Anos de eleição trazem uma volatilidade natural a mercados sólidos. Contudo, 2018 não é um ano comum para o Brasil e o País tampouco pode se definir como sólido, tanto política como economicamente, para que essa tal volatilidade não intimide consumidores e empresas. Esse sentimento não é à toa: depois de dois anos da pior crise econômica de sua História, o Brasil espera por um ano bem movimentado. Neste ano de eleição, nunca especulou-se (e esperou-se também) por um outsider – aquele candidato que não tem uma atuação típica na política.
Flávio Rocha, atual presidente da Riachuelo, pode ser esse candidato. Ao menos ele mesmo se coloca à disposição para uma possível candidatura. “Se for necessário, eu serei um soldado”, disse o executivo à NOVAREJO, durante evento de varejo que ocorre neste fim de semana no Guarujá, em São Paulo.
A candidatura de Rocha já é esperada pelo mercado desde o ano passado, quando o executivo liderou a criação do Movimento Brasil 200, que reúne um grupo de empresários que debatem questões que podem ajudar o Brasil a crescer. Segundo Rocha, já são 200 mil associados ao movimento, que já realizou mais de 30 eventos pelo País e tem agendados outros 30 nos próximos meses. O mercado já coloca o Movimento como plataforma de candidatura de Rocha.
Cada vez mais, o executivo se posiciona em eventos e redes sociais de forma política e é inegável seu desejo de concorrer ao cargo. Em 1994, o executivo tentou concorrer, mas desistiu. Diante dessa possibilidade, Rocha está sendo chamado pelo mercado de candidato da “nova direita” – nessa lista também estão João Amoêdo e Bolsonaro. Aliás, o executivo foi cogitado como vice de Bolsonaro, mas o próprio Rocha descartou essa possibilidade.
Para Rocha, o País precisa de candidatos que são liberais na economia, mas conservadores nos valores. Esse posicionamento do executivo tem causado furor a quem se posiciona mais à esquerda, mas também àqueles que estão mais à direita. Ele foi muito criticado pelo empréstimo que a Riachuelo tomou do BNDES, de mais de R$ 1,4 bilhão.
Se quiser ser candidato, o executivo tem até o dia 7 de abril para filiar-se. O partido? “Existem muitas opções”, afirmou nesta entrevista à NOVAREJO. O mercado afirma, contudo, que o executivo está bem próximo ao MBL e PRB. Nesta entrevista, Rocha fala sobre o Brasil, sobre política e afirma estar disponível para a candidatura.
NV – O que é preciso fazer para impulsionar o País e o varejo?
Flávio Rocha: Se eu fosse um presidente de uma empresa chamada Brasil, um dos indicadores de gestão é a liberdade econômica. Um País próspero é um País livre e, nesse quesito, o Brasil está perdendo feio. Um país livre é um país próspero. A geração de empregos e riqueza está ligada à prosperidade e à liberdade econômica. Precisamos construir um País receptivo, onde seja fácil empreender e gerar riqueza. O Brasil tem um governo pesado, que se apropria de praticamente 50% da riqueza que o seu povo produz. É um país difícil, com leis demais, hiperregulado – cada nova lei é uma ressalva ao livre mercado. É possível tirar o País do fim da lista dos países menos livres com quatro reformas: reforma Trabalhista, Tributária, Previdenciária e do Estado, que podem ser aprovadas em poucos meses.
NV – O senhor está à frente do Movimento Brasil 200. Ele é sua plataforma de candidatura?
O Movimento visa devolver o Brasil ao seu verdadeiro dono, que é o povo. Hoje o Brasil não é do povo, mas de 1% da população que forma uma casta burocrática, que se apropriou do Estado em benefício próprio. O Brasil não tem dinheiro para encher um tanque de uma viatura policial, mas tem um cheque de R$ 1 milhão para privilegiados encastelados. Isso é consequência de um governo que tem um País. O governo deveria servir ao País e não o contrário.
NV – O senhor vai se candidatar à Presidência da República?
Se for necessário, eu serei um soldado, mas não acho que será necessário, porque o Brasil 200 é uma forma de puxar o debate, de intervir, puxar a orelha de candidatos e cobrar assuntos que estão sendo abandonados, mas que são importantes para grande parte da população. Uma candidatura para marcar posição não é necessária, porque o Movimento Brasil 200 faz isso melhor. Contudo, se por acaso a coisa continuar no crescimento que está tendo e for necessário que alguém dê a cara para bater, a minha está à disposição. E eu serei o soldado dessa luta.
NV – O senhor se considera o outsider que o mercado espera?
Acho que realmente é necessário que alguém tenha a mentalidade ligada ao livre mercado, à liberdade econômica. A mentalidade empresarial pode ensinar muita coisa ao governo. Em uma empresa, a gestão está preocupada com o cliente e preocupada em deixá-lo feliz. Na Riachuelo, a gente chama a nossa cliente de Dona Maria. Se a Dona Maria
estiver feliz e encontrar o que ela gosta e o que ela pode pagar, a empresa prospera, os empregos são gerados, o fornecedor fica feliz, o investidor e acionista ficam felizes. E por que no Governo não é assim? Por que o Governo não está preocupado com o aluno da escola pública, com o paciente do hospital púbico, com o cidadão que precisa de segurança? O Estado quando chega a um tamanho e alcança um gigantismo, ele esquece que seu propósito é servir, mas ele volta-se para dentro de si e dos seus privilégios.
NV – O senhor já afirmou que o Brasil precisa de um líder conservador. De que conservadorismo está falando?
Estamos deixando para trás, assim espero, um ciclo da política que não vai deixar saudades, da política de agigantamento do Estado. Mas não é só isso. As ideias ruins na economia sempre vêm acompanhadas de ideias devastadoras dos valores da sociedade – essa é a lógica da esquerda, bagunçar para governar. É fundamental que haja um contraponto, tanto para a economia como para a preservação dos valores que o povo preza, que são os valores da família. É necessário que exista essa coerência. Precisamos de um liberal na economia e um conservador nos costumes.
NV – Essa questão de conservadorismo nos costumes e família não é antiquada hoje, tendo em vista a mudança no comportamento das pessoas, que prezam por suas liberdades…
Pelo contrário. Isso não é caretice e nem moralismo. É apenas indignação, porque a esquerda opta deliberadamente para a estratégia de bagunçar para governar. Isso deu errado. Há uma demanda por ordem. O povo está carente e cansado de desordem.
NV – Qual partido o senhor acredita que conversa com essas ideias e que pode ser o seu partido de candidatura?
Não faltam partidos no Brasil: são 35 e alguns já têm alguma coerência com as minhas ideias. Mas precisa ser um partido que acredita na liberdade econômica e livre iniciativa e poucos partidos têm esse compromisso. Tenho recebido muitos convites que personificam esse projeto político.
NV – Quando o senhor tomará uma decisão?
Temos até o dia 7 de abril para filiação, mas se a coisa não se encaminhar para uma candidatura de fato, eu não vou deixar o Movimento. Estamos com a cabeça de dever cumprido por cobrar e colocar em discussão temas esquecidos por grande parte da classe política.
NV – A Riachuelo cresceu em 2017. Quais são as perspectivas para 2018?
Em 2017, mostramos a força das ideias boas, com um programa econômico novo, que é a redescoberta das ideias liberais – esse já é um passo importante no sentido de trazer um pouco mais de bom senso e isso já surtiu efeito: em um ano o Ibovespa atingiu seu recorde, a inflação caiu, os juros caíram, o Risco Brasil caiu. Isso mostra que o Brasil pode se reencontrar com a sua prosperidade. A Riachuelo está comemorando o melhor ano da sua história, com crescimento de dois dígitos na sua receita em um ano em que completamos 70 anos. 2018 começa mais forte e estamos muito otimistas.
NV – Quais os planos para a Riachuelo em 2018?
Estamos voltando a ter um plano agressivo de expansão e um plano de reformas visando a adaptar as lojas ao novo modelo logístico, de uma gestão mais eficiente de estoque. Nosso e-commerce começou ano passado integrado ao estoque. 2018 será o grande ano da história da Riachuelo.
(Por NoVarejo – Camila Mendonça) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, RIachuelo, Flávio Rocha