A multinacional anglo-holandesa Reckitt Benckiser, detentora de importantes marcas de produtos como Veja e Vanish, está adotando uma estratégia agressiva no Brasil para disputar o bilionário mercado de medicamentos isentos de prescrição (Mip) ou OTC (over-the-counter, na sigla em inglês), que movimenta R$ 15 bilhões por ano.

O grupo avalia aquisição de ativos nesse segmento no Brasil e no mundo, afirmou Jiri Kulik, vice-presidente da companhia para América Latina. No País, a Reckitt chegou a avaliar a compra do laboratório gaúcho Kley Hertz, que comercializa o antigripal Resfenol, mas as negociações não avançaram.

No ano passado, o grupo firmou contrato com a BMS (Bristol-Myers Squibb) para comercializar na América Latina os produtos da linha OTC da farmacêutica inglesa, que decidiu concentrar seus negócios em medicamentos inovadores. No Brasil, os produtos mais conhecidos são Luftal e Naldecon. “Há farmacêuticas que consideram se desfazer de sua divisão OTC, que pode nos interessar”, disse o executivo, que também não descarta comprar marcas disponíveis no mercado.

Kulik vê maior potencial de expansão no mercado de OTC no Brasil. Na terça-feira, a companhia fará lançamento de sua linha de preservativos – a Durex – para disputar espaço com as líderes nacionais, Olla e Jontex, que pertencem à Hypermarcas (ver matéria ao lado). O grupo fundado por João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, é líder em medicamentos sem prescrição no País e também tem produtos líderes em higiene e beleza, divisão na qual a Reckitt tem forte presença no Brasil.

“Estamos acompanhando as discussões das indústrias do setor com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de aumentar a lista de produtos que podem ser incluídos na categoria isenta de prescrição”, disse Kulik. Segundo ele, o maior acesso da população a esses medicamentos pode alavancar as vendas da companhia.

Sigla. A exemplo de gigantes globais, como Procter & Gamble e Johnson & Johnson, que passaram a ser identificadas pelas siglas P&G e J&J, respectivamente, a múlti anglo-holandesa decidiu adotar as letras RB, desde o dia 1º de janeiro, para simplificar sua identidade.

Ainda dentro de seu processo de reestruturação, a estratégia da companhia, cujo faturamento global é de £ 10 bilhões, é elevar a participação da divisão de saúde em sua receita. Atualmente, a divisão home (produtos para limpeza de roupa e lava-louças, por exemplo) e higiene (pessoal e de produtos de limpeza) representam, juntas, cerca de 60% das vendas totais da companhia.

A perspectiva é de que até 2016 as divisões saúde e higiene atinjam 70% e a área home fique em 30%. “Isso não quer dizer que o grupo não se interessa mais por produtos como Vanish e Veja, mas que as outras áreas vão crescer mais”, disse.

Desde 2006, as principais aquisições da multinacional estão concentradas na área farmacêutica, com ênfase na área de medicamentos isentos de prescrição. Essas transações, que incluem o contrato com a BMS na América Latina, de US$ 482 milhões, atingem US$ 11,2 bilhões. A companhia anglo-americana avalia vender ativos fármacos, cujo foco não está em OTC.

Os países emergentes, segundo o executivo, deverão representar cerca de 65% das vendas do grupo até 2020. Hoje giram em torno de 50%. “Até 2000, o Brasil não estava entre os dez principais mercados da RB. Agora está entre os cinco.”

De acordo com Kulik, os principais executivos da Reckitt mudaram sua percepção sobre o Brasil. “Não há mais uma visão estereotipada. A matriz reconhece a importância do País para os negócios do grupo.” No fim deste mês, a reunião do conselho de administração da companhia será realizada no País. O escritório regional para América Latina do grupo, antes instalado em Miami (EUA), mudou para São Paulo, onde também há uma fábrica. O grupo não tem planos de construir uma nova planta no País.

Marcas líderes. Das cerca de 500 marcas que a multinacional detém hoje, somente 19 delas são consideradas fortes, entre elas Harpic, Finish, Strepsils, Veet e Vanish.

Há, no entanto, marcas fortes da múlti que são comercializadas regionalmente. No Brasil, é o caso do Veja. “Essa marca só existe aqui”, disse Kulik. O Luftal, adquirido no contrato de licenciamento da Bristol, também só é vendido no País.

(Fonte: Estadão) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios