Mario Mello tem 49 anos, mas o diretor-geral do PayPal para a América Latina aparenta ter dez anos a menos — fisicamente e na visão de mundo. A todo momento, ela remete ao futuro.
A questão física ele atribui aos bons genes (“Meu avô, quando chegou aos 95 anos, aparentava 60”). A outra é sinal de nossos tempos. Alta tecnologia é um de seus assuntos preferidos, que ele divide com o momento em que o dinheiro em espécie praticamente deixará de existir. E a empresa que dirige tem isso em foco.
“Coisas como moedas e notas se tornarão quase uma raridade. Vão se tornar algo realmente muito residual na economia. Produtos e serviços — todos — serão comprados e vendidos eletronicamente”, afirma. E isso por meio dos cada vez mais onipresentes smartphones. “Não vai demorar muito. Calculo algo entre cinco e 10 anos, no máximo, para que ocorra. O futuro chega rápido.”
A companhia que ele lidera é uma subsidiária integral do PayPal dos EUA. Essa é uma empresa de capital aberto, com 15 anos de existência, que no passado pertenceu ao site de leilões eBay e que hoje vale cerca de 48 bilhões de dólares. Tem em todo o mundo 179 milhões de clientes. O PayPal brasileiro, especificamente, viu suas operações crescerem quase 100% no ano passado — e aguarda performance semelhante para 2016.
“Uma das razões para o crescimento do e-commerce no Brasil é justamente o surgimento de plataformas de pagamento como PayPal e Mercado Pago [criada pela site Mercado Livre]”, afirma Laure Castelnau, diretora do Ibope Conecta: “Elas trazem segurança aos compradores, além de proporcionarem praticidade e agilidade a todo o sistema”.
Essa segurança é um dos focos do PayPal. “Pode acontecer, por exemplo, que seu smartphone tenha algum vírus. Ou que o celular do taxista onde você vai pagar uma corrida tenha um. O próprio sistema wi-fi onde você está pode não ser seguro. Nós tornamos os pagamentos eletrônicos seguros e livre de riscos”, diz Mello.
Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o executivo tem mais de 20 anos de experiência na indústria de serviços financeiros, tecnologia e gestão empresarial. Antes de assumir o comando da empresa em toda a América Latina, foi diretor-geral do PayPal para o Brasil por dois anos.
Mello foi, no passado, integrante da geração pioneira de jovens executivos do BankBoston no Brasil, à época em que Henrique Meirelles o comandava (a instituição hoje não atua mais no varejo bancário local). Foi diretor do Banco Real (“trabalhei com o Fabio Barbosa [ex-presidente do Santander no Brasil]”) e membro do conselho de administração da Cielo. As instalações do PayPal em São Paulo, para onde ele se dirige diariamente, ficam na avenida Paulista, principal polo de finanças do Brasil. “E todos os nossos funcionários são contratados por nós, e não terceirizados”, diz. O vínculo estreito entre trabalhadores e empresa é vital para a organização que ele dirige.
O PayPal mundial define-se tecnicamente como uma plataforma de pagamentos global. Opera em 203 mercados ao redor do planeta. Transações financeiras passam por seus servidores em mais de 100 moedas diferentes. É uma das 100 maiores empresas da Nasdaq, o mercado de ações de empresas de alta tecnologia (eletrônica, telecomunicações, informática, biotecnologia, entre outras).
“Se você olhar o mercado brasileiro, 85% dos celulares vendidos no ano passado foram smartphones”, diz. “Nós temos parceiros, principalmente no ramo do vestuário, para os quais 40% das transações já são iniciadas e finalizadas no celular. Falando em termos mundiais, mais de 25% das transações já seguem o mesmo caminho. A questão para nós é: como conquistar esse mercado?”
A primeira resposta poderia ser: esse mercado já foi conquistado pelo PayPal. Embora os dados do e-commerce no Brasil ainda não sejam adequadamente compilados, Mello estima que a empresa lidere no país. “O setor nacional de e-commerce é muito concentrado. São 20 players que detêm 80% do volume das operações. Há o Submarino, por exemplo, e as operações pontocom de varejistas como Ponto Frio, Walmart e Casas Bahia. Muitas destas são nossas parceiras”, afirma.
Mario Mello Freire Neto comanda um tipo de negócio que tem largas fronteiras para se expandir no Brasil. Hoje, ele conta, 3,5% das transações são feitas eletronicamente. Nos EUA, por exemplo, tal índice já está em 12%. Portanto, o potencial de crescimento para companhias que fazem o que o PayPal faz é quase exponencial. Esse, provavelmente, é uma dos motivos do entusiasmo de Mello com a operação que comanda.
Sobre as ambições da empresa no Brasil, ele é claro e cita metas — algo não muito comum para executivos de seu nível, até por receio de cobranças futuras. “Nossa ambição: queremos dominar entre 30 e 40% do mercado brasileiro de pagamentos”. Quando? “Dentro de cinco anos.”
Em se tratando de metas, ele vai além: “Nós temos uma ambição maior. Veja, hoje movimentar dinheiro sem ter de pagar tarifas é um privilégio de clientes de alta renda. Queremos que, no Brasil e em todo o mundo, isso mude, e também as pessoas de menor poder aquisitivo possam pagar e receber sem tarifas. Queremos democratizar o dinheiro”. E ele continua: “A tecnologia vem mudando radicalmente algumas áreas, e a nossa é uma delas. Nós acreditamos que nossa função é usar a expertise de que dispomos em e-commerce para melhorar a vida financeira de nossos clientes de menor renda”.
A empresa acaba de lançar uma campanha mundial de marketing. Seu lema? Paypal is the New Money (PayPal é o novo dinheiro). Com empresas como o PayPal e outras expandindo-se a uma velocidade acelerada, em breve o dinheiro físico será usado apenas para transações extremamente modestas — se tanto. “E isso vai ser ótimo”, afirma. “O custo das operações vai baixar muito. Já está baixando. Essa economia vai se refletir nos preços de produtos e serviços. Já está se refletindo”, observa Mello.
E qual a receita para se crescer tanto como o PayPal em um ano de recessão? “É simples. Há um ditado chinês que diz que sorte é a soma de trabalho duro com oportunidade. Foi o que aconteceu conosco em 2015.” Em épocas de crise, observa Mello, as pessoas querem comprar produtos mais em conta, já que têm menos dinheiro. É justamente isto que o e-commerce oferece: itens mais em conta, pois carregam um custo de operação menor devido à ausência de lojas físicas (essa é a parte da oportunidade). E, é claro, a empresa não cessa de reinventar-se em procedimentos a cada dia (essa é a parte do trabalho duro).
Mello é casado há 20 anos e tem duas filhas adolescentes. Seu hobby? Cozinhar. É um bom chef para receitas italianas e francesas. De acordo com a receita que tem para o futuro, no Brasil e no mundo, sempre focado no dia de amanhã, demonstra ser também um grande chefe para o PayPal.
(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM