A J&F, controladora da Vigor, negocia a venda da empresa de lácteos para a multinacional Pepsico, de acordo com fontes do mercado. A Pepsico fez duas propostas para adquirir o laticínio brasileiro, mas não houve consenso sobre o valor da transação, conforme antecipou ontem (7/3) o Valor. Ainda que as conversas entre as duas companhias atualmente estejam em banho-maria, a reportagem apurou que a J&F segue interessada na venda da operação e, inclusive, tem conversado com outros potenciais compradores.

Segundo fontes do setor, o último valor ofertado pela Pepsico foi de aproximadamente R$ 6 bilhões, o equivalente a um ano de faturamento da Vigor. No entanto, a J&F quer mais por sua empresa de lácteos, apurou a reportagem. As conversas entre as duas companhias ocorrem desde janeiro deste ano. A Vigor tem 50% da mineira Itambé, em sociedade com a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR).

Fontes do setor afirmam que a J&F tem o desejo de sair da operação de lácteos, pois está focando em outras áreas, como o Banco Original, por exemplo. A J& F também é controladora da gigante de alimentos JBS, da Eldorado, de celulose, e da Alpargatas, entre outras.

As informações de que a J&F teria interesse em vender a Vigor surgiram no mercado em outubro do ano passado. A Vigor ganhou espaço no mercado brasileiro de iogurtes no Brasil, especialmente nos últimos dois anos, com as vendas de iogurte grego. A empresa foi a primeira a lançar o produto no Brasil e acabou sendo beneficiada por essa estratégia em relação a outros concorrentes.

A companhia também tem reforçado sua estratégia de marketing com investimentos fortes em mídia, não apenas do iogurte grego, mas também de outros produtos da marca, como queijos. Nos últimos anos, a Vigor também buscou ampliar as vendas para outras regiões do Brasil além do Estado de São Paulo, reconhecendo que ainda não é uma companhia nacional.

Essa dificuldade de avançar no País, apesar de investimentos recentes, também pode explicar o desejo da J&F de se desfazer da Vigor, mas há outros fatores. De fato, o negócio de lácteos também é uma novidade na J&F, que acabou “herdando” a Vigor quando a JBS adquiriu o frigorífico Bertin, então dono da empresa de lácteos, em 2009. Com o tempo, contudo, os controladores afirmaram que passaram “a gostar” do negócio de lácteos.

No setor, uma dúvida é como ficaria a Itambé na negociação, já que a Vigor tem participação de 50% na empresa. A CCPR, dona dos outros 50%, fornece o leite que é processado na Itambé.

Do lado da Pepsico, o investimento na Vigor seria uma forma de reduzir a dependência do segmento de refrigerantes, cujas vendas estão em queda no mundo. A empresa de alimentos e bebidas já tem operações de lácteos na Rússia, Leste Europeu e Alemanha. Concorrentes da Pepsico também têm investido no segmento de lácteos nos últimos anos. A Coca-Cola, por exemplo, adquiriu a mineira Verde Campo no fim de 2015.

Conforme apurou o Valor, representantes da Pepsico visitaram unidades da Vigor no Brasil recentemente. Além da negociação com a Pepsico, a reportagem apurou que a J&F também ofereceu a Vigor para outras empresas do setor, como a francesa Lactalis, que nos últimos anos liderou o processo de consolidação no segmento no Brasil, com a aquisição de ativos da LBR- Lácteos Brasil e dos negócios de lácteos da BRF.

A Vigor Alimentos teve receita líquida consolidada (inclui Itambé) de R$ 5,219 bilhões em 2015, último dado anual disponível, já que a empresa fechou o capital na bolsa no ano passado. No primeiro trimestre de 2016, a receita líquida consolidada da Vigor somou R$ 1,194 bilhão, 10,8% acima do mesmo período de 2015.

Procurada pela reportagem, a J&F informou que não comentaria. A Vigor também não se pronunciou. Por meio de sua assessoria, a Pepsico disse que “não comenta especulações ou rumores”.

(Por Supermercado Moderno) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM