente clara”, comenta.
Ele ressalta que a comparação é prejudicada pelo fato de ovo de Páscoa ser um produto sazonal. “Se a alteração de peso se dá em um biscoito, é muito mais fácil calcular o custo benefício por ser um produto que o consumidor acompanha e está presente em seu dia a dia. Ele sabe preço e peso. Com a Páscoa é mais difícil. Quem vai lembrar os números do ano passado? Isso pode virar uma armadilha”, diz.
Outra diferença observada nas gôndolas são os pesos “quebrados”: grande parte dos ovos possuem 196g ou 313g, por exemplo, ao invés de 200g e 300 ou 350g. Na avaliação de Ana Paula Bortoletto isso dificulta o cálculo no momento da compra. “Sem um padrão, o consumidor não consegue calcular direito o peso e preço entre as marcas. Isso acaba induzindo ao engano pois a comparação fica prejudicada”, explica.
A empresária Fernanda Costa Ribeiro, 40 anos, decidiu comprar chocolates apenas para as crianças. “Mais do que isso não dá. Percebemos que os preços estão os mesmos, nem os brinquedinhos mudam muito, mas o tamanho mudou sim, estão todos bem pequenos”, reclama.
Readequação. De acordo com a assessoria de imprensa da Arcor, o ajuste na gramatura de seus ovos foi feito para “padronização do mercado”. Já a Mondelez, em nota, informou que a diferença de tamanho ocorreu pela alteração do portfólio interno de produtos, ou seja, a mudança de peso deu-se nos “brindes” oferecidos no interior dos ovos. Na prática, a empresa tirou de dentro do ovos os bombons, que são maciços, por ovinhos, que são ocos. Para a empresa, a decisão faz parte de um ajuste de demanda dos consumidores.
A Nestlé/Garoto confirma que alguns de seus produtos tiveram o peso reduzido de acordo com “tendências do mercado e do comportamento do consumidor”. No entanto, a fabricante não informa quais os itens alterados.
Na avaliação do coordenador do núcleo de estudos e negócios do varejo da Escola Superior de Propaganda e Marlketing (ESPM), Ricardo Pastore, esse movimento acontece por duas razões. A primeira tem a ver com o comportamento dos consumidores. “Isso é herança da crise. As pessoas ainda estão com restrições de orçamento e tendem a não exagerar nas compras”, comenta.
O segundo motivo refere-se a otimização dos processos industriais. Com peso menor, o gasto com embalagem e transporte também diminui. “São produtos que só tem esse valor até a Páscoa. Depois disso, o que não vende fica encalhado e vira um problema para o varejo. Sendo assim, comércio e indústria fazem o possível para não sobrar nada e também atender as expectativas do consumidor”, diz.
(Por Estadão – Ana Neira) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Pascoa