Às vésperas da votação pelo Senado do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o empresário Abilio Diniz, terceiro maior acionista do Carrefour global e ex-dono do GPA (Grupo Pão de Açúcar), diz estar esperançoso com as mudanças que estão por vir. Abilio afirmou que foi próximo dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, mas que agora o País está diante de um “fato novo”.

Para o empresário, o Brasil tem de passar por uma ampla reforma – que inclui cortes nos gastos públicos, revisão tributária, política e da Previdência. E defende abertamente um assunto espinhoso: aumento dos impostos. “Se a atividade econômica cresce, aumenta a receita. Enquanto não cresce, tem de aumentar o imposto. E é aí que vão dizer: De jeito nenhum! Não podem aumentar imposto. Isso é contra o País, é hipocrisia”, diz o também dono da Península, gestora de investimentos com cerca de R$ 10 bilhões em ativos, incluindo participações na gigante de alimentos BRF (dona da Sadia e Perdigão); Anima Educação e outros negócios.

Ajuste fiscal
“A primeira prioridade é o ajuste fiscal, a contenção dos gastos. É fundamental. Há uma discussão sobre limitar o crescimento do gasto à inflação. Eu pergunto: Que inflação? Se limitar os gastos de 2017 pela inflação de 2016, vai ter um gap, uma vez que a meta de inflação para o ano que vem, de 4,5%, deverá ser a metade deste ano. Eu seria mais radical nesse ponto. Limitaria à expectativa de inflação do ano que vem. Temos que reduzir os gastos públicos e elevar a receita”.

A volta da CPMF
“Se a atividade econômica toda cresce, aumenta a receita. Enquanto não cresce, tem de aumentar imposto. E aí vão dizer: De jeito nenhum! Não podem aumentar imposto. Isso é contra o País, é hipocrisia. Se não tem como (elevar a receita), tem de aumentar imposto. Em 2015, a carga tributária não aumentou. Neste momento, precisa pensar no País. Tem de zerar esse déficit fiscal. Se for ter aumento de imposto, teria de ser de maneira transitória e por lei. Muita gente fala da CPMF como se fosse um palavrão. Palavrão é deixar a classe mais pobre sofrer, não gerar emprego, não ativar a economia. Isso, sim, é ruim para o País. Por que recomendo a CPMF? Porque é simples de implantar e arrecadar”.

Impeachment da Dilma
“Estou muito esperançoso. O impeachment é um fato novo. Não podemos continuar a fazer o que a gente estava fazendo, mais do mesmo, e não podemos continuar com um governo que não estava dando certo. Estou muito tranquilo para falar porque todos sabem que fui muito próximo do Lula e da Dilma. E, durante todo esse tempo, procurei ajudar. Não a eles, mas ajudar o Brasil dentro das minhas convicções. E até os últimos momentos, sempre estive à disposição do governo. Nunca tive nada contra o Lula nem a Dilma. Pelo contrário. Eles fizeram muito pelo Brasil, tiraram muita gente da linha da pobreza. Eu considero a Dilma uma pessoa honesta, bem intencionada, mas no final não deu certo”.

Carrefour
“Estou fazendo um trabalho diferente do que sempre fiz. Sempre fui um cara que diz que nunca tenho pressa, mas ando em alta velocidade. No Carrefour global tem sido um trabalho de construção. Desde 2009, tenho contato com acionistas, antes de tentativa de fusão com GPA (em 2011). Após minha saída do Pão de Açúcar (em 2013), passei a comprar ações do Carrefour. Meu alvo sempre foi o Carrefour global, mas os gestores disseram que primeiro eu tinha de pensar no Carrefour Brasil. A gente segue a regra (o empresário detém 12% do Carrefour Brasil). Depois, por meio da Península, começamos a comprar ações no mercado do Carrefour global (fatia de 8,05%). Somos o terceiro maior acionista (atrás da família Moulin, da Galeries Lafayette; e de Bernard Arnault, dono da Louis Vuitton). O foco não é comprar mais ações, mas melhorar a performance do Carrefour global e participar da gestão. Em todos os negócios, a Península quer participar da gestão. É o que fazemos melhor”.

Jean-Charles Naouri
“Se encontrasse o Jean-Charles Naouri (dono do Casino, controlador do GPA, e antigo desafeto de Abilio) na rua, eu diria: Olá, Jean-Charles. Como está? Naquele momento mais crítico (do litígio), até voltei a lutar boxe. Foi difícil. Depois passa. De 1999 (quando o Casino tornou-se sócio de Abilio) a 2009 (antes da relação azedar), trabalhamos juntos. São dez anos. Uma vida. Fiz muita coisa pelo Casino. Não sou de guardar rancor. Eu me reinventei”.

(Por Supermercado Moderno) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM