>Diario do Comércio – Dcomercio.com.br – segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Mais dinheiro na praça, produtos mais baratos, maiores encomendas: tudo conspira a favor de um aumento de até 12% nas vendas.
Luiz Carlos de Assis – – 20/12/2009 – 20h55
Por mais de 300 dias os comerciantes do Brasil em geral e de São Paulo em particular ouviram falar de tudo sobre a crise. Que seria só uma marolinha, de acordo com o presidente Lula. Que era o fim dos tempos, no dizer de alguns economistas. Que as classes C, D e E cairiam do patamar a que ascenderam e não teriam como comprar mais nada. Depois, a maré virou e o otimismo começou a crescer. A última previsão é de que o tempo ruim acabou. Verdades ou enganos serão aferidos na temporada mais expressiva de vendas de qualquer ano. E as perspectivas apontam para o que pode ser o maior Natal da década.
O otimismo está em alta. E com toda razão, na avaliação de Marcel Solimeo, economista e superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Ele lembra que o ano não foi bom, mas que já foi possível verificar, mesmo antes do Natal, que os bens de maior valor – os eletroeletrônicos, principalmente –, os mais afetados pela restrição de crédito, já estavam recuperando vendas em novembro. No Natal, projeções dizem que o aumento de vendas deve estar entre 10% e 12%. Para o ano de 2009, o crescimento deve ser de 4%.
“As vendas de novembro já devem estar praticamente equilibradas com as do ano passado. Para este mês de dezembro, acreditamos que o volume de vendas seja superior às do ano passado. Devemos fechar o ano com bom ritmo de vendas”, diz Solimeo.
Igualmente, o economista Emílio Alfieri, vice-presidente do Instituto de Economia da ACSP, aponta o mês de novembro como o ponto de inflexão do comércio: os índices do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) foram negativos por todo o ano – em abril chegou a cair 19,1%. E que o primeiro resultado positivo foi exatamente novembro, uma alta de 0,4% sobre o mês anterior. Segundo Alfieri, a consulta a cheques (vendas à vista) em novembro já estava com 4,4% de alta:
“Com a entrada da segunda parcela do 13º salário, o nível de consultas pode chegar a 6%”.
13º salário para compras
Nestes dias, os trabalhadores acabaram de receber a segunda parcela do 13º salário, considerada a que efetivamente é gasta com presentes e compras de Natal (a primeira parcela serviu para pagar dívidas antigas). Serão injetados na economia brasileira mais R$ 85 bilhões, ou 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB), na avaliação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que, embora 64% dos consumidores devam reservar o 13º para quitar dívidas, o percentual dos que pretendem comprar presentes aumentou dois pontos. Este ano, 17% das pessoas afirmaram que vão adquirir eletrodomésticos.
A poucos dias da reta final de vendas, no início de dezembro, uma pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) apontou que o comércio em geral deve registrar crescimento de 12% nas vendas do Natal deste ano. Por esses números, o comércio deve fechar o ano com variação positiva de 4% em relação ao ano passado. Essa é a média, prejudicada pelo desempenho do primeiro semestre, quando as vendas aumentaram apenas 1%. No segundo semestre, a variação positiva foi de 7%, o que permite o otimismo.
Baseada nesse aumento continuado das vendas, a Pesquisa Mensal de Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que este pode ser o maior Natal da década, melhor até que o de 2007. Pelos dados de outubro, espera-se um faturamento do comércio, de todo o País, de cerca de R$ 92 bilhões. Essa avalanche de dinheiro será impulsionada principalmente pelos pacotes do governo que concederam isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca de eletrodomésticos, automóveis, materiais de construção e móveis.
Por sua vez, Emílio Alfieri afirma que este Natal possibilitará a venda de muitos produtos, até aqueles considerados mais caros. Isto porque, somente nos primeiros quinze dias de novembro, o número de consultas para as vendas a prazo cresceu 0,7% em relação ao mesmo período do ano passado, o que denota uma ligeira mudança no consumidor.
Reforço no estoque
Por conta do otimismo, o comércio reforçou seus estoques. Segundo a Fecomércio-SP, 77% dos lojistas fizeram encomendas às indústrias em volume igual ou maior do que as do Natal de 2008. O maior otimismo foi registrado entre os varejistas de alimentos e bebidas, os supermercados: 54% das empresas desse segmento fizeram pedidos maiores na comparação com 2008.
Com o dólar a R$ 1,70 – bem mais barato do que os R$ 2,33 do Natal do ano passado –, o comércio também vive a expectativa de vender mais produtos importados, principalmente alimentos de época, como castanhas portuguesas, nozes, avelãs, amêndoas, condimentos, vinhos e azeites. Na visão da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a previsão é de que a oferta será muito maior. De acordo com o Instituto de Economia da Unicamp, os preços de importados estão entre 15% e 20% mais baixos do que em 2008, o que leva ao aumento das vendas, diz o professor Giuliano Contento de Oliveira.
No ano passado, o tíquete médio de compras em São Paulo ficou em R$ 93, com predominância de vestuário e calçados, segundo a Fecomércio-SP. Para o coordenador de pesquisas do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar Fia) da Universidade de São Paulo, Nuno Fouto, as condições do Natal deste ano não favorecem preços mais baixos do que os do ano passado, porque naquele período havia forte influência da crise.
“A tendência se mantém, não acho que vá haver quedas muito grandes, suficientes para modificar o quadro ante o ano passado. Os preços devem até ser de 1,2% a 3% mais altos, com a tendência de mais procura do que oferta”.
Otimismo para 2010
Para vender tanto, em todas as ruas de comércio dos bairros, as lojas começaram a funcionar em horários ampliados desde novembro. No Bom Retiro, por exemplo, as lojas abrem também aos sábados, das 8h às 17h, e aos domingos, das 9h às 16h. No Brás, outro centro forte de comércio de roupas na região central, o horário estendido vai até 24 de dezembro. Atenderá todos os dias – de segunda a sexta, das 8h às 17h. Sábados e domingos, das 8h às 16h.
Segundo Marcel Solimeo, da ACSP, embora os shoppings tenham crescido muito, o comércio de rua ainda tem peso relevante. As lojas fora de shoppings ainda respondem por mais de 60% do mercado: “Há uma indústria de shoppings bastante ativa”. Mas considera que essa atividade toda pode causar algum estrangulamento, pelo excesso de oferta: “Isso acaba condicionando muito a expansão do varejo”.
De qualquer modo, a boa fase do comércio pode passar para o ano seguinte. Segundo Marcel Solimeo, da ACSP, a expectativa é bastante favorável. Houve mais encomendas do comércio à indústria, o que significa que haverá estoques no fim das festas, mas não muito altos. Do ponto de vista do consumo, ele diz, o Brasil está resolvido. É preciso, porém, calibrar o otimismo: “A economia como um todo ainda tem problemas. Os investimentos são baixos. A exportação de produtos manufaturados depende da recuperação do mercado mundial. Há otimismo, claro, mas ainda que sem outra recessão, os tempos ainda serão difíceis”.