A fabricante americana de alimentos e bebidas Mondelēz International Inc. fez uma oferta de cerca de US$ 23 bilhões pela gigante dos chocolates Hershey Co., também americana, um negócio que poderia unir duas das maiores fabricantes de doces do mundo.

A Mondelēz, que fabrica os biscoitos Oreo e as barras de chocolate Cadbury, entre outros produtos, recentemente enviou uma carta à Hershey propondo a união a um preço de US$ 107 por ação, com o pagamento metade em dinheiro e metade em ações, dizem pessoas a par da proposta.

A Hershey rejeitou a oferta imediatamente, informando que seu conselho concluiu que essa manifestação de interesse não fornece nenhuma base para negociações com a Mondelēz.

As ações da Hershey subiram 15%, para US$ 111,87, com a divulgação da oferta pelo The Wall Street Journal. As da Mondelēz subiram 5%, para US$ 45,13.

A Hershey, fabricante dos chocolates Kisses e das barras de chocolate com seu nome, tinha um valor de mercado de US$ 21 bilhões até a divulgação da notícia pelo WSJ, e a Mondelēz, de US$ 69 bilhões.

Qualquer tipo de negócio exigiria a aprovação do Hershey Trust, controladora da Hershey, com 8,4% das ações ordinárias da empresa e 81% de seu poder de voto. Ele já se opôs à venda da empresa no passado. O breve comunicado da Hershey não mencionou a controladora, mas a Mondelēz parece preparada para ir mais longe em busca do negócio.

A Mondelēz está prometendo proteger empregos depois da fusão, instalar a sede da nova empresa combinada em Hershey, no Estado americano da Pensilvânia, e chamá-la de Hershey, segundo uma das pessoas.

O negócio entre a Mondelēz e a Hershey criaria a maior empresa de doces do mundo, unindo as atuais segunda e quinta colocadas por receita, de acordo com a firma de pesquisa Euromonitor. A Mondelēz ocupa a segunda posição, atrás da Mars Inc.

Acredita-se que o negócio enfrentaria pouca resistência das autoridades de proteção à concorrência nos EUA, já que a Mondelēz não tem uma presença própria no mercado de chocolate americano. A Hershey, fabricante dos chocolates Cadbury, vendidos nos EUA num acordo de licenciamento com a Mondelēz, tem uma presença limitada fora dos EUA.

Ainda assim, não está claro se a oferta vai levar a um acordo. Ela pode fazer outras empresas que também cortejam a Hershey a entrar na disputa.

A Nestlé SA é uma delas. A gigante suíça de alimentos licencia sua marca KitKat para a Hershey nos EUA e tem o direito de exigir o controle da marca sem nenhum custo se outra empresa comprar a Hershey. Isso poderia reduzir o valor da Hershey para a Mondelēz em até US$ 3 bilhões, diz uma pessoa a par do assunto. A Nestlé, contudo, pode enfrentar questões antitruste nos EUA se tentar comprar a Hershey.

O Hershey Trust é outro possível problema. Estabelecido pelo fundador da empresa de 122 anos, Milton Hershey, o fundo fiduciário tem um mandato que vai além de simplesmente maximizar valor para o acionista. Seu principal beneficiário é uma escola para crianças carentes na cidade de Hershey.

Milton Hershey era considerado tanto filantropo como empresário. Sua origem menonita, ligada às igrejas protestantes, levou o filho de imigrantes alemães a acreditar que as empresas e seus líderes tinham a obriação moral de compartilhar sua riqueza com a sociedade. Então, ao mesmo tempo em que construía sua fábrica de chocolate, ele também levantou uma cidade, construindo um banco, uma loja de departamentos, igrejas, campos de golfe, um zoológico, um sistema de bondes — tudo já no início do século XX.

Em 1909, ele e sua esposa Catherine fundaram uma escola para meninos órfãos, hoje chamada Milton Hershey School. Atualmente, a escola privada atende crianças carentes de ambos os sexos.

Há mais de dez anos, a fabricante de goma de mascar Wm. Wrigley Jr. Co., agora uma unidade da gigante Mars, de capital fechado, tentou comprar a Hershey, mas a resistência do controlador a fez desistir do acordo.

A Procuradoria Geral da Pensilvânia está investigando o conselho da empresa por suspeita de pagamentos excessivos a seus membros e conflitos de interesses. Neste ano, vários membros do conselho pediram demissão ou foram demitidos e é possível que estas medidas possam mudar o posicionamento a atitude do conselho quanto a uma possível venda. Uma fonte diz que o Hershey Trust pode estar mais aberto a uma venda do que estava anteriormente. Ele afirmou que vem trabalhando junto com a procuradoria-geral na investigação.

Também não está claro qual seria a receptividade que qualquer acordo teria na cidade de Hershey, onde Kisses gigantes a aparecem sobre postes de iluminação pública, em avenidas batizadas com nomes como Chocolate e Cacau.

A Hershey registrou vendas de US$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre, valor 5,6% menor que um ano antes, em parte devido a movimentos cambiais adversos. No ano passado, a fabricante de doces obteve uma receita de US$ 7,4 bilhões e lucro de US$ 513 milhões. Atualmente, a empresa tem cerca de 80 marcas e recentemente vem buscando atrair consumidores preocupados em ter uma vida mais saudável.

As vendas da Mondelēz, sediada no Estado de Illinois, somaram US$ 29,6 bilhões em 2015, o que representou queda de 13% em relação ao ano anterior. O desempenho também se deveu em parte ao câmbio. No primeiro trimestre deste ano, a receita foi de US$ 6,5 bilhões, quase 17% menor em comparação a um ano antes, devido à pressão de sua unidade de café.

A Mondelēz, cujas marcas no Brasil incluem o chocolate Diamente Negro e o bombom Sonho de Valsa, é fruto de um desmembramento da Kraft Foods Inc., em 2012. A separação aconteceu dois anos depois de a Kraft ter comprado a firma britânica de chocolates Cadbury PLC por US$ 19 bilhões. Os ativos de chocolate ficaram com a Mondelēz na separação. Em 2015, a Kraft Foods se uniu à gigante do ketchup Heinz, controlada pela firma de private equity brasileira 3G Capital Partners.

(Por The Wall Street Journal) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM