No ano de mais fraco desempenho para o varejo na última década, grandes redes definiram planos de inaugurações para ampliar a base de pontos ainda em 2014 e tentar proteger participação de mercado. Via Varejo, Magazine Luiza e Cia Hering devem abrir mais unidades de outubro a dezembro do que em todo o ano até setembro. Os planos com menos inaugurações estão no varejo de vestuário.

Para os últimos três meses do ano, as maiores cadeias de varejo de capital aberto anunciaram aberturas totais de 318 lojas, 12% acima do número de inaugurações no mesmo período de 2013, volume recorde nesta década. Os dados foram coletados pelo Valor nos relatórios de resultados dos últimos anos das cadeias de varejo.

O número previsto para este ano equivale a cerca de três inaugurações por dia até o fim de dezembro. Quatro grupos estimam aberturas em maior volume do que no fim de 2013 – Grupo Pão de Açúcar (área alimentar), Via Varejo, Magazine Luiza, e Raia Drogasil. Há cinco redes com previsão de menos inaugurações no último trimestre em relação a 2013- Renner, Riachuelo, Marisa, Cia Hering e Lojas Americanas – mas na soma total, o volume de aberturas supera o do fim do ano passado.

Analistas questionam a lógica estratégica de as cadeias abrirem novas lojas às vésperas do Natal. Neste período, a preocupação central está em acertar na logística, abastecer lojas evitando rupturas e reduzir estoques. Fica para segundo plano as ações de treinamento e contratação de mão de obra. “A equipe de logística é a que mais sofre quando as aberturas dão um salto”, diz um diretor.

“Planejávamos antecipar isso, mas não foi possível adiantarmos na magnitude que esperávamos”, afirmou Christophe Hidalgo, vice-presidente de finanças do GPA. “Não é que decidimos adiar para o fim do ano, a questão foi localizar as oportunidades certas”. O GPA prevê de 190 a 200 novas lojas neste ano (incluindo Via Varejo). Em 2013 foram abertos 128 pontos.

De janeiro a setembro foram 96 aberturas do GPA, portanto, faltando cerca de 100 para atingir a previsão. No quarto trimestre de 2013, foi inaugurada a metade disso (50 pontos). Até meados de novembro foram cerca de 120 inaugurações, com base nos anúncios já feitos ao mercado.

Com previsão agressiva de aberturas no fim do ano, o Magazine Luiza calcula 20 inaugurações no último trimestre (foram três de janeiro a setembro) superando o número de 17 aberturas em 2013. Sessenta lojas serão reformadas no ano. “Nosso foco foi Copa do Mundo, e deixamos aberturas para últimos meses”, disse o diretor-superintendente Marcelo Silva.

Novas lojas precisam ser abertas porque ajudam a diluir custos fixos, ampliam participação de mercado e “puxam” expansão da receita de vendas. Pontos antigos, em operação há mais de um ano, têm tido desempenho fraco em alguns casos, até com queda nas vendas. Sem novos pontos que “puxem” o índice geral, as rede sentiriam mais a retração no consumo.

Analistas ainda ressaltam efeitos negativos da expansão numa velocidade que possa elevar despesas, sem diluição dos custos fixos.

Cada novo centro de distribuição aberto no varejo eletrônico, por exemplo, só se “paga” se abastecer pelo menos 30 lojas. Mas cada novo ponto aberto precisa, por anos, ser “sustentado” pela loja mais antiga. É a loja “velha” que dilui os custos fixos da nova. O risco aí é que, quanto pior o cenário econômico, ou quanto maior for o gasto nos novos pontos, mais tempo leva para a loja se “pagar”.

“Aberturas são importantes para ampliar base de lojas de forma a reduzir pressão nos custos em determinadas regiões onde as cadeias têm poucos pontos. Mas em anos difíceis, as aberturas acontecem mais em formatos que se provaram vencedores ou se busca menos aberturas com ganhos de eficiência interna”, disse Manoel de Araújo, sócio-diretor da consultoria Martinez de Araújo.

Atrasos em inaugurações de shopping e dificuldades para obter licenças de lojas de rua explicam, em parte, adiamentos ao longo do ano. Incertezas econômicas e necessidade de proteger caixa também pesam na decisão. O índice da Fecomercio SP que mede o nível de investimento das empresas atingiu baixo patamar em agosto e setembro e voltou a subir em outubro (veja no quadro acima).

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM