Depois de a rede de livrarias Saraiva divulgar na semana passada que passa por um processo de revisão dos custos com ocupação de suas unidades, no último dia 23 foi a vez da concorrente francesa Fnac afirmar que deverá trabalhar no Brasil também com lojas em tamanhos reduzidos.

O objetivo de ambas é o mesmo, apesar de ser motivado por razões distintas. Na Fnac, a mudança é causada pelo aumento dos custos com aluguel e despesas operacionais, que aumentaram nos últimos anos e tornaram-se insustentáveis diante da crise econômica no País. Já na Saraiva, além da redução de gastos, há uma reestruturação de capital em andamento, o que motivou a companhia a acelerar a redução de algumas unidades.

Além disso, segundo especialistas consultados pelo DCI, a medida de redução do formato das lojas é uma tendência observada no varejo norte-americano, onde grandes redes travam verdadeiras batalhas para reduzir custos com as enormes lojas em operação, enquanto as inaugurações contemplam unidades reduzidas e mais produtivas. “As lojas terão que ser menores. Os custos com aluguel aumentaram muito nos últimos anos e é preciso trabalhar com a realidade. Inauguramos este ano o novo modelo de ‘proximidade’ no terminal três do aeroporto de Guarulhos e o nosso plano de expansão passa por formatos menores”, diz a CEO da Fnac no Brasil, Claudia Soares.

Atualmente, a maior unidade da rede em operação no País possui cerca de 3 mil metros quadrados, enquanto a loja localizada no aeroporto paulista possui entre 300 e 400 metros quadrados. As novas unidades, que fazem parte do plano de expansão da varejista francesa no Brasil, deverão ter esses tamanhos.

Para Soares, no entanto, esse não é um empecilho que atrapalhe a estratégia da empresa de tornar a experiência do cliente ainda melhor no momento da compra. “Temos uma forte preocupação para que o consumidor tenha uma ótima experiência de compra nas nossas lojas e temos trabalhado nisso. Estamos evoluindo nesse sentido. O formato ‘proximidade’ faz parte do plano”, garante a executiva.

Na rival Saraiva, a diminuição das lojas já começou. Atualmente com 112 operações no País, duas delas, uma em São Paulo e outra no Recife, passaram recentemente pelo processo de otimização e um conflito entre os acionistas pode ter acelerado as medidas.

Os primeiros resultados da mudança apareceram no último balanço da companhia. As despesas operacionais do grupo recuaram 3,3% no segundo trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 132,9 milhões. Sem contar o impacto do retorno do INSS às folhas de pagamentos dos funcionários, a redução seria maior: de 7,5%.

A dívida líquida consolidada da Saraiva, que entre os meses de abril e junho de 2015 era de R$ 754 milhões caiu para menos da metade em um ano, reduzida a R$ 311 milhões no mesmo período deste ano. Ao final do primeiro trimestre, ela estava em R$ 397 milhões.

Menor e mais produtiva

Na visão do especialista em varejo e head da GS&AGR – Gouvêa de Souza -, Alexandre Van Beeck, as duas redes seguem uma tendência que tem se fortalecido nos Estados Unidos, de reduzir formatos, mas aumentar a produtividade.

“Algo semelhante ocorreu com os supermercados, que ganharam modelos de proximidade, menores, mas que têm tudo que o cliente precisa. O pensamento é o mesmo. Oferecer um sortimento de itens adequado, ao invés de oferecer tudo quanto é produto, como era feito antes”.

Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, defende a mesma tese: “Não há mais espaço para lojas enormes, mas sim para lojas produtivas, que ofereçam serviços e experiências de compra que satisfaçam o cliente. Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes redes estão enfrentando problemas para efetivar essa otimização”, comentou o executivo.

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM