O ambiente no Brasil dificulta a participação de varejistas de moda internacionais, e não apenas por causa da crise econômica. Na avaliação da consultoria Sonne, especializada em gestão de marcas, a perspectiva é que aspectos estruturais continuem a representar entraves para as grifes estrangeiras por pelo menos mais uma década.

“Ainda que o governo faça tudo certo e consiga reverter os indicadores macroeconômicos hoje negativos, o país ainda não tem um ambiente favorável para o modelo de negócios que essas companhias adotam globalmente”, afirmou Maximiliano Bavaresco, sócio-diretor da Sonne Consultoria. Esses modelos de negócios, observou o analista, dependem de uma cadeia de produção e de um sistema de logística muito eficientes, com capacidade de entrega e adaptação a mudanças na demanda muito rápidas. “Atualmente a cadeia de confecção no Brasil não tem essa agilidade”, diz.

Os custos também são mais altos em função da carga tributária elevada, dos custos com logística mais altos, entre outros fatores. “Se as empresas optam pela importação o problema é maior por conta da variação cambial, das tarifas de importação e de burocracias para o desembaraço de produtos na alfândega”, observa Bavaresco.

Como resultado, praticamente todas as grifes internacionais são obrigadas a trabalhar no Brasil com preços mais altos em relação aos praticados no exterior. “O problema é que essas empresas começam a atingir uma faixa de preço que tira a competitividade com as grandes varejistas brasileiras”, disse o analista.

GB

De acordo com o levantamento feito pela consultoria, entre as grifes internacionais com operação no Brasil, a C&A e a Forever 21 são as únicas que se posicionam em uma faixa de preços que atendem as classes B e C, em linha com suas grandes concorrentes brasileiras, como Renner, Riachuelo, Marisa e Hering. Esse posicionamento fica em linha com o praticado pelas redes no exterior.

Outras marcas, como Gap, Zara e TopShop, operam no Brasil com preços mais altos em comparação às varejistas nacionais, passando a ter um foco mais voltado às classes A e B. De acordo com a Sonne, esse perfil de preços também é mais alto do que o praticado pelas companhias no mercado internacional.

Bavaresco estima que outras grifes internacionais ainda tendem a encerrar operações no Brasil nos próximos anos, se não forem capazes de ajustar custos e estratégia de preços no país. “Muitas vezes essas grifes acabam se afastando daquele que seria o seu público potencial por conta dos preços mais elevados. E como nem todas têm uma identidade de marca tão forte no país, acabam tendo problemas para atingir um volume de vendas razoável”, afirmou Bavaresco.

A conjuntura recessiva é um fator negativo a mais. Nos quatro primeiros meses do ano, as vendas no varejo de roupas, calçados e tecidos acumularam queda de 12% em volume no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Abril foi o décimo sétimo mês consecutivo de retração no setor. O recuo foi de 8,8% sobre abril de 2015.

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM