Em janeiro, o empresário Marcelo Doria precisou tomar uma decisão que protelava há meses: demitiu 12 dos 92 funcionários do Depósito da Lingerie
, negócio que mantém há 18 anos. A crise fez com que a empresa não crescesse em 2015. Por isso, diz Doria, a redução de pessoal foi inevitável.
O movimento de fechamento de postos de trabalho atingiu em cheio o varejo no início do ano. Os micro e pequenos empresários do comércio fecharam 34,4 mil postos de trabalho em janeiro. O setor liderou as demissões no mês.
O resultado, considerando microempreendedores de todos os setores, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foi de uma redução de 45% na geração de empregos, em relação a janeiro de 2015. Ao todo, foram geradas 11,6 mil vagas no mês.
A crise começou a chegar às empresas de pequeno porte no segundo semestre do ano passado. O movimento de demissões foi sentido a partir de agosto e não foi interrompido nem no fim de 2015. Em dezembro, as micro e pequenas empresas demitiram 297,6 mil funcionários. Os dados fazem parte de um levantamento do Sebrae Nacional, com base em informações do Ministério do Trabalho.
Quem vive a retração do mercado na pele não acredita que o movimento de corte de mão de obra tenha acabado. No Depósito da Lingerie, Doria afirma que a queda nas vendas é “generalizada”. Ele não trabalha mais com a hipótese de que a empresa vá se recuperar até o fim deste ano. “Não estamos preparados para suportar (a crise). O cenário é desfavorável em todos os sentidos.”
Em meio à crise e à falta de perspectivas, o empresário enfrenta outro desafio: manter a equipe motivada. Para discutir a situação atual, Doria promove reuniões semanais com toda a equipe. Nos encontros, ele faz até apresentações em power point em que explica o cenário social, político e econômico do Brasil aos trabalhadores.
Dificuldades. A falta de otimismo do pequeno empresário neste momento é explicado pelo fato de a maior parte das companhias de pequeno porte não ter fôlego financeiro para compensar a queda nas vendas.
“Há uma defasagem em relação às grandes empresas, porque as MPEs dependem muito da demanda – e a demanda resistiu no primeiro momento da crise”, explica Rosa Maria Marques, especialista em Economia do Trabalho e professora da PUC-SP. “A queda (na geração de empregos) não é de se estranhar, está acompanhando a economia.”
O presidente do Sebrae Nacional, Guilherme Afif Domingos, diz que as demissões nas micro e pequenas empresas acontecem como “última opção” de corte por parte do empreendedor. “O custo da demissão é muito alto para essas empresas. Elas reduzem margem, desfazem sociedades, tudo antes de demitir”, explica Afif.
(Por Estadão) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM