Um primeiro conjunto de resultados do segundo trimestre de companhias de varejo e consumo no Brasil mostrou um cenário ainda desafiador para o setor, mas com sinais de que o pior da crise econômica pode ter ficado para trás.

Entre esses sinais estariam alguma estabilização na tendência negativa das vendas nos últimos trimestres, tendo como pano de fundo uma melhora relativa na confiança do consumidor.

Mas a pressão nas margens dessas empresas e indicadores ainda incertos de variáveis econômicas, particularmente emprego, renda e crédito, mantêm os analistas ainda reticentes sobre um viés mais otimista para o setor de varejo.

Na visão do assessor econômico da FecomercioSP, Guilherme Dietze, o que houve foi um “suspiro de confiança”, e para efetivar isso no consumo é preciso também mudanças em outras variáveis econômicas, como emprego, renda e crédito, fundamentais para que o consumidor retome o ritmo de compras.

“O ‘pior que ficou para trás’ foi quando não havia nenhuma expectativa de melhora. Agora, há uma expectativa, mas se ela vai se cumprir, só o tempo vai dizer”, destacou Dietze.

Dados divulgados no mês passado pela Fundação Getúlio Vargas mostraram o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subindo 5,4 pontos na comparação com o mês anterior, maior ganho registrado neste ano e terceiro mês de alta.

Enquanto isso, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), por sua vez, mostrou a taxa de desemprego brasileira subindo a 11,3 por cento no segundo trimestre deste ano ao mesmo tempo em que a renda média voltou a cair.

“Do que vimos (resultados trimestrais de empresas), é muito cedo para falar em reversão de tendência”, reforça o analista João Mamede, do Santander Brasil. “Pode ser um estágio em que os resultados pararam de piorar, mas é cedo falar que estão em processo de recuperação.”

O analista Lucas Santoro, da Canepa Asset Brasil, endossa a premissa de que algumas variáveis macroeconômicas ainda jogam contra uma recuperação de vendas no curto prazo, mas também diz não esperar quedas expressivas na base anual como visto em 2015.

CASO A CASO

Entre as divulgações de resultados trimestrais da última semana, Lojas Renner e Raia Drogasil se destacaram positivamente, conseguindo até surpreender os profissionais do “sell side” que já aguardavam resiliência de ambas as empresas ao cenário econômico.

A varejista de vestuário, por exemplo, conseguiu apresentar entre abril e junho alta nas vendas, com melhora na margem bruta devido a menores remarcações de preços e a campanhas de controle de estoques e da inadimplência.

No caso da rede de varejo farmacêutico, animou o mercado o desempenho das vendas no conceito mesmas lojas no período combinado com a ampliação de um plano já considerado ambicioso para a abertura de lojas, que passou a 200 unidades por ano.

Natura dividiu opiniões, após um resultado de modo geral considerado fraco e com margens ainda pressionadas, principalmente pelas operações no Brasil, enquanto reverteu a tendência negativa nas vendas brutas no país.

A equipe do Credit Suisse, que elevou a recomendação dos papéis da fabricante de cosméticos para “neutra”, disse que os resultados do segundo trimestre da Natura ainda foram fracos ante 2015 ou 2014, mas que estão melhorando.

“Notamos a inflexão nas tendências de vendas no Brasil, em conjunto com estabilidade das despesas operacionais (SG&A) em termos nominais, o que é um bom sinal para a alavancagem operacional”, disse a equipe do Credit Suisse, liderada pelo analista Tobias Stingelin, em relatório.

Na ponta negativa, chamaram a atenção Grupo Pão de Açúcar e sua rede de eletrodomésticos e móveis Via Varejo, apesar de alguma melhora das vendas.

Analistas, de modo geral, consideraram o resultado da maior rede de varejo do país fraco e poluído com ajustes, bem como ajudado por créditos fiscais, enquanto a Via Varejo sofreu com forte aumento de despesas operacionais.

A Cia Hering também não agradou, com retração nas vendas do segundo trimestre no conceito mesmas lojas. Para a equipe da Brasil Plural, há pouca evidência de que a empresa será capaz de melhorar a percepção do consumidor em relação à marca.

A temporada ainda reserva balanços de um grupo relevante de empresas, como Lojas Americanas, B2W, Arezzo, Lojas Marisa, Magazine Luiza, Guararapes Confecções, entre outras.

AÇÕES

O tom ainda conservador acerca dos números trimestrais do setor de varejo contrasta com a forte reação de algumas ações na semana passada, desproporcional quando considerado o desempenho do período de abril a junho e as perspectivas.

Lojas Renner acumulou desde a divulgação do resultado até a última sexta-feira alta de 4,64 por cento em quatro pregões, enquanto Raia Drogasil valorizou-se 3,24 por cento em apenas um dia após a apresentação do balanço na noite de quinta-feira.

Mas o que chamou a atenção foi a disparada de 22 por cento apurada por Natura em apenas dois pregões, enquanto Cia Hering saltou 8,3 por cento em uma sessão na sequência dos números do segundo trimestre, apesar das avaliações não tão positivas dos analistas para os dados de ambas.

No caso de GPA e Via Varejo, a intensa correção negativa, de 8,8 e 12,8 por cento, respectivamente, na sequência de suas divulgações trimestrais, ocorreu depois de forte valorização na esteira dos dados prévios de vendas do trimestre.

Para Mamede, do Santander Brasil, há uma certa euforia com o Brasil, em razão do momento político, expectativa de melhora de indicadores econômicos, o que explica o movimento tão forte das ações que não tem relação com os números do segundo trimestre.

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM