Quando a Carrefour SA apresentar seus lucros semestrais na quinta-feira, os investidores estarão esperando que o novo diretor-presidente da empresa, Georges Plassat, responda a uma questão candente: como ele pretende promover uma virada no abatido gigante varejista francês.

O terceiro líder executivo do Carrefour em quatro anos tem pela frente uma tarefa gigantesca. Um declínio nas vendas e tropeços estratégicos reduziram a cotação da ação da empresa pela metade desde 2010. Agora, enquanto a Europa desliza na direção de uma nova recessão, os consumidores estão se tornando cada vez mais frugais e o Carrefour batalha contra a feroz concorrência de rivais de menor custo.

Plassat já deu uma pista do que está por vir para o Carrefour, a segunda maior rede varejista do mundo, atrás só da americana Wal-Mart Sotres Inc. Ele quer se retirar de mercados não essenciais, reduzir os custos no mercado doméstico da França e dar mais autonomia aos gerentes de lojas.

Loja Carrefour Market, em Paris

Mas os investidores esperando que Plassat apresente um plano detalhado podem se decepcionar. O executivo, um veterano do setor de varejo, buscará um equilíbrio delicado entre tranquilizar os investidores e não exagerar na apresentação dos planos de virada. É pouco provável que ele siga os passos de seu antecessor, Lars Olofsson, que foi forçado a arquivar sua própria lista ambiciosa de tarefas a serem executadas e deixar o cargo no início deste ano após vários alertas de lucro.

A batalha da Carrefour é semelhante à de rivais como a britânica Tesco PLC e a Wal-Mart. As três redes se expandiram rapidamente em mercados internacionais, disputando a coroa de maior varejista do mundo, mas começaram a ver o negócio fracassar em seus mercados domésticos.

Para as rivais do Carrefour, a virada já está em andamento. A Wal-Mart vem se recuperando de uma queda recente no mercado doméstico e a Tesco lançou em abril um plano de revitalização de 1 bilhão de liras (US$ 1,6 bilhão). Mas as dificuldades do Carrefour em seu mercado doméstico são mais profundas do que seus pares globais e cobrir os custos de uma virada será um desafio adicional.

Desde que Plassat assumiu as rédeas da empresa no fim de maio, ele passou a se concentrar nos principais mercados, específicamente na Europa, Brasil e China. Em junho, a empresa se desfez de operações não lucrativas na Grécia e a possibilidade de sair de outros mercados está sendo considerada.

Os negócios na Turquia, Indonésia, Polônia, Malásia e Cingapura são os candidatos mais prováveis para venda, de acordo com vários observadores do mercado.

Os negócios da empresa na América Latina e Ásia também podem estar maduros para uma abertura de capital parcial, segundo alguns analistas. Christian Guyot, analista da Tradition Securities & Futures, acredita que essa opção é pouco provável, porque Plassat não vai querer “sacrificar lucro líquido” para levantar dinheiro. A empresa já cortou seu dividendo em mais da metade em 2011.

Na França, cortes de custos e reinvestimento em lojas devem ser prioridades. Um grande desafio que a empresa tem de resolver é o fato de que a fusão de 1999 entre o Carrefour e a Promodès produziu um excesso de pessoal residual. Os sindicatos temem que pode haver até 5.000 demissões, principalmente nos muitos centros administrativos da companhia em todo o país.

O Carrefour pode ter como meta cortes gerais de custos ou realocações entre 1,1 bilhão e 2 bilhões de euros (US$ 1,4 bilhão e US$ 2,5 bilhões) para os próximos dois ou três anos, além de 400 milhões da meta de US$ 400 milhões para este ano, de acordo com um relatório de Nick Coulter, analista da Nomura.

A recuperação não será fácil. O Carrefour e seu rival francês Casino Guichard Perrachon SA tem enfrentado uma concorrência crescente no mercado local nos últimos meses, à medida que a Groupe Auchan SA, uma rede varejista de propriedade familiar, e a rede de lojas de franchising da E. Leclerc ganharam terreno ao baixar os preços. Embora o Carrefour já ofereça preços baixos em produtos mais básicos — parte de uma estratégia implementada em 2011 pelo diretor das operações francesas Noël Prioux —, a empresa pode optar por diminuir a diferença com a líder francesa das redes de desconto E. Leclerc.

O maior desafio na França pode ser o declínio nas vendas no principal tipo de loja do Carrefour — os chamados “hipermercados” que vendem de tudo, desde croissants a computadores. Um plano para reformar essas lojas, além de esforços para reduzir os preços, pode tranquilizar os investidores.

“Tal plano acrescentaria substância à nossa crença de que Plassat e Prioux terão nas iniciativas para estabilizar o Carrefour”, disse Coulter, da Nomura.

(Por The Wall Street Journal) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo