>Até o ano que vem, alguns dos principais fabricantes de bens de consumo de massa investirão, pelo menos, R$ 700 milhões na região em fábricas e CDs. E mais: eles já incluíram em seu portfólio produtos voltados especialmente aos Estados nordestinos.

O acelerado desenvolvimento do Nordeste não entusiasma apenas as empresas do varejo. A indústria nacional de bens de consumo de massa também anda bem animada com as possibilidades que a região oferece. Fábricas de alimentos, bebidas, limpeza e higiene pessoal que até então tinham a produção concentrada nas regiões Sul e Sudeste, agora inauguram plantas e centros de distribuição em Estados como Bahia, Ceará e Pernambuco. E quem já está instalado nos principais centros se mantém otimista em relação aos resultados. Pesquisa realizada pela consultoria Deloitte com 40 companhias que atuam na região aponta que 97% esperam crescimento da receita em 2010. Na média, a expansão deverá ser de 15% sobre 2009.

É o crescente mercado consumidor que faz empresas como a Selmi desembarcarem na região. Ela adquiriu um terreno de 73 mil m2 no Porto de Suape (PE) para construir uma fábrica de massas tradicionais e instantâneas e, no futuro, de biscoitos. A indústria é dona das marcas Renata e Galo. “Atuamos há apenas três anos no Nordeste, mas temos dificuldades na distribuição, daí a opção pela construção da fábrica. Nossos planos são começar a operar em abril de 2012”, afirma Ricardo Selmi, presidente da empresa.

Segundo o empresário, serão investidos R$ 20 milhões na planta, que vai gerar 150 empregos diretos. A capacidade de produção mensal será de três mil toneladas de massa normal e instantânea. “Dali, pretendemos atender todo o Norte/Nordeste, além de exportarmos para a Venezuela e a África”, diz Selmi.

Seja pela facilidade do Porto de Suape ou pela proximidade do Estado com centros de consumo do Nordeste, Pernambuco tem se tornado o queridinho das grandes empresas. Quem também está se instalando no Estado é a Kraft Foods, que detém as marcas Lacta, Club Social e Tang, entre outras. De acordo com André Vercelli, presidente da Kraft Foods Norte e Nordeste, a empresa está construindo uma fábrica em Vitória do Santo Antão, no interior do Estado. A planta deverá entrar em funcionamento no início de 2011, com a contratação de 600 empregados diretos.

“Em 2005, criamos uma Unidade de Negócios da companhia no Recife, com o intuito de entender melhor o mercado local”, comenta Vercelli. Ele explica que a área tem a mesma estrutura de profissionais e setores do escritório central da companhia, localizado em Curitiba (PR). “Contamos com pessoal de marketing, recursos humanos, vendas, trade marketing e logística: todos trabalhando exclusivamente com foco no Norte e Nordeste”, afirma.

Prova disso é que nos últimos anos a empresa tem realizado campanhas específicas para a região, com ações voltadas para os costumes locais, como as festas de São João de Campina Grande, São João de Caruaru e da Bahia. Além disso, a Kraft tem em seu portfólio itens desenvolvidos especialmente para o consumidor local, como os regionais sabores de Tang: cajá, graviola, acerola e siriguela.

“Introduzimos nossas linhas nesse mercado, que é muito disputado por marcas regionais, e conseguimos aumentar as vendas”, diz Vercelli, sem revelar qual é a expectativa de crescimento na região. “O Norte e o Nordeste crescem mais rápido que o restante do País. Os 16 Estados da região somam 70 milhões de habitantes e têm um PIB de R$ 500 bilhões/ano. Com o poder aquisitivo do consumidor cada vez maior, sem dúvida o potencial de crescimento é enorme”, explica.

Para Paulo Roberto Tavares, sócio de consultoria Deloitte, além de um mercado excepcional, a indústria percebeu que a necessidade de quem mora na região é semelhante à de quem vive em qualquer outro lugar. “Não existem mais fronteiras. Um produto pode ser bem aceito em diferentes Estados, desde que tenha uma roupagem local”, diz.

A Bombril é uma das empresas que investem em produtos com o perfil local. Sua linha Pronto Bril foi desenvolvida especificamente para atender o Norte/Nordeste. De acordo com Marcos Scaldelai, diretor de marketing, pesquisa e desenvolvimento da fabricante, os produtos têm um perfume mais intenso, feito com essências típicas da região, e um posicionamento de preço diferente: 10% abaixo da linha regular. A produção também está no Nordeste, na fábrica de Abreu e Lima, localizada em Pernambuco.

Atualmente, 31% do volume de vendas da marca Bombril está concentrado no Norte e no Nordeste, e faz parte dos planos da empresa ampliar essa participação para 40% em 2010. “Iniciamos o ano com um crescimento de 14%, e já aumentamos esse patamar para 32%, graças ao projeto Arrastão – um conjunto de iniciativas como aumentar a distribuição, conscientizar o varejo sobre o preço correto para o consumidor e investir em mar keting”, explica Scaldelai. Para este semestre, com a campanha “BomBril Abalou 1001 prêmios para você”, a empresa espera crescer 45%, o que na média do ano deve corresponder a uma alta de 40%. A companhia vai sortear 10 caminhões com 100 prêmios cada, além de uma casa no valor de R$ 50 mil em certificados de barras de ouro.
Outra que apostou em uma marca local para ganhar terreno foi a Química Amparo (Ypê), que produz e comercializa para a região a linha Atol, composta por sete diferentes produtos de limpeza. De acordo com João Augusto Geraldeni, gerente de mar keting da companhia, a fábrica da Atol, localizada em Simões Filho, na Grande Salvador (BA), foi adquirida em 2002 para aumentar a penetração dos produtos da empresa na região. Aparentemente, a estratégia está dando resultado. “O aumento da renda da população e o desempenho da economia local favorecem a indústria em geral. No nosso caso, ano a ano conseguimos melhorar o desempenho, que se aproxima da média alcançada no faturamento nacional”, afirma Geraldeni.
A aposta na região é tal, que a Química Amparo destinou cerca de R$ 180 milhões para a construção de uma nova fábrica em Anápolis (GO), para produção de detergente líquido, sabão em pó e em barra, além de amaciantes. De lá, os produtos serão destinados aos Estados do Norte/Nordeste.
A Pepsico Brasil, dona de marcas como Cheetos, Fandangos e Coqueiro, comercializa nos Estados nordestinos embalagens um pouco menores que as vendidas no resto do País. Com isso, consegue reduzir o preço final dos salgadinhos de R$ 1,30 para R$ 0,99. “Ao diminuir a margem, aumentamos as vendas”, afirma Alexandre Wolff, diretor da Unidade de Negócios Norte/Nordeste.
A Pepsico já tem uma fábrica de salgadinhos em Recife (PE), onde produz Fandangos e Cheetos, além do Toddynho, e pretende inaugurar uma planta em Feira de Santana (BA) no primeiro trimestre de 2011. A unidade terá uma linha de produção de achocolatados em pó e, em uma segunda fase, de achocolatados líquidos. Embora não cite números de crescimento, Wolff diz que, nos últimos cinco anos, as vendas no Nordeste aumentaram duas vezes e meia acima da média do Brasil. “Temos crescido cerca de dois dígitos nos últimos anos, resultado que deverá se repetir em 2010 e 2011”, afirma.

O principal cliente da Pepsico é o pequeno varejo. Segundo Wolff, na maioria das vezes, é mais fácil atender as lojas menores do que as grandes redes. “Normalmente realizamos a venda direto para os donos, que são mais rápidos em decidir e têm pressa em ter o produto nas gôndolas. Nesses estabelecimentos, ocorrem mais promoções. Para se ter uma ideia, 75% do total de salgadinhos consumidos no País sai dos pequenos supermercadistas. Os grandes são responsáveis por apenas 25% do nosso faturamento no segmento”, diz Wolff.

A Kraft Foods também não descuida dos pequenos. Segundo André Vercelli, o plano de distribuição na região inclui cada vez mais pontos de venda menores. “Fazer compra no supermercado de vizinhança está no dia a dia do nordestino, que, muitas vezes, faz suas atividades diárias a pé ou de ônibus. Queremos estar onde ele está”, diz o executivo.

Por Supermercado Moderno – 30/11/2011 (Patrícia Büll)