Maria das Graças trocou a marca tradicional da farinha de trigo, do óleo e do macarrão por uma mais em conta. Mas manteve no carrinho de compras o sabonete mais caro e “o melhor” presunto.
José Roberto Fernandes substituiu o creme dental, o papel-toalha e o azeite, antes escolhidos entre as marcas “mais famosas”, por uma lançada pelo supermercado de que é cliente. Diz que a economia feita nesses itens possibilita manter a compra de uma sobremesa, por exemplo.
Nilza Lima optou pelo detergente, pela cândida e pelo leite mais baratos da prateleira para não ter de economizar na escolha da carne que servirá à família.
Maria, José Roberto e Nilza fazem parte dos 28% de brasileiros que escolhem poupar em produtos básicos para não abrir mão daqueles que entraram em sua cesta de consumo nos últimos anos.
São clientes chamados de “econômicos extravagantes”, na tradução da expressão inglesa “slave & splurge”, que marcou o comportamento do consumidor europeu durante a crise econômica mundial em 2009 e ganha força nos demais continentes.
“É uma tendência que vem sendo observada no mundo todo e agora, com a piora da economia, amplia-se entre os brasileiros, independentemente de sua faixa da renda e da região em que habitam”, diz Adriano Araújo, diretor-geral da dunnhumby no Brasil, empresa especializada em ciência do consumidor.
“Ao contrário do que se pensa, o consumidor não corta os pequenos luxos nem os produtos especiais. Ele corta nos básicos”, completa.
Para mapear esse comportamento, a empresa analisou durante os últimos três meses os hábitos de 22 milhões de brasileiros desde 2013: o que compraram, com que frequência e o que gastaram. Os dados são estudados e cruzados com indicadores do país, como renda per capita, desemprego e PIB do Brasil.
EM EXPANSÃO
Não é à toa que as redes de supermercado ampliam as ofertas de produtos de suas marcas próprias ou exclusivas. São mercadorias que hoje disputam espaço nas gôndolas com as marcas líderes dos principais fabricantes, saíram do cantinho de baixo da prateleira para ficar à altura dos olhos dos consumidores e ganharam espaços de destaque nos corredores.
Na rede Extra, por exemplo, os cem produtos mais vendidos (entre os 1.500 existentes) da Qualitá, marca de alimentos do grupo, tiveram crescimento de vendas acima de 10% entre janeiro e abril ante igual período de 2014.
“O consumidor está atrás do melhor custo-benefício. Se somadas todas as marcas exclusivas oferecidas no Extra e no Pão de Açúcar, elas já respondem por 11% das vendas”, diz Eduardo Finelli, gerente de marcas exclusivas do GPA. Há cerca de cinco anos, esse percentual girava em torno de 5,5% a 6%. Em produtos como leite, café, salgadinhos e itens de higiene pessoal, o crescimento das marcas próprias passa dos 20%.
SÍMBOLO
A tendência de trocar a marca líder de um produto por outra que pertence a uma da rede varejista chegou até o principal símbolo da estabilização monetária do Real: o iogurte. No GPA, as marcas da rede já vendem 10% mais.
A variação de preço entre uma marca própria e a principal (5% a 30% mais barata dependendo do produto) é um dos atrativos que também pesam na escolha do consumidor, principalmente com o aumento da inflação, avalia Gerard Antonius Eysink, diretor de marca própria do Walmart Brasil.
É entre os consumidores do Nordeste que as marcas próprias da varejista avançam com mais força. Em seguida, estão clientes das regiões Sudeste e Sul do país.
Sem detalhar percentuais, o Carrefour informa também ter verificado aumento na venda de sua marca própria na comparação com 2014.
(Por Folha de S.Paulo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM