Não existe, provavelmente, um segmento do varejo brasileiro tão diversificado quanto o do chamado fast fashion, lojas de roupa e acessórios com preços tão atraentes quanto o visual de suas coleções. Riachuelo, Renner, C&A, Zara, Marisa, Forever 21. Sobram opções para os consumidores. Apesar do ambiente de forte concorrência, a rede australiana Cotton On – no mercado local há pouco menos de dois anos, com cinco lojas em São Paulo – consegue enxergar espaço para multiplicar por dez sua operação no País e se tornar uma espécie de pedra no sapato das rivais.

Com um faturamento global de US$ 1,5 bilhão, a companhia planeja chegar a 2019 com 50 unidades em todas as regiões do País. Para isso, a rede sabe que terá que se tornar mais popular para seduzir parte da clientela que hoje frequenta a concorrência. “Queremos estar mais próximos dos consumidores brasileiros e que eles desejem a nossa marca”, diz a sérvia Marina Berber, diretora-geral da subsidiária da Cotton On. “O Brasil é peça-chave no nosso plano de expansão global.”

A varejista nasceu com o fundador Nigel Austin vendendo camisas jeans tingidas em um carro e atualmente conta com mais de 1,3 mil lojas espalhadas pelo mundo. Apesar de ser ainda desconhecida por aqui, é vista como a queridinha dos australianos. Lá, com o equivalente a US$ 10, por exemplo, é possível sair com uma camiseta de boa costura ou até mesmo um vestido para a balada. No Brasil, não é muito diferente. A rede oferece peças a partir de R$ 20. “As roupas que estão aqui são as mesmas que temos na Austrália”, diz Marina.

“E temos percebido que o gosto do brasileiro é muito similar ao dos australianos.” É nessa sintonia entre os dois países no campo da moda que a Cotton On aposta para conquistar os consumidores locais, principalmente jovens estudantes. A maior nação da Oceania é o quarto destino preferidos dos intercambistas brasileiros, atrás somente de Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, segundo a Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta). Em 2014, o embarque de estudantes para lá aumentou 22% em comparação ao ano anterior, de acordo com o Ministério do Turismo australiano.

O plano de aumentar dez vezes de tamanho até 2019 pode parecer ambicioso, ainda mais diante da crise econômica que atinge o Brasil, mas o crescimento da Cotton On no país ainda é tímido em comparação ao registrado em outros mercados. Na África do Sul, por exemplo, a rede superou a marca de 100 lojas três anos após a estreia, em 2011. Atualmente, a empresa possui cerca de 150 lojas na terra de Nelson Mandela. “São países diferentes, mas esse contraste não diminuiu nosso otimismo no Brasil”, diz Marina. A executiva, aliás, planeja se aproveitar da crise para intensificar o plano de expansão.

Há muitos pontos comerciais disponíveis. “Estamos de olho em oportunidades para inaugurar novas lojas”, afirma. “Ao identificarmos um bom espaço, vamos abrir.” A empresa não divulga valores de investimento no Brasil, mas especialistas estimam que, entre o dinheiro gasto para a preparação do ponto até a manutenção do primeiro estoque, cada loja deve receber um aporte de R$ 3 milhões, sem contar a negociação com o shopping center pelo espaço. “No entanto, eles poderão usar o momento de baixa do comércio para negociar”, afirma Haroldo Monteiro, coordenador da pós-graduação em gestão estratégica no varejo do IBMEC-RJ. “Se eles estiverem com dinheiro em caixa, podem economizar um bom dinheiro.”

As próximas cidades a receberem a Cotton On devem ser Florianópolis e Rio de Janeiro. Apesar do crescimento inicial dentro de shoppings, a varejista australiana tem planos de abrir megaojas nas ruas do Brasil. A ideia é popularizar também suas outras marcas nesses espaços maiores, como a infantil Cotton On Kids e a Body, de roupas íntimas. Produzir localmente também está em pauta. Atualmente, 100% dos produtos são importados da China e de Bangladesh. “Acreditamos tanto no Brasil a ponto de não descartarmos nenhuma situação”, diz Marina.

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM