A inglesa Tesco poderá encerrar seus cinco anos de tentativas de operar no competitivo mercado americano e vai se concentrar na recuperação dos resultados de seus negócios no país de origem e nos mercados emergentes de crescimento mais acelerado.

A terceira maior varejista do mundo informou estar avaliando sua deficitária divisão americana Fresh & Easy – processo que poderá levar à venda ou desativação da rede de 200 lojas que emprega 5 mil pessoas. “Simplesmente ficou claro para nós que a jornada rumo a retornos sustentáveis demandaria muito tempo”, disse Phil Clarke, CEO da companhia. “É provável, mas não certo, que nossa presença nos Estados Unidos chegue ao fim”, acrescentou.

O estudo sobre a viabilidade econômica da operação americana está sendo orientado pelo banco de investimento Greenhill e as conclusões devem ser divulgadas em abril, junto com os resultados do ano fiscal do grupo.

Clarke, principal executivo desde março de 2011 e funcionário de carreira da Tesco, que, na juventude, reabastecia as prateleiras de sua loja local, disse que encontrar uma solução para a Fresh & Easy permitirá ao grupo redirecionar recursos para mercados mais lucrativos.

Alguns analistas acreditam que a iniciativa poderá representar uma guinada fundamental no pensamento da Tesco. “A decisão sobre os Estados Unidos é apenas um primeiro passo. Prevemos que a empresa reduzirá significativamente os investimentos em bens de capital e se concentrará em gerar caixa e em aumentar o retorno sobre o capital empregado”, disse Philip Dorgan, da corretora Panmure Gordon.

A Tesco, que está atrás do francês Carrefour e do líder americano Walmart no ranking mundial do varejo (em termos de vendas), informou que recebeu uma série de sondagens vindas de partes interessadas em adquirir, total ou parcialmente, a Fresh & Easy, ou em se associar à empresa.

A empresa anunciou ainda que Tim Mason, o principal executivo da Fresh & Easy e vice-CEO do grupo, deixará a Tesco após 30 anos de atuação na empresa.

Tendo absorvido quase 1 bilhão de libras esterlinas (US$ 1,6 bilhão) em capital desde seu lançamento, em 2007, quando a Tesco era administrada por Terry Leahy, antecessor de Clarke, a Fresh & Easy não conseguiu registrar lucro num mercado em que concorre com empresas como a Trader Joe’s e a Whole Foods Market, além do próprio Walmart.

Clarke tem sido cada vez mais pressionado pelos investidores a tomar medidas decisivas e a diminuição do crescimento das vendas “subjacentes” (das operações continuadas, excluindo-se alterações cambiais) para 1,8% no terceiro trimestre, em relação aos 6,9% do segundo trimestre, pode ter sido a gota d’água.

Charles Heenan, diretor de investimentos da empresa de fundos Kennox, que tem a Tesco como sua terceira maior participação, comemorou a realização da análise da operação americana. “Seria ótimo se eles puderem vendê-la e ganhar rios de dinheiro, mas acho isso pouco provável. Preferiria que eles fossem embora definitivamente, mas, se o melhor que eles puderem fazer for estruturar algum tipo de parceria, não seria nada mau”, disse.

Ele acrescentou que a Tesco deveria se concentrar em resolver as dificuldades experimentadas no Reino Unido, onde voltou a registrar queda das vendas trimestrais subjacentes. O recuo levantou interrogações sobre a possibilidade de o plano de recuperação de Clarke, de 1 bilhão de libras esterlinas, estar enfrentando dificuldades para ter algum impacto.

As vendas da Tesco em lojas britânicas abertas há mais de um ano, excluindo-se vendas de combustíveis e o imposto de valor agregado sobre as vendas, recuaram 0,6% no período de 13 semanas encerrado em 24 de novembro. O resultado deve ser comparado a previsões que variaram desde uma queda de 0,9% a uma alta de 0,2%, e ao aumento de 0,1% computado no trimestre anterior – o primeiro após 18 meses de declínio.

Clarke disse que as vendas de alimentos, o principal foco de seu programa de recuperação, tiveram uma expansão de 1,2% nas lojas abertas há mais de um ano, percentual superior ao obtido pelo conjunto do mercado, mas reconheceu que a nova redução das vendas das categorias não alimentícias “não foi boa”.

A Tesco, que abalou os investidores em janeiro com seu primeiro alerta de lucros em mais de 20 anos, luta para recuperar impulso num cenário econômico fraco, com os consumidores britânicos preocupados com estabilidade no emprego e aperto da renda. A empresa enfrentou mais problemas que suas rivais, em parte porque vende produtos não alimentícios, que são alvo dos maiores cortes dos consumidores.

(Por Valor) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo