O varejo brasileiro possui forte sotaque francês. O Casino, fundado em 1892 em Saint-Étienne, adquiriu uma participação de 24,5% do Grupo Pão de Açúcar (GPA) em 1999 e em 2012 assumiu o controle isolado da maior rede varejista do país, que hoje soma 2.100 unidades entre supermercados, hipermercados, atacados e as lojas de eletrodomésticos e eletrônicos da Via Varejo – Pontofrio e Casas Bahia. O Carrefour, que tem sede em Boulogne-Billancourt, desembarcou no Brasil em 1975 e é a segunda maior rede de supermercados e hipermercados, além de ter negócios de postos de combustíveis e drogarias. No total, são 489 unidades no país.

Ana Paula Tozzi, CEO da GS&AGR Consultores, diz que as duas companhias assumiram o protagonismo do varejo brasileiro em consequência de atuações pautadas pela inovação. “São empresas que, ao chegarem ao país, impulsionaram o varejo local e continuam a fazê-lo, com inovações que vão de novos produtos e serviços a um supply chain global”, diz.

O primeiro hipermercado brasileiro foi aberto em 1975, na Marginal Pinheiros, em São Paulo, e o segundo na Barra da Tijuca, no Rio, no ano seguinte. Ambos com a bandeira Carrefour. A rede foi responsável pela introdução de novas categorias nos mercados, como food service, jardinagem e os primeiros centros automotivos nas lojas, realizando serviços de troca de óleo e de pneus, alinhamento e balanceamento e abastecimento de combustíveis. Foi também o primeiro a lançar produtos de marca própria em 1989, linha que reúne hoje mais de oito mil itens.

Dez anos depois, em 1999, a rede lançou os produtos com um selo de garantia de origem, para atestar a procedência dos alimentos comercializados.

Charles Desmartis, CEO do Grupo Carrefour no Brasil, diz que as inovações mais recentes datam de 2014, com os novos formatos de lojas de proximidade, o Carrefour Express, que já soma 13 unidades, e o Supeco, um atacarejo de formato compacto, com uma loja em Sorocaba (SP).

O Carrefour também está renovando seus hipermercados, com o modelo denominado nova geração, que amplia o mix de produtos em mais de quatro mil itens, com maior oferta de alimentos frescos e itens premium em lojas com corredores mais amplos e iluminados e vendedores especializados em cada área. Hoje são 33 lojas no novo formato e a meta é chegar a 60 no próximo ano. “Em 2016 vamos relançar nossa operação de e-commerce no país”, diz o executivo.

Desmartis diz que inovações brasileiras também foram levadas para outras subsidiárias do grupo. A bandeira Atacadão, adquirida pelo Carrefour em 2007, serviu de inspiração para o Carrefour introduzir o sistema de atacarejo para a Espanha, Marrocos e Argentina a partir de 2009.

Com uma receita bruta de R$ 37,9 bilhões em 2014, a subsidiária brasileira só fica atrás da França entre as 30 operações do grupo no mundo. No ano passado, a companhia brasileira de investimentos Península, do empresário Abilio Diniz, ex-dono do concorrente GPA, passou a ter participação – atualmente de 10% – no controle da subsidiária brasileira do Carrefour.

A operação latino-americana do Casino também passou por uma reestruturação societária, com impacto no Brasil. Em agosto, o grupo colombiano Éxito, controlado pelo Casino, assumiu 50% das ações da GPA e 100% da rede argentina Libertad. Ronaldo Iabrudi, diretor presidente do GPA, diz que a consultoria Accenture foi contratada para auxiliar em um processo de captura de sinergias entre os negócios dos três países nos próximos quatro anos. “Entre as oportunidades mapeadas, estão o desenvolvimento do comércio eletrônico da Cnova, o modelo de atacado e os produtos de marca própria”, diz.

Cnova é a unidade de e-commerce do grupo, com atuação no Brasil, na França e em outros nove países. Uma das inovações do Casino no país foi a introdução do sistema Click&Collect da Cnova, um sistema que permite que a compra seja realizada via web e retirada nas lojas físicas. Hoje são 1250 pontos de retiradas. Em 2014, o GPA obteve uma receita bruta de R$ 72,8 bilhões. O investimento orçado para 2015 é de até R$ 1,8 bilhão.

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM