A J.C. Penney desistiu do Brasil há mais de uma década. Olhando para trás, teria sido melhor ter ficado por aqui.

A Lojas Renner SA — empresa que a J.C. Penney vendeu em 2005 por US$ 230 milhões — agora vale US$ 7,9 bilhões, um ganho superior a 3.300 por cento.

Enquanto isso, a tradicional rede de lojas de departamentos americana enfrenta problemas em casa, onde lojas físicas são desbancadas por lojas virtuais.

O valor de mercado da Penney atualmente é apenas uma fração do que a companhia valia no passado.

Pesa a favor da Renner o fato de os consumidores brasileiros não mudarem seus hábitos de compras tão rapidamente quanto os americanos na era digital.

A Renner também deixou para trás o perfil de loja de departamentos e adotou a fast fashion (padrão de produção e consumo no qual roupas e acessórios são fabricados, consumidos e descartados em pouco tempo), estratégia que ajudou a empresa a suportar anos de recessão no Brasil.

Os investidores mostraram o quanto gostaram da proposta com uma valorização de quase 150 por cento da ação desde o começo de 2015.

“O mercado em geral gosta da Renner. Ela tem um management de muita qualidade”, disse Giovana Scottini, analista da Eleven Financial, em São Paulo. “É uma empresa que sempre conseguiu se transformar.”

A Renner em breve passará por outra transformação — talvez a maior desde que foi dispensada pela Penney, companhia sediada em Plano, no Texas, que não respondeu à solicitação de comentário para esta reportagem.

O presidente José Galló, que comanda a Renner há mais de duas décadas, vai se aposentar quando o contrato dele terminar, em janeiro de 2019. A companhia se recusou a informar quem irá substituí-lo, mas seja quem for, terá dificuldades para repetir a disparada das ações da Renner.

“Um dos principais desafios seria a sucessão do Galló”, disse Scottini. “A empresa teria que ter uma vertente de crescimento muito maior para ter um upside na ação em relação ao preço que ela está hoje.”

Razão preço-lucro

A empresa é negociada por quase 29 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses. A ação era cotada a R$ 34,60 no fechamento do pregão na terça-feira, ou 18 por cento acima do preço-alvo médio definido por analistas.

“Mesmo considerando que a empresa é extremamente bem administrada, que são operadores excelentes, notáveis, está caro demais”, acredita Bernardo Rodarte, que supervisiona R$ 1 bilhão na Sita Corretora, em Belo Horizonte. “Não tenho coragem de comprar.”

Sediada em Porto Alegre, a Renner está ciente das preocupações do mercado. A empresa passou cinco anos trabalhando em um plano de sucessão não só para Galló, mas para todos os diretores e, “sem dúvida”, terá uma transição de continuidade, segundo o presidente.

“Alguma coisa boa vai acontecer, eu estou bastante seguro, bastante tranquilo”, disse Galló. “O mercado brasileiro vai se consolidar. Estamos apostando nessa consolidação e acrescentando metros quadrados.”

No entendimento de Galló, continuidade significa foco em moda estilosa e de preço acessível, com giro rápido para acompanhar as tendências que vão surgindo.

A Renner vende roupas masculinas e infantis, mas seu principal público é o feminino. A empresa concorre com Forever 21, C&A e a marca Zara, que pertence à Inditex.

A Renner abre aproximadamente 60 lojas por ano e acaba de inaugurar a primeira unidade internacional, no Uruguai. A empresa não pensa em fazer uma grande aquisição.

“É a história de proposição de valor”, explicou Galló, que permanecerá no conselho de administração. “Aparentemente estamos na posição correta.”

Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Bloomberg.

(Por Exame) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM