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Segmento de eletroeletrônicos é o mais afetado, seguido pelo de atacado
Fonte: Folha de S. Paulo, São Paulo, 23 ago. 2009
Por Raquel Bocato

O furto representa hoje 38,1% das perdas do varejo brasileiro. Dependendo do segmento de atuação do varejista, essa parcela pode ser ainda maior, chegando a 57,5%, como no caso de eletroeletrônicos.
As conseqüências desse tipo de ação são claras: redução da margem de lucro e, consequentemente, da competitividade. Mesmo assim, investir em sistemas de segurança e de controle de perdas ainda não se tornou procedimento padrão.
Para Patrícia Vance, coordenadora do núcleo de prevenção de perdas do Provar/FIA (Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração), a falta de investimento em prevenção de perdas é uma questão cultural. Até a estabilização da economia, em 1994, com o Plano Real, ganhava-se com a inflação.
Agora, exige-se eficiência na operação para manter ou aumentar a margem de lucro e
sobreviver no mercado. Por isso, complementa, coibir os furtos é uma questão de sobrevivência para o varejista. Hoje os consumidores têm mais consciência de custo, o que impede que esse prejuízo seja repassado para os preços.
Mesmo assim, diz o economista Mareei Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), muitos comerciantes lançam mão desse recurso para tentar aplacar as perdas. “E inevitável. [A perda por furto] acaba compondo o preço.”


Segmentos
O segmento mais afetado é o de eletroeletrônicos. Mas outros não ficam atrás. No atacado, os furtos representam 46,1% das perdas. Vestuário soma 46%; drogarias, 42,1%; supermercados, 35,4%; e material de construção, 33,8%.
Os dados são da 9ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro, feita por GPP-Provar/FIA
(Grupo de Prevenção de Perdas), Nielsen, Abras (Associação Brasileira de Supermercados) e Felisoni Consultores Associados. Entre os fatores de perda também estão erros administrativos, fornecedores e quebra operacional.
Segundo Vance, do Provar-FIA, muitas grandes e médias empresas já contam com sistemas estruturados de prevenção de perdas. Mas não é regra. “Há redes de farmácias que trabalham sem isso”, exemplifica. E diz que, entre os pequenos varejistas, a adoção de sistemas de segurança ou controle está longe de ser uma diretriz.

Controle
Para o coordenador do Núcleo de Varejo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Ricardo Pastore, as formas de controle e prevenção do furto devem ser incorporadas na gestão da empresa.
“Isso começa com uma boa gestão de estoque, o que muitos varejistas ainda não têm”, finaliza Solimeo, da ACSP. Natalie Catuogno Consani, Colaboração para A Folha.

Produtos visados são pequenos e têm grande valor agregado
A lista de produtos visados é extensa, mas muitos reúnem qualidades comuns: são pequenos e têm alto valor agregado.
A explicação é simples, afirma Ricardo Pastore, da ESPM. São mais fáceis de carregar e de revender no mercado paralelo. Pilhas, aparelhos de barbear, acessórios para informática e para ferramentas, como brocas e serras, cosméticos, protetores solares e até aparelhos eletroeletrônicos são bastante visados.
“Televisores pequenos de LCD são grandes candidatos a engrossar a relação dos itens mais furtados”, prevê Pastore.
O consultor especializado em varejo Marco Antônio Geraigi-re faz uma distinção. Para ele, os produtos-alvo de furtos externos, feitos por clientes, são os de necessidade da pessoa ou da família, como medicamentos, ou ainda os que têm mais procura no mercado informal.
Já os de furtos internos, feitos por colaboradores, são objetos de desejo ou que podem ser consumidos dentro da loja.