Deputados querem explicação sobre possível participação do BNDES na união entre as redes

Uma verdadeira guerra política pode explodir com a participação do governo na negociação envolvendo a compra dos ativos do Carrefour no Brasil pelo grupo Pão de Açúcar. Indignados com a possível utilização de dinheiro público na iniciativa privada, a oposição vai convocar o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutirem como será a participação federal na nova empresa. O requerimento deve ser votado na próxima sessão da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, prevista para ocorrer terça-feira.

Na esfera privada, a batalha também será extensa, segundo a opinião do mercado. Analistas acreditam que mesmo se o empresário Abílio Diniz convencer os sócios do Casino – principal rival do Carrefour na França – a aceitarem a nova parceria, a concretização do acordo só deve ocorrer após um processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A complexidade é tamanha que o caso poderá se igualar ao da Brasil Foods, criada após a união da Sadia com a Perdigão, arrastando-se por anos.

“A operação pode até ser aprovada pelo Cade, mas terá fortes restrições, como venda de ativos ou eventualmente o repasse de uma das marcas”, afirmou o ex-presidente do órgão antitruste e presidente da Latin Link Consultoria, Ruy Coutinho. “Haverá disputas na Justiça, antes mesmo de o Cade se posicionar. A rede Casino não vai perder o direito de assumir o controle da empresa de maneira tão fácil”, acrescentou. Sem a operação, a rede francesa poderia indicar um nome para o comando do grupo Pão de Açúcar em 2012. O Novo Pão de Açúcar (NPA) representará 27% do mercado varejista no país, segundo as empresas. Alguns analistas acreditam que esse número pode chegar a 32%.

Mas há quem defenda a fusão como benéfica para o país. “Irá consolidar a participação do Brasil no varejo mundial e ser uma empresa forte em nível global”, disse o coordenador do núcleo de estudos do varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Ricardo Pastore. Representantes da Força Sindical e da Federação dos Empregados do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomerciários-SP) divulgaram um comunicado demonstrando preocupação com possíveis demissões em massa. Abílio Diniz, por sua vez, defendeu a operação afirmando que ela manterá a força da companhia. “Nossa meta é sempre crescer, vamos continuar assim. Atualmente, temos 150 mil empregados, todos com carteira assinada e benefícios. Eles serão mantidos”, garantiu.

Ações

As ações do Pão de Açúcar bateram ontem recorde de movimentação na Bovespa. O volume de papéis negociado chegou a R$ 1,6 bilhão, ou 26,01% do total movimentado na bolsa brasileira. Ontem, as ações preferenciais (sem direito a voto) da empresa voltaram a subir mais de 12%, mas encerram o pregão em queda de 3,07%, a R$ 71.

Vendas em queda

As vendas do setor supermercadista mineiro caíram 8,30% em maio na comparação com abril. Frente ao mesmo mês do ano passado, a retração foi de 5,19%, segundo dados da Associação Mineira de Supermercados (Amis). No acumulado de 2011, o saldo é negativo em 0,89%. O principal motivo para o resultado, segundo a Amis, foram as medidas adotadas pelo governo para combater a inflação.

Por Fábio Monteiro – Estado de Minas 30-06-2011