As relações comerciais brasileiras mostram que o País está no caminho certo, o crescimento, contudo, a demanda é suprida por itens importados, e não somente por itens fabricados no Brasil. De acordo com o resultado dos Coeficientes de Exportação (CE) e Importação (CI) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) iniciou-se o processo de desindustrialização do País.

“Podemos perceber que setores como o de calçados e vestuário hoje, praticamente são inexistentes. A maioria ou mudou de país e exporta para o Brasil, ou fechou as portas e possibilitou a entrada de produtos com etiquetas made in China, made in Taiwan [fabricado na China ou em Taiwan]”, aponta o diretor do departamento de comércio exterior da Fiesp, Roberto Giannetti.

Na indústria em geral, o aproveitamento da expansão de 4% no consumo aparente do Brasil é resultado de 64,1% das importações e 35,9% da produção nacional. Ou seja, de tudo o que é consumido hoje no País, mais de 60% é proveniente do exterior.

O dado é mais negativo se analisado pelo setor de vestuário, que na comparação do primeiro trimestre de 2010 e o mesmo período deste ano, teve uma expansão do consumo de 6,6% e os importados correspondem a 74,3% da demanda total, contra 25,7% do assistido pela produção interna.

Segundo Roberto Giannetti, alarmante é o caso do setor de máquinas e equipamentos para fins comerciais e industriais que ampliou, na mesma análise temporal, a demanda em 18,5% e tiveram 82,4% do aproveitamento suprido por empresas do exterior, frente a 17,6% da indústria brasileira.

“Isto acontece não somente nestes setores, mas nos setores de calçados, autopeças, material eletrônico e aparelhos de comunicação, entre outros. Podemos ver que dos 33 setores analisados, 17 tiveram incremento das importações no período”, frisa.

As importações, por sua vez, crescem em volume, “estamos pela primeira vez na história comprando etanol”.

A participação dos importados sobre o consumo aparente (CI) em relação ao mesmo período do ano anterior subiu de 19,9% para 21,6%. No mesmo período, a alta do coeficiente de exportação (CE) saiu de 17,1% para 17,5%, o que o colocou no segundo pior recorde desde o início da série histórica.

A objetivo, segundo Giannetti, é que o CE mantenha crescimento e volte aos patamares de 25%, enquanto que o CI segue na tendência de estabilidade em 22%, caso passe disso e chegue aos 25% será “uma situação de pânico”.

Balança

“Mesmo com esta situação, a balança comercial brasileira está positiva em US$ 3 bilhões no primeiro trimestre de 2011. Fato que ocorre pelo aumento nos preços das commodities no mercado internacional, e não pelo aumento na quantidade exportada”, argumenta Giannetti.

Segundo o diretor da Fiesp, a balança comercial de produtos manufaturados, deve encerrar este ano com déficit de US$ 100 bilhões, proveniente de exportações em US$ 89,3 bilhões e importações de US$ 187 bilhões em 2011.

“Nossa balança é frágil, somos controlados pelos preços internacionais, pois somos exportadores de produtos agrícolas, demos a sorte deles estarem em constante crescimento, o que proporciona um superávit para o País. Se não fosse a alta nos preços, hoje o País teria um déficit na casa dos US$ 7 bilhões. No entanto, esse cenário pode ser invertido na próxima semana. Não podemos ter uma economia internacional volátil, temos que ampliar a pauta de exportações”, ponderou Giannetti.

Para o executivo, é necessário que o governo tome medidas que realmente elevem a competitividade do produto brasileiro e que garantam ao exportador um retorno para que este possa investir sem medo de ir a falência.

“Hoje vemos que é necessário um investimento nos setores, mas, sobretudo, é preciso uma redução da carga tributária, principalmente na folha de pagamentos. O País precisa incentivar seus produtores, caso contrário, seremos produtores de commodities e compradores de manufaturados. E esta situação pode se tornar cada vez mais crítica, a ponto de não conseguirmos inverter a situação que hoje estamos”, afirma.

Giannetti acredita ainda que uma reforma tributária como um todo não irá acontecer, mas a desoneração na folha de pagamentos das indústrias deve ser o maior e mais importante passo do governo para tentar manter as portas das empresas abertas.

“A reforma tributária virá em fatias, ninguém pode ter a ilusão de que será feita de uma vez, que todos os poderes e governos vão sentar e falar amém para todas as propostas, deixar que interesses fiquem de lado para o bem do setor industrial. Um por um, cada item da reforma será estudado e sairá do papel, leva tempo, mas esta será a solução”, relata.

Ele comparou o custo da mão de obra chinesa ao da brasileira e afirmou, “hoje temos no mínimo 15% de custos na folha de pagamentos superiores aos da China. Isso é inviável para um País que pretende crescer e competir”.

Por DCI