As empresas de alimentos embalados podem saber a resposta, mesmo que você não saiba. Cientes de que as pessoas beliscam bastante durante o dia, essas empresas continuam a criar novas embalagens que incentivam consumidores a comer seus produtos toda vez que sentem vontade de beliscar, o que alguns executivos nos Estados Unidos apelidaram de alimentação “hand-to-mouth”, ou “da mão para a boca”.
A psicologia por trás de como isso afeta nossos hábitos alimentares é complicada. Às vezes, pequenas quantidades de comida podem levar você a comer mais, pois há estímulos que os beliscadores de plantão conseguem detectar.
A Hershey Co. concluiu que embrulhar bombons estava impedindo as pessoas de os comerem em certas situações, como dentro do carro. A empresa respondeu com os Reese’s Minis — uma versão pequena e desembrulhada do seu clássico chocolate de amendoim Reese’s Peanut Butter Cup — que vêm num saquinho relacrável. Ele torna mais fácil para as pessoas “irem comendo pelo caminho”, diz Michele Buck, diretora de crescimento da Hershey.
Como parte do que chama de “plataforma mão para a boca”, a empresa lançou recentemente nos EUA os Rolo Minis, Twizzlers Bites e Jolly Rancher Bites — todas versões menores de chocolates tradicionais com o mesmo nome, embaladas em sacos relacráveis. As vendas de bombons desembrulhados nos EUA subiram cerca de 14% em 2012 comparado com o ano anterior, bem mais que o crescimento do segmento de bombons embrulhados, segundo dados da Nielsen compilados pela Hershey. Os Kit Kat Minis serão lançados em maio nos EUA.
A embalagem tem tanta influência que mesmo um detalhe sutil parece levar as pessoas a parar de comer. Num estudo realizado em 2012, pesquisadores deram a estudantes um tubo de batatas fritas Stax, da Elma Chips, para eles comerem enquanto assistiam televisão. Alguns estudantes receberam tubos com batatas vermelhas inseridas entre as amarelas a intervalos variados, enquanto outros só comeram batatas amarelas. Os estudantes que ganharam tubos com batatas vermelhas comeram menos da metade que aqueles cujos tubos só tinham batatas amarelas. Quando questionados mais tarde, eles também souberam dizer melhor o quanto tinham comido. Uma “barreira artificial” ajuda as pessoas a decidir quando parar de comer, diz Andrew Geier, o líder do estudo, que foi publicado na revista “Health Psychology”.
A necessidade de comer até o fim parece se extinguir quando a embalagem é grande a ponto de não deixar claro qual o tamanho de uma porção, diz Geier.
Durante anos, as pessoas vêm mudando seus hábitos alimentares e comendo mais fora da mesa. Suas opções se expandiram exponencialmente desde que surgiram os pequenos sacos de batata frita e outros salgadinhos, anos atrás. A varejista americana Target Corp. está colocando alimentos como frutas desidratadas e barras de granola em várias porções unitárias separadas dentro de uma única embalagem. Embalagens menores também parecem aumentar o consumo da pasta de grão de bico (ou “homus”) quando servida em porções pequenas para levar em copinhos que vêm junto com pretzels, informa a fabricante americana Sabra Dipping Co.
Brian Wansink, diretor do Laboratório de Marcas e Alimentos da Universidade Cornell, estuda como tamanhos e embalagens afetam o consumo. Num dos seus experimentos, pessoas num cinema comeram 34% mais pipoca velha, mas colocadas em baldes grandes, do que a mesma pipoca colocada em baldes médios, ainda que a descrevessem como “murcha” e “horrível”. O estudo mostrou que pessoas que receberam pipoca feita na hora comeram ainda mais nos baldes grandes.
As pessoas são incrivelmente ineptas quando se trata de parar de comer. Elas comem até o fim da lata ou pacote se o tamanho da porção parecer razoável, um comportamento chamado de “propensão à unidade” por acadêmicos. O prefeito da cidade de Nova York, Michael Bloomberg, citou tendências semelhantes para justificar sua recente tentativa de limitar o tamanho das embalagens de refrigerantes.
Certas pessoas — aquelas preocupadas com a aparência ou que normalmente não controlam bem o quanto comem — veem essas porções pequenas de comida como tendo “zero caloria”. Com isso, elas tendem a comer mais que a porção de tamanho regular da mesma comida, diz Pierre Chandon, professor de marketing que estuda hábitos alimentares na Insead, um escola internacional de administração sediada na França.
“Vinte e cinco calorias não são uma porção, então nós beliscamos sem pensar que estamos comendo”, diz ele.
Embalagens pequenas podem diminuir o impulso de comer. “Você poderia pensar: ‘Ei, espera aí, não era para eu comer dois desses'”, porque você tem que abrir uma nova embalagem, diz Chandon.
Mas os executivos da Hershey dizem que os produtos “mão para a boca” estão aumentando as vendas da empresa porque as pessoas comem seus chocolates com mais frequencia e não necessariamente uma quantidade maior de cada vez. Consumidores gostam das embalagens relacráveis porque elas os ajudam a evitar que os papeizinhos das embalagens individuais fiquem espalhados pelo chão dos seus carros ou dentro das suas bolsas, diz uma porta-voz da Hershey. Quando consumidores veem uma embalagem relacrável, geralmente pensam que o produto leva mais tempo para estragar.
Os pesquisadores dizem não saber ao certo o quanto embalagens relacráveis influem nos hábitos alimentares, mas elas poderiam levar as pessoas a comerem menos ao fazê-las sentir que devem guardar um pouco para mais tarde. A rede americana de farmácias e lojas de conveniência Walgreen Co. afirma que vai mudar sua marca de amendoim Nice de tubos para sacos relacráveis neste ano. Alguns consumidores comem menos porque eles “abrem, tiram um tanto e fecham de novo”, diz Jim Jensen, diretor de parcerias globais da rede. “Outros diriam que é fácil de abrir e eu vou é comer o saco inteiro.”
Kristy Louridas é uma professora de educação física que come os Reese’s Minis em sacos relacráveis para satisfazer sua vontade de adoçar a boca depois de malhar ou jantar. “Quando estou a fim de comer, aqueles embrulhos podem ser uma amolação”, diz a moradora de Wayne, no Estado de Nova Jersey. “Estou provavelmente comendo muito mais do que faria normalmente.”
O saco já está “aberto. É como batata frita, é fácil e inconsciente”, diz ela.
(Por The Wall Street Journal) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo