O consumidor está abandonando marcas mais caras e tradicionais, nos supermercados, e optando pelas mais baratas e de qualidade similar. A diferença de preço entre as marcas chamadas premium e as outras, intermediárias, ultrapassam os 100% em alguns produtos, como sabonete, sabão em pó, detergente, achocolatado, açúcar refinado e molho pronto de tomate. Em produtos básicos, como arroz, feijão e óleo de soja, a diferença geralmente é menor, mas na soma da compra, no caixa do supermercado, o consumidor pode economizar até 50% se preferir as marcas mais baratas.

É importante, porém, se ater à qualidade do produto e experimentar primeiro antes de comprar em grande quantidade, pois, daí, como diz o ditado popular, “o barato pode sair caro”. Essa tendência vem se verificando nos supermercados nos últimos meses devido à inflação maior e o comprometimento da renda das famílias com outras despesas. Além da migração para marcas mais baratas, o consumidor em geral está preferindo embalagens econômicas, de tamanho maior, e concentrando as compras no início do mês, após o pagamento, diz o diretor regional da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Marcos Leandro Tozi. “Percebemos que as famílias de renda menor voltaram a fazer a compra do mês e reduziram a compra de itens que não são considerados básicos”, segundo Tozi. Fazendo a compra mensal, é possível controlar melhor a despesa dentro do orçamento. O diretor regional da Apas observa, porém, que para o consumidor é difícil deixar de comprar aquele produto com o qual já se acostumou, por isso prefere mudar de marca e continuar levando-o para casa.

O tecelão aposentado José Paschoal costumar optar pela marca mais barata quando a diferença de preço é muita. O sabão em pó, por exemplo, ele compra de uma marca que custa cerca de R$ 4. O preço do mesmo produto, da marca mais tradicional e conhecida, era R$ 7. Segundo Paschoal, não há problema em mudar de marca, desde que a qualidade não seja muito inferior. Ele, no entanto, não vê diferença na maioria dos produtos. “No açúcar refinado, o preço é quase o dobro de uma marca para outra e, para mim, é a mesma coisa”, diz o aposentado.

A assistente social aposentada Célia Gimenes verifica os preços dos produtos a cada compra e é seletiva. Em alguns produtos, ela leva os de preços intermediários, como sabão e outros produtos de limpeza, mas para outros itens não abre mão da marca, como macarrão e margarina. “A gente escolhe pelo preço, mas não tudo”, observa Célia. O contador Ademir Barbosa não costuma fazer compras com frequência, mas, em alguns produtos, leva em conta o preço e a qualidade. Vinhos, por exemplo, prefere os nacionais, “que são tão bons quanto os argentinos e chilenos”, mas para biscoito e refrigerante não muda as marcas que são as mais tradicionais.

A fidelidade aos produtos que considera de qualidade é importante para a fisiologista Érica Rizzato. Ela diz que faz questão de levar para casa itens das marcas mais respeitadas do mercado. “Aquelas que já conheço, não troco por outras”, afirma Érica, principalmente no que se refere à alimentação.

Migração

O gerente da unidade Rodoviária da rede Paulistão, Edinaldo Leite Pereira, diz que detectou desde o ano passado aumento da migração de marcas. “A diferença nos produtos básicos, como arroz, chega a 30%, o que é significativo para o bolso do cliente.” As marcas intermediárias acabam ganhando espaço nas prateleiras e muitas delas superam em vendas as marcas tradicionais, observa o gerente.

Em produtos como maionese, molho de tomate, sabonete e detergente, a variação supera os 100%. Pereira avalia que o dinheiro mais curto do consumidor se refletiu também na queda de vendas de itens que não são de primeira necessidade. “O creme dental, por exemplo, não dá para ficar sem, mas o antisséptico bucal é algo que as pessoas podem cortar da lista de compras.”

O gerente de supermercado reconhece que os consumidores de mais idade mantêm vínculos com as marcas tradicionais,- talvez resquício de décadas anteriores, quando havia poucas disponíveis no mercado -, mas que as gerações mais novas costumam experimentar e mudar de marca mais facilmente.

A seleção de produtos, por preço, nos supermercados abre espaço para o crescimento de empresas de alimentos regionais. Nesse aspecto, é bom para a economia da região, considera o diretor regional da Apas, Marcos Tozi. Pereira cita a presença de produtos regionais no supermercado, como embutidos, café, leite, laticínios, refrigerante e doces. “A entrega é mais rápida e, geralmente, têm preço menor”, diz o gerente.

Ofertas de semiprontos crescem nas prateleiras

O tempo menor das pessoas em casa, por causa do trabalho e estudo, ampliou a oferta de alimentos prontos e semiprontos nos supermercados. A facilidade aliada à praticidade fizeram o consumidor comprar mais congelados, massas, suco pronto e vegetais processados, entre outros produtos. O diretor regional da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Marcos Leandro Tozi, diz que isso ocorre há algum tempo, mas vem se consolidando, com aumento do espaço para esses produtos nas prateleiras e setor de congelados.

Tozi lembra que há dez anos, o suco pronto e o leite de soja ocupava espaço bem menor nas prateleiras do que atualmente. Nesse período, marcas e sabores novos surgiram, dando opção de compra ao consumidor. Também houve valorização dos hortifrútis, alimentos diets e orgânicos, o que mostra que as pessoas vem dando mais atenção a uma alimentação equilibrada e saudável, analisa o gerente regional da Apas.

Dados da Associação indicam que em 2013 houve aumento de 25% na venda de suco pronto, das marcas mais baratas. Para Tozi, os supermercados têm que automaticamente atender a demanda para esses produtos, seguindo a preferência do consumidor. Outra tendência, que se verifica atualmente, é a oferta crescente de produtos para animais de estimação, a chamada linha pet, segundo Tozi. (M.R).

(Por Varejista) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM