O mercado brasileiro de produtos orgânicos cresceu 20% em 2018 e alcançou faturamento de R$ 4 bilhões. Os dados são do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), que aponta ainda que o crescimento do mercado deve manter esse patamar por pelo menos mais dois anos.

Entre 60% e 70% da produção de orgânicos no Brasil é vendida em supermercados, afirma Cobi Cruz, diretor do Organis. Ele crê que o varejo alimentar no País está numa situação delicada em relação à adesão dos orgânicos. “Para os próximos cinco anos, as grandes empresas vão precisar olhar para os orgânicos para poder sobreviver. Por outro lado, não poderão abrir mão de vender produtos não orgânicos para manter a competitividade”, ressalta.

Cruz afirma que, apesar das dificuldades do Brasil desenvolver o mercado orgânico por conta do peso do uso dos agrotóxicos e por falta de uma cultura sustentável mais latente entre consumidores e empresas, os jovens puxam um movimento importante de adesão à vida saudável, da qual os orgânicos são parte fundamental. “O orgânico é um dos vagões desse comboio puxado por essa locomotiva chamada saúde. Não é todo mundo que adere a esse estilo de vida, afinal, ainda temos gente fumando, por exemplo, mas tem muita gente querendo se integrar a esse movimento”, avalia.

Um levantamento feito pelo portal G1 em 21 de fevereiro deste ano apontou que houve o licenciamento de quase um novo agrotóxico por dia desde o dia 1º de janeiro, somando 54 novos produtos do gênero em pouco mais de 45 dias. No dia 10 de janeiro, o Ministério da Agricultura liberou o registro de 28 agrotóxicos e princípios ativos até então proibidos. O Diário Oficial do dia 18 de janeiro disponibilizou ainda uma lista com mais 131 pedidos de registro de agrotóxicos, que serão avaliados pelo governo.

Para o especialista, além do avanço dos agrotóxicos, o Brasil sofre também porque sua legislação sobre orgânicos ainda é muito recente e o País está pelo menos cinco anos atrás dos mercados mais desenvolvidos nessa questão. Ele afirma ainda que os problemas de infraestrutura e o tamanho do território brasileiro também complicam a disseminação de um produto mais sensível. “No Brasil, temos vários gargalos, mas que podem ser oportunidades. É como vender sapato para quem anda descalço. A medida que baratearmos a logística, o consumo na outra ponta deve aumentar”, aponta.

Novas formas de embalar os produtos podem ser uma das maneiras de baratear o transporte. Hoje, os produtores orgânicos precisam recorrer a transportes exclusivos para evitar o contato dos produtos sem agrotóxicos com os que usam os defensivos. Novas embalagens que estão sendo lançadas no mercado podem evitar essa contaminação.

Apesar dos cuidados específicos da cultura orgânica, Cruz contesta a afirmação de que os produtos são obrigatoriamente mais caros. Ele fala que a discrepância de preço está muito mais relacionada à falta de pesquisa e investimentos. “A gente tem um problema com relação aos orgânicos que é de extensão rural (áreas reservadas à essa cultura) e falta pesquisa. A Native, que investe em pesquisa e tecnologia, consegue produtividade igual ou até maior que as tradicionais. Para o pequeno produtor é realmente mais complicado pelo custo da mão de obra”, afirma.

Restaurantes orgânicos

Uma pesquisa do Ibope apontou que 14% da população brasileira é vegetariana, o que corresponde a 30 milhões de pessoas. Desses, 8 milhões são classificados como veganos. Esse perfil de consumidor – preocupado com a origem do que consome – é um público potencial para os estabelecimentos que trabalham com orgânicos, como a Casa Graviola, que atua desde 2014 com varejo de comida orgânica. A rede de restaurantes abriu sua sexta unidade, desta vez em São Paulo. A marca já tinha unidades no Espírito Santo, Pernambuco e Rio de Janeiro.

A Casa Graviola tem como objetivo trabalhar com produtores locais e produção orgânica, mas encontra algumas dificuldades. No Rio de Janeiro, a empresa tem acesso a apenas um fornecedor fixo de produtos orgânicos, que produz apenas o hortifrúti. O fornecimento de frango, por exemplo, ainda é feito por produtores maiores de outras regiões. “A gente faz uma pesquisa no estado para achar parceiros. Hoje, os produtos orgânicos giram em torno de 70% a 80% do nosso estoque. Isso pode diminuir a depender do tempo”, conta Lucas Flores, gerente de operações da rede.

Exportações

Segundo o representante da Organis, as exportações ainda de produtos orgânicos brasileiros ainda esbarram em certificações que os produtos brasileiros não conseguem acessar para que sejam aceitos em outros países. “O Brasil consome 20% de todo agrotóxico do mundo e comercializa apenas 1% de todo o orgânico”, destaca Cruz para elucidar a falta de espaço dos produtos orgânicos nacionais no exterior.

Os Estados Unidos são responsáveis, segundo Cruz, por 40 a 50% de toda produção mundial de orgânicos, enquanto a maior área proporcional destinada ao cultivo de orgânicos está em Luxemburgo, com 30% do território local agricultável voltado para esse tipo de produção. A Dinamarca é o país que tem a maior penetração de orgânicos no varejo, 10%.

(Por NoVarejo – Raphael Coraccini) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Agrotóxico, Orgânico