As ofertas de bancos e fundos de investimentos para financiar ou capitalizar a empresa em troca de participação societária são abundantes, mas a resposta da rede gaúcha de supermercados Zaffari é polida e direta. “Para quê? Não precisamos de injeção de recursos porque as reservas acumuladas e a geração própria de caixa permitem plenamente a sequência do ritmo de crescimento que a companhia tem”, afirma o diretor de expansão Cláudio Luiz Zaffari.

Quinto maior supermercadista do país, atrás de Pão de Açúcar, Carrefour, Walmart e Cencosud, o Zaffari investe em média R$ 200 milhões por ano em reformas e novos empreendimentos. “O ritmo não é alucinante porque não é correndo que se ganha qualidade, nem pessoas”, diz o executivo.

O plano, além da expansão programada no Rio Grande do Sul, é abrir pelo menos duas novas lojas em São Paulo nos próximos “dois ou três anos”.

A rede tem hoje 20 supermercados com a bandeira Zaffari, a mesma de dois dos seus nove hipermercados – os demais têm a marca Bourbon.

“O ritmo não é alucinante porque não é correndo que se ganha qualidade, nem pessoas”, diz Cláudio Luiz Zaffari
Para 2011, ela prevê receita bruta 15% superior aos R$ 2,49 bilhões do ano passado, que já havia sido 18% maior do que em 2009. O valor não inclui as locações de áreas comerciais nos seis shoppings Bourbon, que são contabilizadas como resultado e que em 2012 devem gerar ganho líquido equivalente ao das operações de varejo, estima o diretor do Zaffari.

O executivo diz que um dos temas de “maior interesse” do grupo Zaffari é a abertura de novas unidades na capital paulista, onde desde 2008 funciona o shopping Bourbon São Paulo, com um hipermercado Zaffari como âncora. “O desempenho da nossa loja tem sido bom, acima do planejado, mas ela precisa de companhia para ter mais eficiência”, diz Cláudio Luiz. Não há planos para avançar em outros Estados, diz ele.

O estudo mais adiantado em São Paulo é para a implantação de um empreendimento numa área de 32 mil metros quadrados na avenida Chucri Zaidan, na Vila Cordeiro (zona sul da capital). Mas há ainda outro terreno de 174 mil metros quadrados na rua do Oratório, na Vila Prudente (zona leste). A rede também tem sido convidada para ancorar novos centros comerciais em São Paulo.

A varejista já comprou lojas ou empreendimentos individuais no passado, como o antigo shopping Matarazzo, onde funciona o Bourbon. Mas nunca redes inteiras. Uma aquisição maior demandaria muito tempo, energia e dinheiro para integrar o novo negócios à estratégia e aos padrões de qualidade adotados pelo Zaffari.

Para o Rio Grande do Sul, onde opera em Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Passo Fundo, há projetos de vários tamanhos. No primeiro semestre de 2012 será inaugurada a primeira fase do Bourbon Wallig, em Porto Alegre, com 167,7 mil metros quadrados de área total construída, 238 lojas, oito salas de cinema, inclusive uma com tecnologia IMAX 3D, 20 operações de alimentação e 2,7 mil vagas no estacionamento. A construção começou no fim de 2009 e exigirá investimentos de R$ 250 milhões,

Antes disso, em dezembro deste ano, será concluída uma reforma de R$ 50 milhões, iniciada há dois anos, no shopping de Novo Hamburgo. Na mesma cidade, que fica na região metropolitana de Porto Alegre, a empresa tem uma área de 280 hectares, onde pretende fazer uma parceria para implantar um amplo empreendimento comercial e residencial capaz de absorver uma população de 25 mil pessoas.

“Não somos uma construtora nem uma incorporadora residencial e nem pretendemos ser”, afirma Zaffari. Não há prazos definidos para o novo projeto sair do papel, mas o modelo é o mesmo planejado para a área de 50 hectares comprada pela rede no extremo leste de Porto Alegre. De acordo com o diretor, 12 mil apartamentos estão sendo construídos num raio de três quilômetros em torno do local e a empresa pretende acompanhar o crescimento da cidade.

Em regiões mais nobres de Porto Alegre, há planos para construir três supermercados de vizinhança, com área de vendas abaixo de 2 mil metros quadrados, nos bairros Mont”Serrat, Rio Branco e Santa Cecília. Pelo menos dois deles devem ter as obras iniciadas até o fim deste ano, associados a torres empresariais e residenciais e também implantados em parceria com construtoras e incorporadoras.

Além de diretor de expansão e de porta-voz da rede, Cláudio Luiz é primo dos irmãos João Benjamin, Cláudio, Ivo José e Airton Alberto, que formam o “comitê diretivo” e foram reeleitos em janeiro para um mandato de mais três anos. Depois da morte do então presidente Marcello Zaffari (filho do fundador Francisco José Zaffari), em 2008, João Benjamin e Cláudio assumiram os cargos de diretores-superintendentes. Ivo José cuida do departamento de recursos humanos e das operações das lojas, enquanto Airton Alberto é responsável pelas áreas de marketing e de cartões de bandeira própria.

Tomando como base o último ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e considerando que o francês Casino assumirá o controle do Grupo Pão de Açúcar em 2012, a varejista gaúcha passaria à condição de maior rede de supermercados de capital nacional no ano que vem. Mas até aí a cautela fala mais alto. “Deve ter gente que vai vender mais do que nós neste ano”, diz o diretor, referindo-se à rede Prezunic, do Rio de Janeiro, que faturou R$ 2,45 bilhões em 2010.

Autor(es): Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre
Valor Econômico – 08/08/2011