Depois de um 2015 sofrível, o setor de franquias abriu 2016 com um crescimento real, quando já está descontada a inflação registrada, de 4,85%. O resultado, apesar de positivo, marca um início de ano menos próspero que o anterior, quando o desempenho do segmento registrou alta de 5,17%.

No retrospecto acumulado nos últimos 12 meses, sempre em termos reais, as redes que integram a base da Associação Brasileira de Franchising (ABF), responsável pelo levantamento, registraram receita 2,71% menor frente à mesma base de comparação anterior. Trata-se, dessa maneira, do pior resultado já capturado pela série histórica, que começou a ser computada pela entidade ainda em 2003.

As empresas fecharam o primeiro trimestre com crescimento nominal, sem descontar a inflação, de 7,6%, atingindo faturamento bruto de R$ 33,709 bilhões. Em número de unidades, houve alta de 2,9% em relação aos mesmos três primeiros meses de 2015. Ainda segundo a ABF, o número de unidades de franquias em operação chegou a 141.254 unidades. Além disso, 108 novas marcas ingressaram no franchising brasileiro neste primeiro trimestre, elevando o total de 3.073 apurado no ano passado para 3.181 redes em março de 2016. “Mesmo que de forma mais conservadora, notamos que as redes mantêm seus planos de expansão, buscando, inclusive, mercados menos explorados e pontos comerciais em melhores condições”, afirma o diretor de inteligência de mercado da ABF, Claudio Tieghi.

Dentre os segmentos que apresentaram maior crescimento no começo deste ano, destacam-se os de acessórios pessoais e calçados (15%), as redes que atuam na área de lavanderia, limpeza e conservação (15%), e serviços automotivos (13%). As marcas calçadistas, de acordo com Tieghi, foram favorecidas pelo verão mais intenso e prolongado do período, além de aproveitarem a manutenção da desvalorização do real frente ao dólar, fator que contribuiu para uma maior competitividade nacional frente aos produtos importados.

Já o segmento de lavanderia e limpeza, acredita o especialista da ABF, avançou como reflexo da nova legislação trabalhista para empregados domésticos que entrou em vigor no País. Isso encareceu a prestação de serviços para as famílias.

Marcas ‘baratas’ ampliam seu espaço

A recessão econômica brasileira não mexe apenas no bolso do consumidor. Ela também afeta o apetite dos investidores. No franchising, isso se observa no perfil de sua expansão. De cada dez novas franquias em 2015, seis (65%) foram negociadas por até R$ 100 mil. Na comparação com o ano de 2013, quando o comércio ainda surfava na onda do forte consumo, o índice registra alta de 17 pontos percentuais.

A principal responsável por isso é a microfranquia, modalidade em expansão e que agrupa oportunidades com preço de adesão de até R$ 80 mil. Encarada como uma categoria de entrada para quem quer começar um negócio, é também conhecida por registrar um cenário de forte concorrência, menor valor agregado e, consequentemente, um retorno financeiro mais baixo.

Para o mercado, um reflexo da demanda por oportunidades mais baratas é o surgimento de um grande volume de novas marcas. Isso tem criado um fenômeno tipicamente brasileiro: o ritmo de expansão de marcas proporcionalmente muito superior ao de novos franqueados. Enquanto o número de redes registrou salto de 46% nos últimos cinco anos, o volume de unidades comercializadas no mesmo período ficou em 27%.

Para o especialista Marcus Rizzo, dono da consultoria Rizzo Franchising, o investidor precisa redobrar a atenção para esse tipo de empreendimento. “Muitos franqueadores lançam uma enorme quantidade de novas franquias e marcas no mercado sem nenhuma consistência, experiência ou mesmo com unidades próprias que poderiam demonstrar o sucesso do conceito”, analisa.

Com uma taxa de mortalidade de 6% em 2015, o segmento ainda é considerado mais seguro para empreender. No entanto, Marcus Rizzo chama atenção para o risco de um tipo específico de franquias, chamadas por ele de “marca e produto”. Segundo ele, elas são responsáveis por 96% dos insucessos no setor. Nesses negócios, a participação do franqueado gira em torno da comercialização dos itens da marca-mãe. “Elas consideram a franquia canal de distribuição”, diz. “(É diferente) das franquias de negócio formatado, que nada vendem além do know-how e juntamente com franqueados vão ao mercado buscar os melhores insumos.”

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM