O acordo dos fundos de pensão Petros e Previ com Abilo Diniz, que poria fim à disputa pelo comando da BRF, empacou. As tratativas, que pareciam caminhar para um desfecho amigável, emperraram ontem (05/04) durante a extensa reunião extraordinária do conselho de administração da BRF. Pouco antes do início da reunião, que começou às 10h, fontes que participavam das conversas se diziam otimistas. Abilio renunciaria à presidência do colegiado e cederia o posto a Augusto Cruz, nome indicado pelas fundações para comandar o conselho da empresa.
Ao meio-dia, o sinal de alerta acendeu. Se tudo tivesse ocorrido como o esperado, a reunião teria terminado rapidamente. Com essa expectativa, as fundações já haviam convidado Cruz para ir à sede da BRF, na capital paulista. Lá, Cruz conheceria os conselheiros e diretores da companhia. No entanto, a reunião foi interrompida às 20h de ontem, e recomeçará hoje, às 14h30.
A falta de um acordo castigou as ações da BRF. Depois de abrirem o pregão na B3 em alta, os papéis viraram e intensificaram o movimento de queda ao longo da tarde. Maior baixa do Ibovespa, as ações da BRF caíram 4,38%, fechando a R$ 22,05. É o menor valor em quase sete anos.
Com a queda de ontem, o valor de mercado da empresa atingiu R$ 17,9 bilhões. No ano, a BRF já perdeu R$ 11,8 bilhões. Na comparação com o seu auge, em agosto de 2015, a BRF perdeu R$ 45 bilhões.
O que emperra o acordo das fundações com Abilio é a presença de Francisco Petros na chapa dos fundos de pensão ao conselho de administração da BRF, que será eleita em 26 de abril pelos acionistas. Advogado, Petros é o atual vice-presidente do conselho da BRF e foi indicado pela Petros para o cargo. Na chapa das fundações, ele segue na função.
Desde que começou a negociar sua saída, Abilio tenta tirar Petros da chapa, assim como Guilherme Ferreira e Roberto Funari. No caso dos dois últimos, o empresário teve êxito. Para o lugar deles, indicou Flávia Almeida, da Península, e um executivo cujo nome ainda não é público.
Em relação ao pedido de Abilio sobre Petros, as fundações não concordaram, e o acordo foi costurado com a permanência do advogado – até a quarta-feira, era o que diziam fontes próximas a Abilio e aos fundos. À luz do que ocorreu ontem, porém, já há quem diga que o plano de Abilio sempre foi dar um golpe de última hora em Petros, deixando as fundações sem chance de reação.
Na reunião de ontem, a animosidade de Abilio com Petros piorou por causa da proposta feita pelo empresário de criar um bônus de retenção de R$ 41 milhões para vice-presidentes e diretores da BRF. Ausente do encontro, Petros enviou um voto contrário à proposta.
No voto, o advogado teria argumentado que a inclusão do bônus na pauta da reunião era irregular. Pelo estatuto da BRF, os assuntos a serem tratados deveriam ser conhecidos pelo colegiado com cinco dias de antecedência. No entanto, Abilio avisou apenas na quarta-feira. O advogado também queria que a criação do bônus ficasse a cargo do próximo conselho de administração.
Apesar da contrariedade, o bônus foi aprovado. Para um observador da disputa, o bônus de retenção mostra que Abilio transformou em questão de honra a manutenção do CEO José Aurélio Drummond, eleito ao cargo em dezembro de 2017 graças ao voto de Abilio Diniz. Para tentar amenizar o clima ontem, Drummond teria se disposto a não receber o bônus até apreciação da pauta pelo novo conselho da BRF. Dos R$ 40 milhões, ele receberá R$ 6 milhões.
A interlocutores, Abilio tem afirmado que a permanência de Petros é insustentável pelo comportamento “irascível” do advogado, que conduz investigações espinhosas no comitê de auditoria. Por meio de Eduardo Rossi, da Península, Abilio tenta convencer os acionistas relevantes – inclusive a Previ – de que a saída de Petros seria boa para todos. Um dos argumentos é que o CEO e o vice-presidente de finanças, Lorival Luz, pedirão demissão se Petros continuar.
Segundo uma fonte, não há qualquer chance de rompimento entre Petros e Previ. Uma mudança, com a eventual saída de Francisco Petros, só ocorreria se fosse consensual. A mesma fonte disse que as duas fundações deram início ao movimento para tirar Abilio e vão seguir juntas até o fim. Em todo o caso, os fundos ainda acreditam em um acordo que evite o voto múltiplo. Procurados, Abilio, Petros e os fundos de pensão não comentaram.
(Por Supermercado Moderno) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Abilio Diniz, BRF