Filas de horas, escassez de produtos básicos, segurança militar, esteiras rolantes que não funcionam, lojas fechadas e muitas caras amarradas dos consumidores: eis o retrato do Hipermercado Bicentenário, na capital Caracas. O que era para ser a maior vitrine do sucesso da estatização da produção e distribuição dos bens de consumo acabou abarrotado de pessoas que esperam em longas filas para comprar basicamente óleo, farinha, papel higiênico, leite, margarina e frango – produtos que precisam ser estocados, pois não se sabe quando estarão novamente disponíveis nas prateleiras.

Nesta terça-feira, Ynda Caballero, de 28 anos, estava na fila com a filha de dois anos. Ela disse que o mercado estava cheio devido à chegada de alguns produtos que costumam faltar. O açúcar tinha acabado de chegar e seus fardos estavam expostos em uma área aberta, sem que houvesse tempo nem mesmo para colocá-los nas gôndolas. Na ausência de papel higiênico, muitas famílias optam por guardanapos. O frango já estava acabando. A reportagem de VEJA não flagrou pessoas comprando produtos que poderiam se encaixar na categoria de supérfluos, apenas carrinhos repletos de itens básicos.

Para José Carrasquero, professor de ciência política das Universidades Católica e Simón Bolívar, o desabastecimento é fruto, principalmente, da má administração do governo. “O governo estatizou muitas empresas alimentícias, que hoje não operam satisfatoriamente. Em janeiro, o índice de escassez atingiu 28%, o mais alto da história”, diz Carrasquero. “De que adianta os preços serem subsidiados se não há produtos nos mercados?”, questiona o professor, referindo-se aos preços mais baixos dos supermercados estatais.

uís Vicente León, presidente da consultoria privada Datanálisis, uma das maiores do país, afirma que o governo tentou suprir sua ineficiência na produção e na distribuição de alimentos com importações, mas fracassou. “A Venezuela não é uma boa pagadora e não tem mais crédito internacional, ninguém quer vender nada para nosso governo”, explica. Para ele, se o país continuar trilhando esse caminho, o racionamento de bens de consumo (que já começou em alguns estabelecimentos estatais) será inevitável. A parcela da população que será mais afetada é justamente a de menor poder aquisitivo.

O índice de escassez é formado por uma cesta de vários produtos e é medido mensalmente pelo Banco Central da Venezuela (BCV). Em comunicado oficial, a instituição assinalou que “o nível de escassez do mês de janeiro está associado, principalmente, à falta de matérias-primas e materiais de montagem em alguns setores, como o de automóveis, que não estão diretamente relacionados com as necessidades essenciais da população venezuelana”. Mas a tentativa de minimizar o problema cai por terra quando verifica-se que o indicador específico de escassez de alimentos básicos registrou 26,2% em janeiro.

 

[Fonte: Veja]

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