Um mês após o início da Operação Carne Fraca, o setor ainda avalia os impactos das investigações nos preços da carne, nas margens de lucro das empresas e também no comportamento do consumidor.

Com a credibilidade de grandes frigoríficos colocada em xeque, os supermercados deram mais visibilidade a marcas alternativas de carnes vindas de frigoríficos de menor porte, especialmente, nos primeiros dias de investigação.

Embora São Paulo não tenha nenhuma planta frigorífica sob investigação, o Estado tem sofrido impactos com as barreiras impostas pelo mercado externo.

Desse modo, o momento pode ser uma oportunidade para pequenos e médios produtores de carnes conquistarem mais espaço em meio ao mercado nacional e internacional.

Sem a ambição de concorrer com os gigantes do setor, o frigorífico Cowpig produz a própria carne há 23 anos, e se transformou numa espécie de butique de carnes.

Foi justamente a oferta de cortes especiais de carne que tornou a empresa fornecedora de restaurantes que tem como público os consumidores da classe A, além das prateleiras de grandes redes varejistas, como Pão de Açúcar e Mambo.

Na semana seguinte à deflagração da operação Carne Fraca, as duas lojas conceito da marca, em Alphaville, na Grande São Paulo, e Boituva, distante 110 quilômetros da capital, registraram um aumento de 20% no volume de vendas de carne bovina.

Já nos supermercados, Renato Sebastiani, diretor administrativo e comercial da Cowpig, percebeu uma movimentação diferente em relação à distribuição de seus produtos, no último mês.

Áreas anteriormente ocupadas por peças de marcas como Friboi, Seara e muitas outras tradicionais nos supermercados deram lugar às embalagens de seu frigorífico em volumes muito maiores aos apresentados, normalmente. O mesmo aconteceu com as carnes de tantos outros frigoríficos desconhecidos por muitos consumidores.

Aconteceu o óbvio. Sem escolha, os clientes deram preferência à marca.”O que percebemos é que as pessoas estão dispostas a consumir produtos que não fazem parte do mercado tradicional, ou seja, de marcas envolvidas na investigação”, diz.

Sem revelar números, Sebastiani admite que alguns supermercados aumentaram os volumes comprados da marca.

Uma situação muito parecida aconteceu com a Wessel, comandada por István Wessel. Com um terço do negócio direcionado para o varejo, o aumento na procura por carne bovina no fim de março teve aumento de 10% nas primeiras semanas da operação. “Todo o efeito sobre o mercado foi muito curto”.

“Não podemos menosprezar os 150 países que compram do Brasil. Há muita formalidade e fiscalização nesse processo. Não dá pra comprar gato por lebre”.

A percepção de Wessel foi similar a de Sebastiani. Nos primeiros dias, muitas redes varejistas tiraram das geladeiras quem havia sido noticiado. Então, naquele momento, os consumidores deram atenção às marcas menores.

Já no ramo de Food Service, que representa 70% dos negócios da Wessel, o movimento foi maior. Além disso, muitos clientes que levavam uma possível negociação em banho-maria, assinaram contrato com a Wessel em meio à crise da carne.

“Tivemos um aumento de 15% no Food Service, e isso é um número muito alto”.

Essa tendência também foi percebida pela Carnivoria, em Alphaville. Com uma proposta diferente, o restaurante steakhouse possui um açougue dentro do estabelecimento, onde os clientes podem escolher a própria carne que será levada à mesa. Ou seja, o próprio cliente vai ao açougue que fica dentro do restaurante e escolhe a peça que quer comer.

Em meio a crise da carne, o negócio registrou crescimento de 23% no seu faturamento no mês de março em relação ao mesmo período do ano passado. Comparado ao mês de fevereiro, o aumento foi de 9%.

De acordo com Henrique Okuda, diretor-executivo da casa, os primeiros 10 dias de abril reforçam a curva ascendente, que se deve ao próprio conceito da casa, que trabalha exclusivamente com carne de procedência e extrema qualidade.

Diante da repercussão do escândalo, alguns países anunciaram restrições à importação de carnes. China e Hong Kong chegaram a suspender totalmente a entrada de carne brasileira. Um mês depois da operação, a lista de países com restrição total à importação de carne brasileira inclui 17 países.

As empresas JBS e BRF perderam juntas R$ 5,471 bilhões de seu valor de mercado, de acordo com a empresa de informações financeiras Economatica.

(Por Diário do Comércio) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM