A espanhola World Duty Free Group, que opera lojas em aeroportos, entregou na semana passada uma proposta para gerenciar lojas livres de impostos (free shops) no terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Caso vença a concorrência, Guarulhos será a segunda maior operação da companhia, após o aeroporto de Heathrow, em Londres. Por enquanto, o grupo garantiu sua entrada no mercado brasileiro, dominado pela suíça Dufry, através do aeroporto de Belém.

A companhia gerencia 568 lojas em 137 aeroportos de 20 países. Em 2012, seu faturamento aumentou 10%, para € 2 bilhões, e o lucro subiu 54%, para € 100 milhões de euros. A World Duty Free pertence ao grupo Autogrill, com capital aberto na Bolsa de Milão, e que também opera na área de alimentação fora do lar e é controlado pela família Benetton, conhecida por sua rede varejista de moda. A Autogrill anunciou este mês que fará a separação (“spin-off”) dos dois negócios até outubro.

Segundo José María Palencia Saucedo, CEO da World Duty Free Group, as prioridades para o grupo neste ano são a operação de “spin-off” e a entrada em Guarulhos. O Brasil é um dos principais mercados de varejo de viagem do mundo, hoje dominado pela Dufry, e movimenta em torno de US$ 900 milhões ao ano, segundo estimativas de mercado. Estar no maior aeroporto internacional do país seria “transformador” para o negócio, diz o executivo. O Valor apurou que a Dufry também participa da negociação, mas a empresa não comenta. O vencedor, que vai gerenciar uma área de 6 mil metros quadrados no novo terminal, deve ser anunciado em julho. Em novembro, a Dufry renovou até 2016 o contrato de exploração dos terminais 1 e 2 do aeroporto, controlado pela Invepar.

A empresa espanhola venceu em junho de 2012 a licitação para gerir durante dez anos o espaço de “duty free” no aeroporto internacional de Belém. Serão duas lojas pequenas, que estão prontas e aguardam homologação da Receita Federal para operar, segundo Isabel Zarza, diretora de estratégia e desenvolvimento do grupo.

Na Espanha, o grupo venceu em dezembro uma importante licitação, para operar em 26 aeroportos públicos. O grupo já tinha 80 lojas em 21 desses aeroportos e está reformando todas elas, adotando um desenho mais moderno, o mesmo que seria usado em Guarulhos. As lojas reformadas têm apresentado uma melhora nas vendas, segundo Palencia. Uma unidade cujas vendas estavam em queda de 5%, por exemplo, passou a registrar alta de 10%.

Com a crise, os aeroportos da Espanha registraram uma queda de 10% no tráfego de passageiros no acumulado do ano até maio. Segundo Saucedo, a situação de Barajas, em Madri, é mais complicada, mas os aeroportos menores de destinos turísticos, como Palma de Mallorca, devem se recuperar ao longo do ano. O país responde por 22% do faturamento da World Duty Free Group. Mas o maior mercado do grupo é o Reino Unido, também com 26 aeroportos, que representa 46% do faturamento. O grupo está concluindo a aquisição da americana HMSHost’s, com 32 lojas nos Estados Unidos.

A World Duty Free Group está entre as maiores empresas do setor de varejo de viagem, que é bastante pulverizado: as cinco maiores detêm apenas 35% do mercado. Para o executivo, o grupo se destaca por se especializar em aeroportos – que respondem por 95% de sua receita -, enquanto alguns concorrentes também operam em fronteiras entre países, navios, estações de trem etc.

Palencia, de 50 anos, acompanha as notícias sobre os protestos que tomaram as ruas do Brasil nos últimos dias e se pergunta se esse movimento pode ter algum impacto nas próximas privatizações de aeroportos. Para ele, os pedidos de maior transparência e melhores serviços por parte dos manifestantes podem se refletir em demandas no processo de privatização. “Eu não diria que estou preocupado, mas vigilante”, diz.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo