>Os serviços financeiros, a oferta de crédito e o financiamento devem continuar sustentando a estratégia das grandes redes varejistas e, inclusive, esticando suas margens. Neste contexto, os carnês e os longos crediários começam a desaparecer e dar lugar aos cartões de marca própria, que fidelizam o cliente, ao mesmo tempo que mantém parte dos ganhos financeiros das operações nas mãos do varejista.

Seja com o antigo crediário ou com os novos cartões de marca própria, algumas redes de varejo aplicam taxas financeiras acima do valor do mercado, que trazem grande retorno a seus negócios. (…)

O Magazine Luiza, por exemplo, é uma das redes que está investindo fortemente em serviços financeiros para atrair novos clientes e trazer não bancarizados ao espaço de suas lojas. (…)

A LuizaCred, joint venture entre o Magazine Luiza e o Banco Itaú, é uma das estratégias, principalmente na oferta de crédito ao consumidor. E a aposta, segundo Fabiano, está dando certo, tanto que a varejista já tem 2,5 milhões de cartões emitidos, sendo que mais da metade são ativos, ou seja, foram utilizados em compras nos últimos 30 dias.

Além disso, o consumidor, principalmente os das classe C e D, está vendo, cada vez mais, as lojas do varejo como um espaço de serviços financeiros. (…)A Lojas Americanas também está investindo neste nicho e já reportou que a carteira financeira de recebíveis da Financeira Americanas Itaú (FAI), cresceu 54,2% no segundo trimestre, atingindo R$ 899 milhões. Deste total, R$ 849 milhões vêm dos cartões de marca própria e dos cartões “co-branded”, e R$ 50 milhões vêm do serviço de empréstimo pessoal.

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Oferta de serviços financeiros

O coordenador do núcleo de estudos do varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Ricardo Pastore, acredita que essa tendência de venda parcelada, crédito e serviços financeiros deve se consolidar ainda mais nos próximos anos. “O futuro do varejo está diretamente ligado à expansão do financiamento. O parcelamento, por exemplo, é um ótimo chamariz, principalmente para os bens duráveis que dependem do salário da população E como fazer esse salário aumentar? Justamente esticando o prazo de pagamento”, opina.

Beltrame, concorda e ressalta que esse modelo é, inclusive, um dos aspectos que sustentam a ascensão da classe C no mercado de consumo. Ele explica que garantir o poder de compra do consumidor por meio de serviços financeiros sempre foi uma aposta dos varejistas, mas ao longo dos anos o modelo de oferta de crédito tem se adequado ao mercado e às diferenciadas condições econômicas.

“Até pouco tempo, as grandes redes de varejo operavam com linhas de financiamento própria. Era comum fazer compra parcelada diretamente com a loja na versão mais básica, que era com o uso do carnê. Neste contexto, as lojas, inclusive, obrigavam o consumidor a irem até a loja para pagar esse carnê e o cliente acabava comprando mais”, explica Pastore.

Com o avanço dos cartões de crédito, porém, os ganhos financeiros começaram a ser direcionados às operadoras de cartão de crédito. Por este motivo, as grandes varejistas começaram a investir em cartões de marca própria, em que oferecem vantagens aos clientes, geram fidelização e dividem os ganhos financeiros com as operadoras de cartão.

Além disso, ao estabelecer essas parcerias, seja com operadoras de cartão ou bancos, as varejistas ampliam o volume de capital a ser financiado. “Na Casas Bahia, por exemplo, o Bradesco entrou com uma massa de capital em troca da fidelização dos clientes da varejista”, explicou Beltrame.

Esse modelo tem se mostrado assertivo, principalmente, em face do contexto macroeconômico de aumento da renda média dos profissionais e menor nível de desemprego. “Entendemos que a estratégia adotada pelas empresas deve ser mantida nos próximos anos, pois representa uma poderosa ferramenta de negociação com os clientes. A expansão do meio de pagamento eletrônico deve continuar, atingindo a casa de 909 milhões de plásticos em circulação até 2015. O número de transações deve ficar em 15,6 bilhões e o faturamento em R$ 1,2 trilhões”, explicou o superintendente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), José Alípio dos Santos.

Ele informa que, para 2010, a expectativa é que o número de cartões chegue a 628 milhões, enquanto o número esperado de transações para o ano deve ficar em 7,1 bilhões. “As estimativas previstas de faturamento ficam na casa dos R$ 534 bilhões”.

A Abecs divulgou ainda que, em setembro, o número de cartões chegou a 612,425 milhões, sendo que deste total 149,188 milhões são cartões de crédito e 218,180 milhões são os chamados cartões private label, que levam a marca da varejista. Os números mostram a força dos varejistas na oferta de crédito e a adesão do consumidor a esse novo modelo de pagamento, além de mostrar uma perspectiva em que serviços financeiros e varejo estão cada vez mais atrelados.