Quanto maior a opção de produtos e serviços ao seu consumidor, maior será sua rentabilidade, apontam os maiores players supermercadistas. O mais recente exemplo é o do Grupo Pão de Açúcar (GPA), que após ver seu lucro crescer 90% no acumulado de janeiro a setembro deste ano, e 65% neste terceiro trimestre quando atingiu lucro líquido de R$ 210 milhões – nas comparações com iguais períodos de 2011 -, lançará um canal para comercializar pacotes de viagens.

Segundo German Quiroga, vice-presidente-executivo da Nova Pontocom (braço de vendas on-line do grupo), a ideia de criar uma agência de viagem é ir na contramão das estratégias adotadas por quem já atua no setor de turismo. “Estamos estudando esse mercado a um ano e meio, analisamos diversas alternativas de entrada nesse setor. Hoje os concorrentes focam nos descontos em passagens aéreas, por isso esse mercado já esta saturado. Vamos entrar no segmento concentrando esforços na venda de pacotes turísticos”, disse ele.

As vendas serão via Internet e o site desse novo canal está em fase de testes, afirmou o executivo durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre do grupo. Outro grande nome do setor que anunciou que entraria no setor de turismo foi a norte-americana Walmart. Em nota, a varejista afirmou que aproveitou o maior poder aquisitivo do consumidor devido ao décimo terceiro salário para lançar o canal de vendas on-line de viagens. A rede oferecerá ao seu público-alvo passagens aéreas, hotéis e aluguéis de carros; além de opções de lazer urbano como reservas de restaurantes. A estimativa da supermercadista para o serviço, é obter aumento médio anual de 80% até 2016 na comercialização desse tipo de atividade.

Risco
Na opinião de Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira, especialista do núcleo de estudos e negócios do varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), a intenção dessas empresas é buscar diferenciação no mercado tão competitivo como o brasileiro e a rentabilização de suas operações.

Mas é preciso ter cautela, pois algumas empresas que tentaram inserir esse serviço anteriormente não tiveram sucesso. “Já houve caso de grandes empresas do Brasil que não deram certo no setor de turismo”, explicou Oliveira sem citar quais eram.
A explicação desse fracasso, segundo o especialista da ESPM deve-se a um desligamento das demais operações para focar na estratégia atual. “Geralmente para que o novo canal dê certo, os empresários esquecem de se atentar nas atividades que já atuam. Isso pode dar errado”, disse.

Questionado se isso de nenhuma maneira seria proveitoso, Oliveira explicou que em redes que têm como público-alvo os consumidores das classes C e D, a ideia pode até dar certo. “Com o fluxo de pessoas no ponto de venda físico que ainda não possuem computador, pode vir a dar certo”.

Para a Associação Paulista de Supermercados (Apas), isso não é uma tendência dentro das redes de supermercados. Em nota ao DCI, a entidade apontou que isso representa a ampliação de serviços ao consumidor. “O que vem ocorrendo no setor é o aumento das ofertas de serviços diversos, entre eles, há uma nova possibilidade, que são a venda de pacotes turísticos”.

A operação brasileira do Carrefour já havia se arriscado nesse segmento, mas em 2010 vendeu a Carrefour Viagens para a CVC.

Outros especialistas também veem boas possibilidades no empreendimento do GPA. Nuno Fouto, coordenador de Pesquisa do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), comentou que o projeto do Pão de Açúcar não é novidade no mercado mundial, o Waltmart e grandes redes varejistas europeias como o grupo francês Carrefour e os alemães Lidl e Aldi já possuem canais que oferecem serviços de viagens. “Não creio que seja uma tendência nova porque já funciona em muitos lugares. Os varejistas aprenderam que podem crescer usando a força de suas marcas, amplamente conhecidas por milhares de clientes, para entrar em novos negócios. O setor de serviços sempre tem boas oportunidades”, disse.

Ele também frisou que fora do País redes aproveitam o espaço das lojas para divulgar promoções e serviços de diferentes canais on-line. “A combinação do ponto de venda e do canal digital é muito positiva”, afirmou Fouto.

A analista Fátima Merlin, consultora de varejo da Connect Shopper, reforçou a opinião do professor da FIA ao explicar que
o cenário vem evoluindo e que as marcas buscam canais multifuncionais para se manterem presentes na vida dos clientes. “Aumentar canais com serviços on-line é uma forma de estar presente em todos os pontos de contato com os clientes. Os varejistas querem aumentar o share de sua loja e tendem a apostar em outros formatos. Além disso, lazer é uma das áreas em que o interesse público mais cresce”, disse.

Atacado
A compra por atacado é outro aspecto que tem tomado a atenção das grandes redes. O grupo Pão de Açúcar anunciou que pretende dobrar a participação geográfica de seu braço no segmento, o supermercado Assaí, presente em sete estados hoje, cuja expansão de lojas deve chegar a 14 até o final do próximo ano. Mesmo a longo prazo, a meta será cumprida, uma vez que os terrenos para a implantação de novas lojas já estão todos fechados, conforme afirmou Éneas Pestana, CEO do Grupo Pão de Açúcar.

A ação da GPA esta apoiada na tendência de crescimento do atacarejo, que segundo Merlin, cresceu acima de 2 dígitos nos últimos 5 anos. “No Brasil especialmente vemos um crescimento de pequenos empreendedores, que atuam como transformadores e procuram comprar matéria-prima para seus empreendimentos em lugares que oferecem quantidade e preços menores. O nicho já é explorado por redes como o Makro, mas existe muito espaço para crescer”, comentou a especialista. Belmiro Gomes, diretor-geral do Assai, explicou que a estratégia do mercado é se aproximar cada vez mais dos clientes pessoa jurídica.

O atacado já é um formato aceito pelo consumidor e segundo Roberto Nascimento Azevedo de Oliveira da ESPM, é por isso que os empresários têm investido mais. “Eu acredito que o atacado não é mais uma tendência e sim uma realidade. Eles investem mais, pois conseguem vender o mesmo artigo com dois preços diferentes, além de atender um grupo maior de consumidores.”

(Por DCI) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo