Condição necessária para uma retomada mais consistente da indústria, o ajuste do nível de estoques no varejo ainda não ocorreu na mesma intensidade observada nas fábricas. Segundo índices calculados pela Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) e pela Federação do Comércio e Serviços do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o número de empresários do setor que considera o nível de mercadorias paradas acima do adequado recuou ligeiramente entre maio e junho, mas ainda é elevado.

Em todo o país, um terço dos lojistas (32,6%) disse ter estoques acima do desejado em maio. O dado caiu pelo segundo mês seguido e ficou 1,8 ponto abaixo do resultado do mês anterior, o maior da série histórica iniciada em 2011. Na média, o indicador subiu 0,3% na passagem mensal, para 83,3 pontos. Quanto maior o índice (de zero a 200 pontos), mais equilibrados os estoques.

Levantamento da Fecomercio na região metropolitana de São Paulo mostra movimento um pouco mais forte de ajuste, com alta de 87,4 para 93,8 pontos no índice que mede a adequação do volume de estoques no período. A parcela de estabelecimentos com inventários acima do desejado seguiu acima da média nacional, em 37,5%, 1,2 ponto acima do registrado em junho de 2015.

“Esse momento de ajuste de estoques ainda não está nítido no varejo”, diz Vitor França, assessor econômico da FecomercioSP. Segundo França, o problema nos inventários não ocorre por conta de pedidos em excesso dos comerciantes, mas devido ao fraco nível de demanda, que leva os empresários a terem a percepção de que estão com mais mercadorias paradas do que precisam.

Como exemplo, ele menciona que, no Dia das Mães, 40% dos lojistas consultados pela entidade na cidade de São Paulo afirmaram que os estoques estavam menores do que na mesma data em 2015. No Dia dos Namorados, o percentual foi maior ainda (47%). “Não há sinalizador de que a demanda para a indústria vá crescer”, especialmente no segmento de bens duráveis, afirma França.

No levantamento feito pela CNC em todo o país, a pior situação ocorre nas lojas de bens duráveis, em que 37% consideram o volume de estoques acima do desejado, alta de 3,4 pontos sobre junho de 2015. Nas de semiduráveis, o aumento nessa fatia foi de 3,9 pontos, para 27,8% do total. Mesmo no setor de não duráveis – principalmente supermercados – houve expansão na parcela de comerciantes com estoques acima do previsto (de 26,3% para 30,2%).

Embora as vendas de bens duráveis, como móveis, eletrodomésticos e veículos, continuem com desempenho mais negativo, Izis Ferreira, economista da CNC, destaca que a deterioração mais acentuada no dado de estoques ocorreu no setor de não duráveis. Neste, o número de empresas que avaliam seu nível de mercadorias paradas como acima do adequado subiu 14,8% sobre junho de 2015, refletindo aumento de preços e maior restrição na renda.

Para a economista, o nível de estoques acima do planejado no varejo ainda é significativo, mas a redução em relação a maio pode ser um indício de que a avaliação dos comerciantes sobre esse quesito pode melhorar. No segundo semestre, a atividade do varejo deve mostrar relativa estabilidade, o que tende a adequar melhor o patamar de estoques. “Precisamos ver os próximos resultados para afirmar isso com certeza.”

Muitas lojas seguem fazendo promoções para desovar estoques. Segundo França, da FecomercioSP, esse acúmulo indesejado de mercadorias é um dos fatores que explicam o fechamento de estabelecimentos. De acordo com a CNC, 96 mil pontos encerraram atividades em 2015.

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM