Os brasileiros que antes iam a Miami comprar bolsas Louis Vuitton e vestidosChanel estão gastando seu dinheiro desvalorizado em casa, o que representa um ganho para a operadora de shoppings de luxo Iguatemi Empresa de Shopping Centers SA.

“Essa receita agora está ficando aqui e isso ajuda”, disse o CEO Carlos Jereissati.

Os brasileiros gastaram US$ 1,41 bilhão no exterior em maio, um terço a menos do que no mesmo mês no ano anterior, pois as viagens diminuíram devido à desvalorização de 42 por cento do real frente ao dólar nesses 12 meses.

Para aproveitar, os investidores estão convergindo para a Iguatemi, que tem sede em São Paulo, provocando um aumento de 9,6 por cento nas ações nos últimos 12 meses – enquanto que o Ibovespa caiu 0,3 por cento –, pois sabem que os brasileiros ricos continuam querendo produtos Gucci e Cartier.

“A Iguatemi foi ajudada pela moeda porque a empresa tem shoppings de alta renda”, disse Marcelo Motta, analista do JP Morgan Chase Co., em uma entrevista por telefone, de São Paulo.

Os brasileiros estão viajando menos ao exterior e as compras que antes poderiam ter sido feitas em um passeio consumista por Nova York são realizadas no Brasil, disse Motta.

Localmente, os brasileiros têm o benefício adicional de poder pagar em parcelas e de que as contas dos cartões de crédito não estão sujeitas à volatilidade cambial.

A empresa de Jereissati administra dois dos shoppings mais exclusivos de São Paulo, a cidade com o PIB mais alto do Brasil.

A projeção é de que o aumento anual da receita da Iguatemi em 2015 e em 2016 seja maior do que o de rivais como Multiplan Empreendimentos Imobiliários SA, BR Malls Participações SA e Aliansce Shopping Centers SA, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Contraste acionário

Dessas quatro empresas, a Iguatemi foi a única cujas ações avançaram nos últimos 12 meses. A Multiplan, a maior administradora de shoppings do Brasil, perdeu 7,5 por cento durante esse período, a BR Malls, a segunda maior, caiu 23 por cento, e a Aliansce, a quarta colocada, recuou 19 por cento.

“O cambio não está ajudando todo mundo”, disse Motta.

Embora a Multiplan tenha shoppings de luxo, alguns deles estão localizados no Rio de Janeiro, região que sofreu muito com a queda dos preços do combustível e com o escândalo de corrupção da Petrobras.

A BR Malls e a Aliansce têm shoppings espalhados por todo o país, cujo alvo são consumidores de menor renda, que foram prejudicados pela desaceleração da economia brasileira.

O maior país da América Latina está caminhando para a pior recessão em 25 anos e o governo está cortando os gastos e aumentando as taxas de juros para conter a inflação.

Comida e diversão

Os shoppings tendem a ter um desempenho melhor do que as lojas independentes quando a economia está enfrentando dificuldades, pois além de roupas e produtos eletrônicos, eles oferecem restaurantes e instalações de lazer, de acordo com Eduardo Prado, gerente de relações com investidores da Aliansce.

“Os shoppings podem atrair o consumidor que não vai mais viajar para o exterior”, disse Prado em uma entrevista por telefone, do Rio de Janeiro.

Os restaurantes, cinemas e outros inquilinos de serviços da Iguatemi ajudam a reforçar os resultados, de acordo com a diretora financeira Cristina Betts.

“As pessoas ficam e acabam fazendo tudo aqui – elas vão ao cinema, comem nos restaurantes”, disse Betts.

A Multiplan, que também é uma incorporadora imobiliária, disse em resposta enviada por e-mail que a receita de seus shoppings aumentou 18 por cento no primeiro semestre de 2015, em comparação com 2014. A BR Malls não quis comentar.

A Iguatemi espera que as vendas comparáveis do segundo trimestre avancem cerca de 7 por cento, como nos três primeiros meses do ano, de acordo com Betts.

Ela reiterou a projeção de crescimento da receita da empresa, de até 15 por cento, e a margem de lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização de até 79 por cento para 2015.

Jereissati poderia aproveitar a relativa força da Iguatemi para ampliar as participações da companhia nos shoppings. Ela geralmente é dona de cerca de dois terços de seus projetos e poderia tentar adquirir a fatia dos parceiros, disse ele.

“Sempre há negociações e momentos assim são obviamente mais propícios”, disse Jereissati.

(Por Exame) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM