A Black Friday, tradicional data de descontos no exterior que ganhou espaço no Brasil nos últimos anos, deixou de ser exclusiva do varejo e chegou ao setor de serviços: de salões de beleza a restaurantes, incluindo bancos e aplicativos. Com a recessão, o comércio aproveitou a data para diminuir estoques que vem se acumulando com a queda de 3.3% nas vendas este ano.

A Black Friday movimentou, até as 18h desta sexta-feira, R$ 929 milhões. O valor é superior em 6,5% ao faturamento do ano passado, de R$ 872 milhões. Os dados são da ClearSale, especializada em soluções antifraude para transações comerciais, em parceria com o Busca Descontos, organizador da BlackFriday.com.br.

— O comércio está fazendo de tudo para salvar sua pele em um ano tão difícil. A Black Friday tem um apelo muito grande para os bens duráveis, mais caros. Nesse setor, a percepção de que os estoques estão acima do ideal é de 35,6%. Mas o ano está tão fraco que todo o varejo está pegando carona na Black Friday. É uma tentativa desesperada. Teve até cenoura na Black Friday – afirma Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Os shoppings abriram mais cedo e, desde o início da tarde, era difícil conseguir vagas nos estacionamentos dos centros comerciais. As lojas mais procuradas eram as de produtos eletrônicos e de departamentos.

O morador da Ilha de Paquetá Wanderlei Barcelos pegou a barca das 7h para ir a uma loja de eletrônicos no Centro do Rio, onde comprou uma SmartTV de 48 polegadas:

— Fiz um bom negócio. Normalmente, custa R$ 2.400, mas paguei cerca de R$ 1.800.

QUEDA DE 3,3%

Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, indicam que as vendas do varejo acumularam queda de 3,3% de janeiro a setembro. Nos últimos 12 meses, o recuo foi de 2,1%. As vendas caem desde fevereiro.

— As empresas estão usando o mote da campanha para reduzir estoques e estimular as vendas em um momento em que o consumidor está cauteloso e o consumo das famílias caiu — explica o economista da Tendências Consultoria Rodrigo Baggi.

Pesquisa da CNC mostra que 30,7% das empresas consideram que os estoque estão acima do desejado. Essa é a maior taxa desde março de 2011, quando a pesquisa foi iniciada.

Para o professor do Núcleo de Estudos e Negócios do Varejo da ESPM Roberto Nascimento, este é o primeiro ano em que o mercado brasileiro aderiu de forma real à Black Friday, com condições efetivas de descontos:

— O primeiro motivo é que há um entendimento melhor da promoção e não há espaço para enganações. O segundo é que o mercado precisa vender por causa da crise. Há um excesso de estoques e o momento é de tentar desovar esses estoques para tentar minimizar o prejuízo, mesmo que isso signifique uma margem de lucro menor ou até mesmo negativa.

Ainda que as vendas da Black Friday ajudem a dar algum ânimo para o varejo, estão longe de evitar o pior ano para o comércio desde 2003, quando as vendas caíram 3,7%. A previsão do mercado é de queda de até 4% do varejo. Para a consultoria Tendências, nem mesmo 2016 vai escapar de nova queda do varejo. Para Bentes, as vendas natalinas devem cair 5% em relação ao ano passado.

GASTO MÉDIO

De acordo com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), o gasto médio chegou a R$ 515,70. As categorias mais vendidas foram eletrodomésticos, celulares, eletrônicos, informática e móveis.

Marcelo Coelho, vice-presidente de finanças e controle da camara-e.net, reconhece que o varejo eletrônico entrou na Black Friday com os estoques elevados. O lado bom disso é a oferta de descontos mais expressivos.

— Ainda não são descontos americanos, mas são descontos reais frente a semanas anteriores.

Neste ano, o grande diferencial foi a participação de restaurantes e aplicativos de diferentes tipos de serviços.

— Começamos em 2010, com 50 lojas participantes. Em 2011, foram vendidos R$ 100 milhões. Este ano, as vendas devem superar R$ 1 bilhão. O e-commerce está na contramão da crise. Em 2014, faturou R$ 35,8 bilhões. Este ano, devem ser R$ 41 bilhões.

A expansão da Black Friday para além do varejo incluiu produtos e serviços até então ausentes das promoções. O banco Santander, por exemplo, ofereceu desconto na taxa de juros para renegociar dívidas. Uma loja de equipamentos médicos colocou, pela primeira vez, produtos – como os da linha de eletroterapia – com descontos, enquanto uma rede de salão de beleza oferece 50% de desconto no corte para atrair novos clientes.

(Por O Globo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM