O WhatsApp lança hoje no país o serviço de pagamento e transferência de dinheiro pelo aplicativo. É o primeiro mercado em que o app de mensagens, que pertence ao Facebook, libera esse tipo de transação financeira. A companhia fechou parceria com a adquirente Cielo, maior processadora brasileira de pagamentos.

“A partir de hoje, o Brasil é o primeiro país a receber esse serviço e achamos que vai ajudar as pessoas e os pequenos e médios negócios em um período importante. É mais seguro e mais conveniente que dinheiro”, disse Matt Idema, diretor de operações do WhatsApp, ao Valor.

O Valor antecipou, no dia 27 de abril, que WhatsApp e Cielo estavam em tratativas avançadas para oferecer o serviço. Naquele momento, o WhatsApp informou que ainda analisava como permitir pagamento no aplicativo e uma fonte próxima à Cielo adiantou que não haveria exclusividade. A corretora Guide avaliou, à época, como positivo o impacto para Cielo, por potencial aumento de volume de transações.

Há alguns anos especulava-se no mercado financeiro e de tecnologia quando o WhatsApp daria esse passo, tomando como referência o aplicativo chinês de mensagens WeChat — que se tornou uma das maiores plataformas de pagamentos móveis da China. Em 2018, o WhatsApp lançou o sistema de pagamento em modelo de testes na Índia, em uma versão beta limitada a um milhão de usuários. Desde então vem fazendo ajustes. Segundo Idema, foram dois anos desenvolvendo o serviço e o modelo lançado no Brasil foi testado, nas últimas semanas, por um grupo de funcionários de empresas do grupo.

A princípio, as transações no país poderão ser feitas por quem tiver cartões de débito ou crédito do Banco do Brasil, Nubank e Sicredi com bandeiras Visa e Mastercard. “Para nós é importante ter uma plataforma aberta, então adicionaremos outros bancos e adquirentes ao longo do tempo”, afirmou.

As transferências de pessoa para pessoa terão limite de R$ 1 mil por transações, poderão ser feitas 20 operações por dia, com limite mensal de R$ 5 mil. Já o pagamento para empresas não tem limitações, desde que seja para estabelecimentos no país e em moeda nacional.

De acordo com Idema, não haverá taxas para o usuário individual. Para as empresas, a taxa é de 3,99% sobre transação. “É gratuito para as pessoas enviarem e receberem dinheiro, e para um comerciante é uma taxa típica de transações de pagamentos”, disse o executivo. O custo é um meio-termo entre as taxas cobradas pela Cielo para débito e crédito à vista com maquininha comprada — que, segundo o “Blog Cielo”, é de 2,39% e 4,99% respectivamente.

O WhatsApp aposta fortemente no uso desse sistema por pequenos comerciantes no Brasil, não só pelo número extenso desse tipo de estabelecimento mas também pelo momento atual, de isolamento social em meio à pandemia da covid-19. “Muitas pequenas empresas no Brasil já utilizam o WhatsApp em seus negócios, para estar em contato com cliente e trocar informações, e agora vão poder efetivamente usar o aplicativo para pagamento”, disse Idema. “Pode ter um impacto grande para pequenos comerciantes, que são a base da economia brasileira, principalmente nesse período de isolamento social. Além disso, vai ajudá-los a entrar no universo da economia digital, incentivando a bancarização”, complementou.

Os pequenos negócios já utilizam o app para enviar links de pagamento, por exemplo, ou receber confirmações de depósitos de clientes, feitos em outro meio — como PayPal ou aplicativos bancários. “A tecnologia vai tirar milhares de empresas da informalidade e ajudar na inclusão financeira. O lançamento do serviço torna-se ainda mais importante para superarmos o momento delicado provocado pela pandemia”, disse Paulo Caffarelli, presidente da Cielo, em comunicado.

O WhatsApp não revela estimativa de volume, usuários e receita para o serviço de pagamento. Conforme Idema, o plano para as primeiras semanas e meses é adequar o serviço à medida que a empresa recebe as percepções dos usuários. “O objetivo não é ser um grande gerador financeiro para o grupo no médio prazo, e sim um serviço. Talvez seja uma linha de receita para nós no futuro”, disse o diretor de operações.

Para referência, o WeChat tem 1,2 bilhão de usuários — 800 milhões usam o serviço WeChat Pay, conforme o balanço do último trimestre da companhia, com média de 1 bilhão de transações por dia. São 50 milhões de comerciantes ativos no serviço de pagamento. Pertencente ao grupo Tencent, o aplicativo foi um dos principais vetores da migração da economia das grandes cidades chinesas para o pagamento móvel, em detrimento do dinheiro em papel ou mesmo do cartão de plástico.

Conforme o diretor de operações do WhatsApp, o sistema de pagamentos do aplicativo é ativado pelo Facebook Pay — sistema de pagamentos que, até agora, só operava nos Estados Unidos. Essa vinculação foi feita para que, futuramente, os usuários possam usar os mesmos dados para pagamentos em todos os aplicativos do grupo.

Na apresentação de resultados no início do ano, o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, afirmou que o sistema de pagamentos pelo WhatsApp também deve ser lançado este ano no México, na Indonésia e, desta vez em versão oficial, na Índia.

(Por Valor Econômico – Maria Luíza Filgueiras)

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