Abilio Diniz, ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA), tornou-se acionista minoritário das operações do Carrefour Brasil. O contrato foi assinado na Europa e o anúncio está previsto para esta quinta-feira. O Estado apurou que o empresário, presidente do conselho de administração da gigante de alimentos BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão), desembolsou cerca de € 600 milhões por 10% de participação na subsidiária brasileira da rede varejista francesa, que foi avaliada em € 6 bilhões.
A fatia de Abilio Diniz no Carrefour Brasil poderá dobrar nos próximos dois anos, chegando a até 20%, segundo fontes a par do assunto. No curto prazo, poderá chegar a 12%. “Um novo investidor ou o próprio Abilio poderá aumentar sua participação no negócio”, disse a fonte ao Estado. Procurados, a Península, gestora de investimentos da família Diniz, e o Carrefour não comentaram o assunto.
Os planos traçados pela matriz francesa para o Carrefour no Brasil são ambiciosos. A subsidiária brasileira deverá abrir o capital (IPO, em inglês) em até três anos, negociando em Bolsa, no mínimo, 25% dos papéis.
Abilio Diniz fará parte do conselho da companhia – ele terá dois assentos – e participará ativamente de comitês estratégicos para promover a expansão da rede varejista no Brasil, mas não exercerá cargo de gestor. Fontes de mercado afirmaram que o empresário quer influenciar não só a gestão, mas também as áreas financeiras e fiscais da companhia, segunda maior varejista do Brasil.
No Brasil, o Carrefour também é dono do Atacadão, braço de atacarejo da rede varejista, responsável por cerca de 70% dos lucros da companhia.
De acordo com fontes de mercado, o executivo Antonio Ramatis, ex-GPA e agora responsável pelas estratégias de investimento da Península, estaria cotado para assumir a gestão do negócio. O executivo Roberto Mussnich deve ser mantido à frente do Atacadão.
O retorno de Abilio Diniz ao varejo de alimentos estava sendo negociado há alguns meses, mas o empresário sempre negou a aproximação com o grupo francês. No início deste ano, Abilio Diniz adquiriu 3% das ações do Carrefour na França, por cerca de US$ 1 bilhão, por meio da Península, que também detém 3% na BRF, 6% da Anima Educação, 5% na Dufry, junto com a gestora Tarpon.
Diniz já é um dos principais acionistas minoritários da rede varejista francesa, segundo fontes de mercado. Entre os principais acionistas do Carrefour, estão a família Moulin, que em abril passado, adquiriu 6,1% no Carrefour S/A, por meio da Motier Holding, terceira maior acionista da varejista, atrás do grupo de private equity Colony Capital LLC e da holding do empresário francês Bernard Arnault, dono do Carrefour.
Nos últimos meses, Abilio Diniz e o presidente global da rede francesa, Georges Plassat, tiveram alguns encontros dentro e fora do Brasil, mas, de acordo com fontes de mercado, as negociações para se tornar acionista minoritário foram tratadas diretamente com Bernard Arnault, controlador do Carrefour. “A relação entre os dois empresários é mais antiga, antes mesmo de Plassat assumir o negócio”, disse a fonte.
Rivalidade. Agora, como acionista minoritário relevante do Carrefour, Abilio vai bater de frente com seu principal rival, Jean-Charles Naouri, dono do Casino e controlador do GPA, que foi fundado por Valentim Diniz, pai de Abilio, em 1948. “Há um quê de revanchismo com a entrada de Abilio como acionista e o mercado especula que o movimento do Carrefour será mais belicoso”, afirma uma fonte de mercado. “Por outro lado, o mercado entende que a entrada de Abilio no negócio é natural, faz parte do movimento do Carrefour de buscar um investidor forte para tornar a rede mais competitiva, antes do IPO. O Carrefour já era rival do Pão de Açúcar antes de o Abilio chegar”, disse a fonte.
Abilio foi assessorado pelo escritório Barbosa Müssnich & Aragão, Itaú BBA e PwC.
Para lembrar. Antes de deixar o Pão de Açúcar, fundado por sua família em 1948, Abilio Diniz travou longo embate com Jean-Charles Naouri, do grupo Casino, que se tornou sócio do GPA em 1999. Em 2006, Abilio firmou acordo com o grupo francês, que injetou capital no GPA em troca de ações. O contrato garantia ao Casino a preferência na compra de ações ordinárias do GPA, com direito de assumir em 2012 o comando da rede. Mas, em 2011, Abilio Diniz tentou promover uma fusão com a operação global do Carrefour, sem consultar os sócios do Casino. A briga se acirrou e só acabou em setembro do ano passado, quando Abilio concordou em sair, desde que não precisasse esperar um período para investir novamente em varejo.
(Por Estadão) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM