A Alpargatas, que produz os chinelos Havaianas, deve ser vendida pela sua controladora Camargo Corrêa por R$ 2,67 bilhões à J&F Investimentos. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (23) pela empresa.
O valor representa preço por ação de R$ 12,85, segundo o comunicado, ante preço de fechamento de R$ 9,73 da ação da Alpargatas na quinta-feira.
O preço será pago à vista na data do fechamento da operação, informou a Alpargatas, que também fabrica as marcas Mizuno, Timberland e Osklen e é a maior empresa de calçados da América Latina.
O negócio ainda precisa ser aprovado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
A J&F, que controla a maior processadora de carnes do mundo, JBS, está comprando 161.846.378 ações ordinárias e 45.729.086 preferenciais da Alpargatas, representando 66,99% e 19,98% dessas classes de papéis, respectivamente. O negócio envolve 44,12% do capital total da empresa de moda.
No comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a J&F afirma que o objetivo da aquisição da Alpargatas é diversificar o portfólio de negócios da empresa, que passa agora a abarcar o mercado de moda e vestuário.
A operação está condicionada ao lançamento de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição de ações) da Alpargatas pela J&F, que disse não ter intenção no momento de cancelar o registro de companhia aberta da empresa de moda no prazo de um ano —ou seja, a empresa continuará tendo parte de suas ações negociadas na Bolsa.
Às 11h00, as ações com direito a voto da Alpargatas subiam perto de 4% na Bovespa, para R$ 10,36, com o preço se alinhando ao valor estimado a ser pago aos acionistas minoritários na OPA.
Já as ações preferenciais da companhia, que não serão alvo de OPA, recuavam quase 6%, cotadas a R$ 9,16. Essa classe de papéis acumulou valorização de quase 45% desde que a Camargo Corrêa anunciou, no começo de outubro, que analisava alternativas para seu investimento na Alpargatas.
No início do mês, a Alpargatas (3) havia anunciado a venda de suas marcas Topper e Rainha por R$ 48,7 milhões para o Sforza, grupo de investidores liderado pelo empresário Carlos Wizard Martins. O negócio não incluiu ativos industriais.
Wizard é conhecido por ter fundado a rede de idiomas de mesmo nome em 1987 e vendido a companhia, que incluía bandeiras como Yázigi e Skill, para a britânica Pearson em 2013 por R$ 2 bilhões.
CAMARGO CORRÊA
Com faturamento previsto em R$ 27,6 bilhões neste ano, o Grupo Camargo Corrêa é uma das principais empresas atingidas pela Operação Lava Jato, e dono da única das grandes empreiteiras a admitir participação nos esquemas de cartel e propina na Petrobras e no setor elétrico.
Em agosto, a empreiteira assinou acordo de leniência com o Ministério Público Federal em que reconhece crimes como cartel, fraude à licitação, corrupção e lavagem de dinheiro, se comprometendo a devolver R$ 700 milhões.
Além da venda da Alpargatas, em cujo capital tem participação desde 1982, a empresa também busca no mercado um sócio para a InterCement, cimenteira que é o principal negócio do grupo.
Em entrevista publicada pela Folhana última quarta-feira, o presidente da Camargo Corrêa, Vitor Hallack, afirmou que a dívida líquida gerencial da empresa é de R$ 24 bilhões, e a de curto prazo, de R$ 2 bilhões.
Ao falar da dívida, ele destacou os R$ 9 bilhões gastos anteriormente na compra da cimenteira portuguesa Cimpor.
“Isso aumentou o endividamento, que esperávamos equacionar com desinvestimento [venda de ativos], dívida e a geração de caixa dos próprios negócios. Mas, com a retração econômica, nossas previsões não se confirmaram e a isso se somou o aumento dos juros (…) Como somos um grupo financeiramente conservador, podemos lidar com o endividamento vendendo ativos ou alongando dívidas”, afirmou.
RAIO-X
Alpargatas/2015
Receita líquida no 1º semestre R$ 1,946 bilhão
Ebitda R$ 263,7 milhões
Número de funcionários 18,6 mil
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J&F Investimentos
Negócios JBS, Vigor, Flora, Eldorado Brasil, Banco Original, Canal Rural, Oklahoma, Floresta Agropecuária, Alpargatas (à espera de aprovação pelo Cade)
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Grupo Camargo Corrêa/2015
Faturamento previsto R$ 27,6 bilhões
Ebitda R$ 4,5 bilhões
Dívida líquida R$ 24 bilhões
Principais concorrentes Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS
(Por Folha de S.Paulo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM