Antes mesmo que o termo disrupção tivesse sido criado pelo professor de Harvard Clayton Christensen, com o pretexto de tornar mais palpáveis em conceito alguns dos impactos causados pela tecnologia, nós já sentíamos alguns dos benefícios que a inovação nos traria. Foi difícil admitir no início dos anos 90 que uma carta, com toda a atenção, carinho e prazo de entrega que demanda, se tornaria obsoleta com o surgimento do e-mail, eficiente, frio e rápido. E hoje, duas décadas depois, embora as pessoas não troquem mais tantas cartas, sabemos que aquela caixa de correio do nosso bairro não será removida tão cedo. A tecnologia não existe para excluir, e sim complementar, interligar.
É tempo de se reinventar. A teoria de Chistensen muitas vezes é confirmada na prática. Um empreendedor tem um insight, trabalha para construir seu sonho e lança uma startup que oferece um serviço eficiente, rápido e acessível, baseado na tecnologia de um aplicativo. A ideia é boa, o app tem uma interface amigável e, pouco tempo depois, milhões de pessoas já usufruem dele.
Não é preciso de muito para captar as polêmicas atuais: Uber x taxistas; Whatsapp x operadoras de telefonias; Airbnb x redes de hotelaria; Netflix x canais de TV por assinatura. São diferentes segmentos, propostas, divergências e resoluções, mas todos pertencem à mesma discussão. Afinal, quantas brigas são necessárias para que se perceba que a tecnologia não exclui modelos de negócios consolidados, e sim complementa ideias para proporcionar a melhor experiência possível ao consumidor em seu dia-a-dia? Claro que tudo dentro de uma regulamentação que atenda às novas necessidades e hábitos de uma sociedade que vive conectada e cada vez mais exigente.
É tempo de se reinventar e perceber, ainda que tardiamente, que o poder está nas mãos de quem compra. Estão fadadas ao fracasso – ou dias cada vez mais difíceis – as empresas que optarem pela cegueira à inovação. Recentemente, a nova ferramenta de ligação do WhatsApp inflamou discussão no segmento de telefonia móvel. Se com as mensagens instantâneas, o SMS praticamente caiu em um silencioso esquecimento pelos usuários, qual seria a reação inicial das maiores operadoras do país ao verem a ferramenta de ligação surgir? A princípio bastante adversa. Passado o primeiro impacto, a resposta veio. Por que não inovar se aproveitando da própria disrupção do WhatsApp? E é dessa forma que nascem os primeiros planos das operadoras com benefícios exclusivos voltados a quem usa o app, a preços acessíveis.
Surfando a mesma onda, Easy Taxi e 99 Taxis são outros dois ótimos exemplos de empresas que já se mostram abertas a usufruir da própria disrupção para continuar crescendo. Discretamente, as duas maiores empresas que oferecem aplicativos de taxi no país se estruturam para absorver a disrupção do Uber e não perdem tempo com um debate que se arrasta há meses.
As pesquisas de satisfação presentes ao término de cada corrida não serão apenas uma simples ferramenta que muitas vezes é ignorada pelos usuários, mas sim algo de extrema utilidade. Em breve, passageiros poderão avaliar e dar notas aos veículos, serviço e conforto. Os melhores avaliados no ranking formarão uma elite. Tal aposta pode se tornar uma grata surpresa estratégica para competir com o Uber.
É preciso ser disruptivo dentro da disrupção. Os líderes de mercado de ontem poderão ser os mesmos de amanhã, mas devem hoje compreender que as inovações acontecem de forma muito mais rápida do que acontecia há 15 anos. O impacto causado pelo e-mail não anulou a carta e as transformações comportamentais foram – e ainda estão sendo – sentidas gradualmente. Hoje, o efeito de uma inovação é sentido com maior velocidade. Estar preparado para pensar além deve ser o norte de todos que pretendem continuar em atividade. A tecnologia se reinventa, mas não exclui, e o consumidor é o grande beneficiado.
Por Claudio Santos – IBM Industry Academy Member