Num galpão bem iluminado, com nuvens pintadas no teto, Romina Sarlo amamenta seu bebê de um mês. Entre caixas de alface e berinjela – e umas mosquinhas, é verdade –, o silêncio é perfeito para ela cuidar do filho e seguir trabalhando.

Fundadora da La Barata del Central, empresa que entrega cestas de frutas e verduras a casas de Buenos Aires, é fácil entender por que ela não pode parar a rotina. Em apenas um ano, o negócio já têm 15 mil clientes cadastrados, dez funcionários, faz mais de 200 entregas por dia e conquista 200 novos compradores por semana.

A ideia nasceu em 2001, quando Romina e o marido Agustín mudaram de Mar del Plata, no litoral, para a capital argentina. O país vivia uma de suas piores crises econômicas. Na cidade, descobriram que vizinhos se organizavam para fazer compras coletivas e pagar menos por alimentos. As compras eram feitas no Mercado Central, onde frutas e verduras são mais baratas do que nos supermercados do centro.

“Nós começamos a observar que a forma como as pessoas conseguiam bons preços é muito trabalhosa. Então, com a ajuda da internet, juntamos esse conceito de compra coletiva com a ideia de poder chegar em casa e já ter coisas saudáveis para cozinhar”, conta Romina.

Depois de fazer pesquisas para conhecer o mercado, Matías, que é irmão de Romina e estudante de economia, montou um plano de negócios. A empresa começou atendendo bairros próximos de onde eles moravam, como Palermo, Villa Crespo e Caballito. Pelo site, as pessoas têm acesso à lista de produtos que estão disponíveis na semana – eles variam para estar sempre frescos. No blog, são publicadas receitas criativas feitas por Romina, que estudou gastronomia, para usar os produtos.

“No começo, eram regiões de classe média alta, mas a gente queria oferecer um serviço bom, com produtos de qualidade e preço acessível”, diz a proprietária. Para isso, priorizaram a relação com os fornecedores do Mercado Central, que recomendam a cada dia os produtos da estação, e indicam o que está por entrar na semana seguinte com melhor qualidade e preço.

Hoje, a empresa atende praticamente todos os bairros da capital argentina. As compras no Mercado Central são feitas diariamente e os produtos chegam pela madrugada ao silencioso e agradável galpão de Palermo. A mercadoria é selecionada e colocada em caixas de papelão (que fazem a vez da “cesta”), sem tampa e o com mínimo de sacolinhas plásticas possível. Há um freezer para armazenar os alimentos mais sensíveis, como frutas e folhas, que são os últimos a irem para a caixa.

Os clientes podem escolher entre dois tipos de cestas, pensadas para uma ou duas pessoas, por 55 e 99 pesos (cerca de R$ 23 e R$ 41), respectivamente. Ambas contêm sempre 15 variedades divididas entre cinco frutas, cinco verduras para comer frias e cinco para comer cozidas. Além disso, há também a opção de cesta apenas com frutas, por 75 pesos (R$ 31). A compra chega no dia seguinte, no horário escolhido. O valor é pago diretamente ao entregador. Outra opção é retirar na própria empresa, sem o custo de 10 pesos (R$ 4) pela entrega.

Desde o começo, esses preços subiram cerca de 10%, bem menos que inflação de 25,6% no período, segundo consultoras privadas – também abaixo do índice oficial, de 10,8%. “Ao trabalhar com os produtos disponíveis a cada estação e negociar com os fornecedores, podemos reduzir os custos”, explica a empresária.

O negócio chamou a atenção até mesmo de Guillermo Moreno, o polêmico secretário de comércio interior, que decide muito do que acontece com os preços no país. Ele já fez um pedido. “Recebemos uma ligação de sua secretária e eu não acreditei que era verdade. Tive que confirmar, ligando na sede da própria Secretaria”, conta Romina.

Na Argentina, há outras empresas que oferecem delivery de alimentos, mas a maioria vende produtos gourmet ou apenas orgânicos, o que encarece o serviço. Já foco da Barata é apenas facilitar o consumo de frutas e verduras. “Não é necessário chegar ao extremo do produto orgânico, por exemplo. Comer a quantidade de alimentos naturais que oferecemos é o suficiente para comer saudável”, afirma.

Os empresários nunca investiram em publicidade. Toda comunicação e marketing acontece por boca a boca e pela da internet, no site, no blog e em redes sociais. Toda sexta-feira, por exemplo, é publicada uma enquete na página do Facebook para que os clientes possam escolher entre um produto e outro para entrar a cesta seguinte. “Se o que você faz é honesto, as pessoas curtem e indicam”, diz Romina.

Neste mês, pela primeira vez, foi fechada uma parceria com uma grande marca. A Knorr, da Unilever, acaba de lançar no país um produto para salada. Os clientes da Barata passaram a receber um pacotinho junto com a cesta.

Agora, os proprietários da empresa organizam os próximos projetos. Os planos são aumentar o diálogo direto com clientes por meio das redes sociais, pensar novas opções de cestas e ampliar o contato com empresas que oferecem café da manhã diariamente aos funcionários, prática comum na cidade, para que elas substituam parte dos pães e doces por frutas.

“Queremos incentivar o consumo de comida saudável. E a verdade é que se você chega em casa e tem uma maçã, você vai comer maçã. Se tiver um pudim, você vai comer pudim. Se uma pessoa consumir as 15 variedades de frutas e verduras que tem na cesta da Barata, ela vai aumentar a sua qualidade de vida por meio da alimentação”, conclui Romina.

(Por IG) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo