Não foi um segundo trimestre tão ruim quanto poderia ter sido para o Grupo Pão de Açúcar, dadas as condições econômicas difíceis para o setor de consumo. Mas também não há muito o que celebrar. O que já estava funcionado, continua a dar resultados (Cnova e Assaí); o que estava mal, melhorou um pouco (Extra) e o que não ia bem, piorou mais (Via Varejo).
GPA é a primeira varejista a informar resultado no trimestre, sinal de que, para alcançar algum resultado, o setor pode ter que intensificar ajustes e cortes. A empresa informou que a implantação de mudanças na maneira de vender móveis e produtos como celular está sendo acelerada, o que pode ajudar a recuperar vendas na Casas Bahia e Ponto Frio.
Segundo dados publicados ontem, houve alta de 6% nas vendas líquidas do GPA (6,6% ao se descontar efeito da Copa do Mundo e Páscoa), número considerado “muito fraco” e 4% abaixo da estimativa (ajustada) pelo Morgan Stanley. A Corretora Concórdia considerou os números “satisfatórios”. Na área alimentar, a alta foi de 7,6% e, em não alimentar, de 5,3%. Aberturas de lojas ajudaram a sustentar esses indicadores.
O aumento nas vendas do negócio alimentar ocorreu “principalmente em função da inauguração” de lojas, segundo nota do GPA, presidido por Ronaldo Iabrudi. Foram 141 aberturas de supermercados, hipermercados e lojas de atacado nos últimos 12 meses. O grupo já fez mais aberturas neste ano do que 2014 – inaugurações podem afetar rentabilidade, mas aceleram vendas. Entre todos os negócios, foram 70 aberturas de janeiro a junho, versus 46 no ano anterior.
Nas lojas em operação há mais de um ano (que exclui o efeito de aberturas), as redes Extra, Pão de Açúcar e Assaí registraram alta de 3% – acima das expectativas do mercado, segundo o Credit Suisse, porém “bem abaixo da inflação”, na visão do Morgan Stanley.
No consolidado das operações do GPA, as vendas dessas lojas mais antigas caíram 2,9%, afetadas principalmente pela operação de bens duráveis (Via Varejo).
Na Via Varejo, houve queda de 23,5% na venda de lojas com mais de um ano de operação (versus alta de 6,8% no ano anterior), desempenho considerado “mais decepcionante do que o esperado”, segundo o Credit Suisse.
Para todas as lojas, novas e antigas, a Via Varejo registrou retração de 21,7% na receita líquida. A queda cai para 20,9% ao de descontar o efeito de fechamento de 46 lojas em acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica. “O principal destaque negativo foi a queda enorme de vendas da Via Varejo”, afetada pela base de comparação de 2014, com a Copa do Mundo, diz o Morgan Stanley. Em lojas físicas, empresa informa que ganhou participação de mercado.
Um dado divulgado dá a noção sobre efeitos da má fase do setor sobre a Via Varejo. Dez pontos percentuais da queda de 21,7% referem-se à redução na venda de TVs sobre 2014, diz a rede. Portanto, a outra metade da queda pode ser atribuída à redução na demanda com a atual crise no consumo.
Melhores desempenhos, comparativamente ao restante da empresa, foram obtidos com a operação da Cnova (sites da Casas Bahia, Ponto Frio e Extra) e Assaí, negócios que já mostravam maior resiliência. Rede Assaí cresceu 25,6% e Cnova, 122% de abril a junho.
Há sinais de que medidas estratégicas na área alimentar podem começar a dar resultados. A companhia tem feito reformulação no modelo do Extra, após desaceleração nas vendas em 2014, e informou ontem que há “tendência de recuperação do fluxo de clientes”.
Ações PN do GPA fecharam ontem em alta de 6,5%, na bolsa. Via Varejo subiu 2,49%, Na semana passada, os dois papéis registraram desvalorização.
(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM