As grandes varejistas nacionais parecem ter descoberto, finalmente, a fórmula para crescer na Região Norte. A proliferação de shopping centers abriu o espaço ideal para as empresas que tinham dúvidas sobre a viabilidade de abrir uma loja de rua. Só neste ano foram abertos dois shoppings na região – em Marabá (PA) e Macapá (AP) – e mais quatro estão previstos para 2014, incluindo o primeiro em Roraima, na capital Boa Vista.

Embora a renda per capita do Norte seja um pouco maior do que a do Nordeste – R$ 1.044 por mês, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, Estados como Pará e Amazonas, os mais interessantes do ponto de vista econômico para o varejo, apresentam desafios logísticos consideráveis.

Em Manaus, a cidade com o varejo mais desenvolvido da região, com oito shoppings em funcionamento, as mercadorias enviadas de São Paulo ou do Rio de Janeiro chegam ao Pará por via terrestre e, depois disso, seguem de balsa até a capital do Amazonas. O consultor Roberto Peggy Pinheiro, diretor da Ben Marketing, explica que, caso escolha fazer esse caminho, a varejista só vai conseguir abastecer suas lojas a cada 20 dias. “Só a balsa, de Belém, consome uma semana.”

Essa demora pode ser um problema sério para as redes de fast fashion, que precisam ter as novidades rapidamente expostas nas araras – ou o produto pode ficar encalhado. Por isso, segundo Élio França, diretor de operações da rede holandesa C&A, as lojas da capital amazonense são abastecidas por via aérea, a partir dos centros de distribuição da empresa em São Paulo e no Rio.

Nas demais cidades do Norte, o transporte da C&A é feito por terra. Para garantir que os produtos não cheguem “velhos” às lojas, a empresa abastece as unidades de três a quatro vezes por semana.

Outra companhia que recorre ao avião para abastecer as lojas do Norte é o Grupo Boticário, a rede mais pulverizada na região, com unidades espalhadas pelo interior dos Estados (no mapa abaixo, O Boticário é representado pela cor vermelha). Mesmo assim, em algumas áreas, como o interior do Pará, o prazo de entrega de mercadorias nunca é inferior a 16 dias.

Para garantir o custo-benefício de abrir franquias na região, O Boticário teve de estudar as especificidades de mercados como Cruzeiro do Sul, no Acre. Lá, as cargas podem ser enviadas de navio pelo Rio Juruá – o que é mais barato -, mas só durante o inverno. No verão, as águas baixam e o rio deixa de ser navegável. Aí é preciso que o transporte aéreo entre em cena.

Pelas dificuldades que apresenta, o Norte acaba sendo priorizado pelas vice-líderes em diferentes mercados. É o caso da rede de fast food Bob’s, que concentra 78 unidades no Norte, contra 14 do McDonald’s. “Queremos ocupar espaço nas cidades que tenham o mínimo potencial para abrigar uma loja”, explica o diretor-geral da marca, Marcello Farrel. “E já identificamos cidades com menos de 100 mil habitantes que podem nos interessar.”

Expansão acelerada. Dentro da região, é justamente o Pará, um mercado complexo em termos logísticos, que se apresenta como o mais promissor para o grande varejo. Dos quatro shoppings que serão inaugurados no ano que vem no Norte, três estarão no Estado, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

Todos serão erguidos em polos econômicos do interior: Paragominas, Ananindeua e Castanhal. “A expansão do mercado paraense exige que as redes abram lojas em vários municípios do interior, em diferentes regiões”, diz Pinheiro, da Ben Marketing. “É muito diferente do que ocorre no Amazonas, onde o mercado está quase todo concentrado na capital.”

A abertura de shoppings segue, naturalmente, a expansão econômica. Isso porque, segundo Adriana Colloca, superintendente da Abrasce, um empreendimento de porte médio exige investimentos entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões.

No Pará, boa parte dos shoppings acaba seguindo os projetos da Vale. A abertura de um centro comercial em Parauapebas – município de 130 mil habitantes – só se justifica pela proximidade ao projeto de Carajás, uma das maiores reservas de minério da gigante brasileira. A mais recente inauguração no Norte, em Marabá, levou em consideração o anúncio da construção de uma siderúrgica da Vale na cidade.

No entanto, o projeto jamais saiu do papel. Em 2012, a mineradora suspendeu a construção da Aços Laminados do Pará, um projeto de US$ 3,2 bilhões. O cancelamento é decorrente da queda dos preços da commodity, mas a Vale também reclamou que o governo tirou do Programa de Aceleração do Crescimento uma hidrovia que seria vital para o escoamento da produção.

Paciência. Diante da suspensão da siderúrgica e do fechamento de outros projetos de menor porte na cidade, a empresa responsável pelo shopping de Marabá faz uma análise realista do potencial do projeto. “O tempo de maturação de um empreendimento como esse é de dois anos. Não vai ser muito diferente lá”, diz Tony Bonna, gerente geral da AD Shopping. Segundo ele, um empreendimento na Região Norte precisa ser bem planejado para não virar “mico”. A disponibilidade de terrenos não se traduz, necessariamente, em investimento menor na obra. As dificuldades logísticas afetam o fornecimento e o custo dos materiais de construção, anulando a vantagem relativa do custo da compra do terreno.

(Por Estadão) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo