Com vendas menores, projeções de crescimento revistas e queda de confiança do consumidor, o varejo reduz as encomendas para o final do ano e a indústria já sente o reflexo em sua produção.

Varejistas e fabricantes de eletrodomésticos, computadores, roupas, material de construção e móveis refazem planos para o quarto trimestres, época em que tradicionalmente a economia tem maior expansão.

“Houve uma forte redução nas encomendas porque o varejo quer evitar bancar custos com estoques. Como as vendas no Dia dos Pais foram fracas, o ritmo nos negócios está ainda menor”, diz Humberto Barbato, presidente da Abinee, que reúne 600 indústrias de eletroeletrônicos.

A produção física nesse setor caiu 4,1% em junho deste ano ante maio. “Começamos o ano falando em crescer 8%, mas se chegarmos a 3% vai ser ótimo”, diz o empresário.

O mercado de refrigeradores e fogões, que já teve desempenho fraco no primeiro semestre, também prevê crescer menos -a estimativa de expansão foi revista de 5% para 2% neste ano.

“Estamos numa encruzilhada. As vendas não foram bem e teremos de reajustar preços por causa da pressão de custos da matéria prima (aço, resinas), que subiu de 10% a 30%. Isso pode afetar ainda mais o volume de vendas no segundo semestre”, diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros (indústria de produtos eletroeletrônicos).

Para Cláudio Felisoni, coordenador do Provar (Programa de Administração de Varejo, da USP), a indústria vai sofrer os impactos da mudança de patamar de confiança dos consumidores. “No terceiro trimestre de 2012, 54% planejavam comprar bens duráveis. Neste ano, são 50,4%.”

Os supermercados paulistas também estão mais contidos nas encomendas para a indústria, diz Rodrigo Mariano, diretor do departamento de economia da Apas, que reúne 1.200 redes no Estado.

Pesquisa da associação mostra que 27,7% reduziram formação de estoques em julho. Entre maio e junho, o setor viu o faturamento real cair 4,19%, afetado pela onda de protestos e inflação.

O economista Fábio Silveira, da GO Associados, destaca que o comércio reduziu a previsão de 5% para 4%. “No segundo semestre, o consumo das famílias será relativamente inibido pela vigência de juros reais elevados.”

Para atacadistas e distribuidores, a redução na intenção de compra é relevante no caso de bens duráveis e de itens de reposição.

“Com alimentos, bebidas e produtos de higiene pessoal e limpeza, pode haver uma compra mais racional. Para o consumidor, significa reduzir itens supérfluos. Para o varejista, maior cuidado para dimensionar o estoque”, diz José do Egito F.Lopes Filho, presidente da Abad (atacadistas). “Será difícil ter resultados excepcionais. Mas estamos longe de um cenário catastrófico.”

(Por Varejista) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo