Franquias de alimentação apostam em lojas mais enxutas, novas marcas – como a Mango (na foto) – e em food trucks. É para reduzir custos e aumentar a presença no mercado

A rede Divino Fogão agora oferece toda a variedade de comida da fazenda que há no seus tradicionais bufês a quilo também no prato.

Já a Seletti, que comercializa “comida saudável”, aposta em uma nova marca de snacks e smoothies que, além de portáteis, atendem o consumidor muito além do almoço ou jantar, a qualquer hora do dia.

Por sua vez, a rede Big X-Picanha transformou suas hamburguerias em lanchonetes móveis –o conhecido food truck- para deixá-las ao alcance da conveniência do cliente.

Mas o que leva redes já consolidadas e com participação significativa no mercado em que atuam, a redesenhar seus modelos de negócio e partir para formatos compactos?

É uma tendência – principalmente no mercado de alimentação fora fora do lar. Há cerca de quatro anos, não somente franquias, mas também varejistas de outras especialidades, como supermercados, viram a necessidade de revisar esses modelos, tanto por mudanças socioeconômicas quanto de comportamento do consumidor. É o que observa Filomena Garcia, sócia do Grupo Cherto, especializado em franchising.

Desenvolver unidades mais compactas,com menor custo operacional,  explorar outras propostas do mesmo negócio, ficar mais próximo das necessidades do público-alvo -ou, principalmente, entrar em regiões e cidades onde o atual modelo não caberia- são algumas das estratégias das redes para garantir seu espaço e manter a rentabilidade.

“Os ajustes no mercado pedem modelos mais estruturados. E os formatos express, quiosque ou móveis são novas possibilidades de ponto comercial ou de ganhar capilaridade”, afirma Filomena.

MENOS CUSTOS, MAIS PRESENÇA

A Divino Fogão, com experiência de mais de 30 anos em operação de restaurantes self-service, é um exemplo disso. Com 184 unidades espalhadas em shoppings de cidades acima de 400 mil habitantes, a rede lança agora, após três anos de estudo, uma loja com 35m2 para oferecer opções à la carte.

Os custos elevados de aluguel e taxas dos shoppings levaram a desenvolver um modelo enxuto para otimizar gastos, de acordo com Emiliano Pereira, diretor de operações. Com isso, o custo de abrir uma franquia da rede caiu de R$ 1 milhão para algo entre R$ 400 mil a R$ 600 mil, dependendo do ponto.

“Vamos levar a operação para bairros ou cidades com até 100 mil habitantes, entrando em supermercados, lojas de conveniência, galerias ou prédios comerciais”, diz. Após um ano de testes, a loja-piloto foi inaugurada no fim de junho no Carrefour da Av.João Dias, no Morumbi.

A rede iria abrir 26 lojas este ano. Com a crise, decidiu reduzir para sete, com a expectativa de crescer entre 12% e 15% – menos que os 20%, em média, dos últimos anos.

Há quase dez anos no mercado de culinária saudável, e após três de estudo de mercado, a Seletti, que deve fechar o ano com 40 lojas, acaba de enveredar pelo segmento de lanches naturais e smoothies na mesma linha, com a marca Mango.

Como se fosse um modelo compacto da marca mais antiga, o novo formato, segundo Luiz Felipe C.Campos, diretor e idealizador da Seletti, tem como premissa não depender apenas do “universo shopping”, operando também em mercados, postos de gasolina, academias ou até anexo a algum restaurante da marca.

“São quiosques independentes de produtos saudáveis que ficam em áreas de passagem para quem quer fazer um lanche rápido. Diferente da Seletti, é uma proposta para o dia todo”, afirma, lembrando que o formato ainda permite uma redução no custo de aluguel de até 20%.

Interessados em abrir uma franquia Seletti, desembolsam hoje R$ 445 mil ante cerca de R$ 140 mil da Mango. Já funcionam atualmente três pilotos, em dois postos de gasolina e no shopping Market Place (na foto de abertura). A perspectiva é abrir mais cinco lojas ainda em 2015.

“Investir em outros modelos permite diluir custos. Como o segmento de sanduíches cresce dois dígitos por ano, independente da crise, estamos na contramão dela”, afirma.

A rede Big X Picanha baseou-se em pesquisas do setor food service para lançar os modelos food truck e delivery em 2014. Um levantamento indicou que, a exemplo dos americanos, 40% dos brasileiros têm interesse em consumir bons produtos mas com comodidade.

Com 15 anos de mercado e 47 hamburguerias, o Big X investiu R$ 1,5 milhão no novo formato de lanchonete móvel para atender cidades com mais de 100 mil habitantes, em áreas com alta concentração de prédios comerciais e residênciais.

Para tanto, de acordo com a diretora Rita Poli, uma van circula por São Paulo e várias cidades do Interior, onde funcionam quatro lojas delivery. A expectativa é fechar 2015 com 12 novas operações do tipo devido ao custo menor de investimento, que varia entre R$ 280 mil e R$ 300 mil, ante R$ 650 mil da loja tradicional.

“Queremos levar o formato para jogos de futebol, shows, feiras, e eventos voltados especialmente para food trucks, para mostrar nossos produtos a consumidores que curtem novidades gastronômicas mas não tiveram oportunidade de conhecer a marca”, afirma.

REDESENHO

Lyana Bittencourt, sócia-diretora do Grupo Bittencourt, afirma que os comportamentos e necessidades distintos de consumo motivam as redes a passarem por um processo de redesenho, como estratégias multicanal e multiformato para se adequarem.

Chegar em mercados novos e com alcance menor, além de um novo conceito, demanda um cardápio reduzido – mas com potencial de permitir ao franqueado bom retorno sobre o investimento.

Portanto, o mais inteligente, segundo ela, é criar modelos direcionados a comportamentos e culturas distintas de cada região, usando o máximo da estrutura da franquia. Ela cita como exemplo a Kopenhagen, que atinge, e bem, todo tipo de público só vendendo chocolate: com a marca própria, nas classes A/B, com a Brasil Cacau, na C, e com a Lindt, nas classes AA.

“É dar oportunidade ao franqueado de crescer com marcas do mesmo grupo para potencializar sua estrutura”, afirma. Mas é preciso ter cuidado. “Não se deve pensar em um redesenho para remediar situações que não deram certo no passado – principalmente em tempos de crise.”

MINIMERCADOS

Grandes redes de super e hipermercados já vêm remodelando seus negócios para atender aos variados perfis de clientes e às novas necessidades do consumidor há mais tempo – caso do GPA, que em 2011 lançou o primeiro dos seus formatos de proximidade, o Minimercado Extra, com seus calendários promocionais e preços competitivos.

Em 2014, foi a vez do Minuto Pão de Açúcar, com layout baseado em modelos europeus e foco na experiência de compra.

Ambos os modelos, já consolidados na Europa e nos EUA, serviram para atender os clientes que procuram praticidade, preferem comprar em quantidades menores e maior frequência de compra sem precisar ir longe.

A proposta é que a loja seja a ‘despensa’ do cliente, de acordo com o Grupo Pão de Açúcar.

Segundo o GPA, o formato proximidade, que conta com 290 lojas em São Paulo e Pernambuco, representou 42% das vendas líquidas do grupo só nos primeiros três meses de 2015, e é o que deve ter o maior número de aberturas nos próximos anos.

A exemplo do Pão de Açúcar e do Extra, o Walmart e o Carrefour também apostaram no formato compacto. O primeiro, com a bandeira TodoDia. Já o segundo, com os modelos Express e Bairro.

(Por Diário do Comércio) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM